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UGT Press 333: Crimes demográficos


25/02/2013

CRIMES DEMOGRÁFICOS: é no mínimo estranho falar em crime demográfico", mas é isso mesmo que se denota dos últimos acontecimentos na Índia, onde os estupros têm sido frequentes. De repercussão mundial, no dia 16 de dezembro, quando vários jovens estupraram uma jovem no interior de um ônibus urbano, o crime (ela veio a falecer depois) provocou uma onda de protestos. Depois disso, outros crimes semelhantes aconteceram. Não é só na Índia que isso ocorre: na China também. Os dois países juntos têm mais de um terço da população mundial e predominantemente masculina. Têm também semelhanças bastante parecidas em termos de proporcionalidade entre os sexos. Calcula-se que cada um deles, tenha um excesso de mais de 30 milhões de homens.

GALHOS NUS: a Índia e a China "estão sentados em barris de pólvora causados pela multiplicação do que os chineses chamam de "galhos nus (guang gun)", ou homens incapazes de encontrar alguém para casar em razão da escassez de mulheres, causada por uma proporção entre sexos anormalmente alta (relação quantitativa entre homens e mulheres), o que, por sua vez é o produto da tradicional preferência por homens nessas sociedades. Os "galhos nus" são assim chamados porque não contribuem para a árvore genealógica da família", escreveu Debasish Roy Chowdrury, no South China Morning Post, em artigo republicado pelo Estadão, em 10 de fevereiro.

NÚMEROS IMPRESSIONANTES: normalmente, na Índia, para cada 100 meninas nascem de 109 a 120 meninos, dependendo da região. Na China a desproporção é maior, sendo de 120 a 140 meninos para cada 100 meninas nascidas. As estatísticas variam conforme a região, prevalecendo números mais assustadores nas províncias mais pobres ou mais atrasadas. A professora Valerie Hudson, da Universidade A&M do Texas, coautora de um trabalho sobre os "galhos nus", diz que "durante anos, pesquisadores notaram que o crime violento contra mulheres aumenta quando a proporção entre os sexos se torna mais masculina". O demógrafo chinês Jiang Quanbao, do Instituto de Estudos de População e Desenvolvimento da Universidade Xian Jiaotong, fala de forma semelhante: "O estupro em Nova Délhi pode ser associado aos sistemas social, cultural, legal e judicial. Mas uma questão negligenciada pode ser a proporção distorcida entre sexos".

MAIS DADOS: estima-se que 24,2 mil estupros tenham ocorrido na Índia em 2011, um a cada 20 minutos. Desse total, somente um a cada 50 é informado à polícia
dos informados, a taxa de condenação é de 26%, aproximadamente um quarto dos casos relatados. Desde 1971, os casos de estupros na Índia cresceram 873%. Não há estatística, mas abortar fetos femininos é muito comum. Esses dados foram colhidos por Patrícia Campos Mello, enviada especial a Nova Déli, pela Folha de São Paulo (20/01/2013).

STATUS E FORÇA FÍSICA: considera-se que os homens que conseguem casar nesse tipo de sociedade, são aqueles possuidores de nível econômico mais elevado. "Os que não conseguem são mais pobres, menos educados e com empregos marginais. Como têm pouco a perder, eles exibem maior propensão à violência e a um comportamento mais desregrado, em especial quando se enturmam. Quase todos os suspeitos do estupro se encaixam nessa descrição", reitera Clowdrury. "Esses homens já estão sob risco de estabelecer um sistema com base na força física para obter pela força o que não podem obter legitimamente... Homens que não conseguem a oportunidade de desenvolver um interesse adquirido num sistema de lei e ordem gravitarão para um sistema com base na força física", completa a professora Hudson.

TRÁFICO DE MULHERES E SITUAÇÃO POLÍTICA: está provado que a desproporção entre os sexos, com prevalência maior e distorcida de homens, leva também ao tráfico de mulheres. Na China, os sequestros e o tráfico de mulheres estão aumentando de forma inusitada. Outra constatação refere-se às circunstâncias políticas e sociais. Diz Clowdrury que "ao longo da história da China, a discrepância na proporção entre sexos esteve na raiz das agitações sociais e políticas".

MULHERES DESAPARECIDAS: o Prêmio Nobel Amartya Sen cunhou o termo "mulheres desaparecidas" para explicar essas distorções entre sexos nessas sociedades asiáticas, afirmando que mais de 100 milhões de mulheres ficaram "fora da vida" por negligência, infanticídio e desigualdade. As estatísticas não são boas. Mas, há suspeita do "desaparecimento" de 163 milhões de meninas, na Ásia, nas últimas três décadas.

UGT EM CAMPO: a Secretaria de Mulheres da União Geral dos Trabalhadores do Brasil (UGT), por sua titular Cássia Bufelli, tem estado presente em todas essas discussões. Frequentemente, ela tem promovido debates sobre o tema, permanecendo vigilante quanto às agressões sofridas pelas mulheres brasileiras."




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