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UGT Press 337: A morte em evidência


02/04/2013

A MORTE EM EVIDÊNCIA: dois acontecimentos no começo do ano, contrastantes entre si, envolvendo celebridades, colocaram a morte em evidência, como se ela não estivesse presente em milhares de lares todos os dias: o suicídio do ator Walmor Chagas e a recuperação do escritor Luis Fernando Veríssimo. O primeiro matou-se com um tiro em seu sítio de Guaratinguetá (SP), em janeiro, aos 82 anos. O outro, internado desde novembro numa UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) de Porto Alegre, recuperou-se e voltou a trabalhar em janeiro. Walmor disse que seu organismo era um calhambeque que tinha de ir todo o dia para uma oficina" (Folha, 29-01), enquanto Veríssimo, quando se livrou da infecção generalizada, afirmou: "A morte é uma sacanagem, sou contra" (Folha 24-01).
CELEBRIDADES: em geral, as mortes das celebridades são mais divulgadas e têm maior visibilidade, especialmente quando ocorrem de forma imprevista e dramática. Não é todo dia que acontece, mas as mortes por suicídio de escritores não é tão incomum. Há muitos casos registrados, inclusive de brasileiros e portugueses: Camilo Castelo Branco (1890), Antero de Quental (1891) e Pedro Nava (1984). Entre os estrangeiros, só para ficar no século 20, podemos citar Virgínia Woolf (1941) e Ernest Hemingway (1961). Se fôssemos buscar na história brasileira, outros vultos suicidaram-se formidavelmente, casos de Santos Dumont (1932) e Getúlio Vargas (1954). Portanto, o ato de Walmor Chagas não é singular, embora lamentável num mundo rodeado por novas tecnologias e novos medicamentos. Almas insondáveis...
BANALIZAÇÃO DA MORTE: embora essas mortes surpreendam e choquem, no dia a dia brasileiro, as mortes no trânsito ou por violência são banais, superiores a qualquer conflito armado depois da Segunda Grande Guerra Mundial. No trânsito brasileiro tem-se um acidente a cada 30 segundos e uma morte a cada 40 minutos. O número total de mortes por ano em acidentes de trânsito ultrapassa 40 mil e o Brasil é o quarto país no quadro mundial. Se olharmos as mortes por violência, o Brasil também é quase campeão mundial: mais de 50 mil homicídios por ano, segundo a Human Rights Watch, 50 vezes as mortes da Faixa de Gaza por ano. As mortes por armas (tiro) no Brasil são 3,7 vezes maiores do que nos Estados Unidos, um país muito mais armado.
CATÁSTROFES E TRAGÉDIAS: sejam os acidentes da aviação (três deles no Brasil nas últimas décadas), sejam as tragédias ambientais por secas ou enchentes, sejam as aterrorizantes imagens do incêndio em Santa Maria (RS), esses acontecimentos impactam o cidadão e são temas de longas e extenuantes discussões na mídia moderna. Se compararmos o total de mortes nos acidentes de trânsito ou na violência urbana e rural, temos a cada ano cerca de, nada menos, 200 tragédias iguais a de Santa Maria. É triste e lamentável ter que fazer uma comparação dessas para se chamar a atenção para as mortes que ocorrem no Brasil todos os anos, atingindo, sobretudo, os trabalhadores jovens e pobres.

O FIM DA VIDA: a ciência e a tecnologia adiaram a morte e ela acontece cada vez mais tarde na vida das pessoas. Prova disso é o envelhecimento mundial das populações. Há países (Japão e Alemanha) com expectativa de vida superior a 80 anos. Essa realidade tem revolucionado os sistemas de pensões e aposentadorias, hoje uma das maiores preocupações sociais do mundo moderno. Em certos países, cerca de um por cento das pessoas já chegam aos 100 anos. Os velhos, cada vez mais, influenciam nos resultados eleitorais. O Brasil já tem mais de 10% de sua população acima dos 60 anos de idade. A média de vida do brasileiro ainda é baixa, mas a expectativa de vida vem crescendo nas regiões mais desenvolvidas.
NEGLIGÊNCIA E SOLIDARIEDADE: essas realidades fazem do Brasil um país dicotômico: de um lado a negligência escancarada e, de outro, a solidariedade ímpar. Rui Castro (Folha, 30-01) abordou este fato, dizendo: "Somos ineptos para minimizar danos das cheias, impedir desabamentos, prevenir incêndios. Somos ruins em saída de emergência, hidrante, vistoria. Não adianta, não é nosso negócio. Mas numa coisa ninguém nos supera: em solidariedade. Instaurada a tragédia, acorremos ao local em batalhões, confortamos os parentes, acolhemos em nossa casa, doamos sangue e enchemos caminhões com donativos...". Não precisaria ser assim, precisamos ser bons nos dois lados dessa moeda."




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