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UGT Press 463: Brasil e América Latina


20/08/2015

AGÊNCIAS DE RISCO: o Brasil tem um saldo positivo no relacionamento com a agência de classificação de risco Standard & Poors (S&P). Ela foi a primeira agência a reconhecer, em 2010, o grau de investimento do Brasil que propiciou maior tranquilidade para os investidores. Em 28 de junho, a S&P anunciou a mudança de patamar do Brasil de "estável" para "negativa". Não foi uma mudança na nota, mas nas perspectivas de nossa economia. Isso significa que, dentro de um prazo entre doze e dezoito meses, a nota do Brasil poderá cair para patamares inferiores ao chamado "grau de investimento". Tais boatos também aconteceram previamente ao período eleitoral, mas, talvez exatamente pelas eleições, nada mudou. Apesar da perspectiva negativa, em teleconferência, Lisa Schineller, analista da S&P, afirmou; "Mantemos a crença de que a correção de políticas econômicas vai continuar no Brasil" (Estadão, 29/07). Há ainda visão positiva sobre o trabalho de Joaquim Levy, mas o ministro sabe que, se aprofundarem as divergências entre Executivo e Legislativo, o ajuste fiscal ficará comprometido (e o grau de investimento também).

 

MOODYS TAMBÉM: na semana seguinte ao anúncio da S&P, também a agência de classificação de ricos Moodys rebaixou o rating soberano do Brasil de "Baa2" para "Baa3", último degrau na faixa considerada como grau de investimento. Também alterou de nota "negativa" para "estável". Tanto numa agência quanto na outra, os rebaixamentos são vistos como perda de confiança na economia. O Brasil, nos dois casos, ganhou tempo para tentar evitar a perda do selo de bom pagador (veja nota abaixo). Ao rebaixar a nota, a Moodys, declarou: "O desempenho econômico mais fraco do que o esperado, a tendência ascendente das despesas do governo e a falta de consenso político sobre as reformas fiscais impedirão as autoridades de atingir superávits primários elevados o suficiente para conter e reverter a tendência de aumento da dívida este ano e no próximo, e desafiar a sua capacidade de fazê-lo depois".

 

BOM PAGADOR: o Brasil possui o selo de bom pagador junto à Standard & Poors, Fich e Moodys. Nessas três agências de classificação de risco, o Brasil está a dois degraus acima do "grau especulativo". Segundo analistas, os grandes investidores internacionais consideram bom aplicar onde, em pelo menos duas das três agências, haja a confirmação de bom pagador. Segundo Alberto Ramos, economista do Goldman Sachs, a mudança era esperada, mas a rapidez da S&P surpreendeu o mercado: "Veio antes do que imaginávamos. Não é, porém, totalmente uma surpresa diante da deterioração do cenário fiscal e de crescimento" (Folha, 29/07). "A expectativa era de que ocorresse daqui a alguns meses", afirmou Luciano Restagno, na mesma reportagem. Para alguns mais pessimistas, o Brasil na prática já está em grau especulativo e o movimento de saída de capitais já começou.

 

TAMANHO DA ECONOMIA: as especulações sobre a redução do tamanho da economia brasileira já estão em curso, motivadas pela redução da expectativa de crescimento (em outras palavras, recessão) e pela alta do dólar (leia-se desvalorização do real). Em 2014, o Brasil chegou a ser considerado o sétimo país em termos de Produto Interno Bruto (PIB).  Em 2015, provavelmente, o Brasil ainda estará entre as dez maiores economias do mundo, mas em nono lugar, com PIB de pouco mais de 1,8 trilhão de dólares. A estimativa é do serviço Broadcast do jornal "O Estado de São Paulo". Ele se baseou no pior cenário. Pela estimativa, o Brasil ficará atrás, pela ordem, de Estados Unidos, China, Japão, Alemanha, Reino Unido,França, Índia e Itália.

 

AMÉRICA LATINA: com as baixas perspectivas de crescimento em diversas economias da região, a Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e Caribe) fez previsão nada confortável, estimando o crescimento da América Latina em apenas meio por cento neste ano. Os países que puxam o PIB da região para baixo são, pela ordem, Venezuela (-5,5%) e Brasil (-1,49%). Outros crescem pouco, casos de Argentina (0,7%) e México (2,4%). A economia campeã da região deverá ser o Panamá (6%). Os motivos para este desempenho ruim da região continuam os mesmos: redução do crescimento chinês, ausência de recuperação firme na União Européia e Japão, a indefinição de curto prazo na economia americana e, claro, a performance brasileira, afetando os seus vizinhos.

 

JOÃO SAYAD: "Fomos colocados em viés de baixa. Quer dizer, o pesadelo está ficando mais real", disse o ex-ministro do Planejamento, João Sayad, em entrevista ao Estadão (30/07). Ele também debita as baixas perspectivas da economia brasileira à incapacidade da área política em organizar uma saída consensual: "O pessimismo é principalmente político. Temos um País sem lideranças, nem na oposição, nem na situação ... Um líder, um partido, um conjunto de pessoas, que consiga reunir apoio suficiente para um plano de governo e uma solução política dentro do Congresso, não vejo isso agora, nem no PT, nem no PSDB, nem no PMDB" (idem, idem). As previsões do professor Sayad são extremamente realistas e ele só vê possibilidade de crescimento a partir de 2018.




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