14/08/2015
DESCOBERTAS: no fim do século XV e séculos seguintes, as Américas fortaleceram os colonizadores europeus com suas incontáveis riquezas. Com menos intensidade porque o processo de desenvolvimento foi menos predatório, Estados Unidos e Canadá escaparam por pouco do modelo asfixiante. Mas, do mutilado e explorado México para baixo, até a Patagônia ou Terra do Fogo, o regime extrativista e a agricultura de exportação predominaram. Não se calcula, por imensurável, a quantidade de prata e ouro drenada para além mar. Daquela a esta parte, continuamos com a mesma prática, com ligeiras alterações em alguns países, de exportar matérias primas e produtos agrícolas, agora modernamente denominados "commodities".
REDUÇÃO DA POBREZA: na primeira década do século, foi constatada uma significativa redução da pobreza na América Latina, especialmente em função dos programas sociais. A Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e Caribe) constata que houve um estancamento no processo de diminuição da pobreza. Segundo esses dados, a pobreza voltou a se espalhar pela região em 2014 e, no caso da indigência, houve um aumento preocupante de 12%. A região foi beneficiada pelo preço das commodities, aumentou suas reservas, mas não promoveu as reformas de base, capazes de sedimentar novas perspectivas e oportunidades de desenvolvimento. Agora, com a queda dos preços e das exportações, a maioria dos países vai entrar num período de vacas magras, principalmente o Brasil. O país não promoveu reformas, não aprofundou ou aperfeiçoou a sua democracia e, ainda, afundou-se num mar de lama. Enfim, perdeu a excelente oportunidade para forjar-se como uma das mais sólidas economias do mundo. Se vai corrigir o seu rumo, ainda é uma incógnita.
MOTIVOS: além de governos frágeis, incompetentes e corruptos, o que, por si só, é um grande desastre, a região padece de males diversos, o que lhe retira recursos preciosos que poderiam ser aplicados em seu desenvolvimento. Anote alguns: evasão fiscal, narcotráfico, contrabando, manipulação de preços de transferência (distribuição disfarçada de lucros) e fluxos financeiros ilícitos. Os valores desses delitos todos contam-se em bilhões de dólares e são agravados pela inércia propositada de governos corruptos, facilitadores da ação das multinacionais e grandes grupos econômicos.
FLUXOS FINANCEIROS ILÍCITOS: merece um destaque especial o capítulo dos fluxos financeiros ilícitos. A cada ano perdemos bilhões de dólares com isso. Os números são precários, mas dados de 2012 mostram que na América Latina os fluxos ilícitos ultrapassaram 150 bilhões de dólares ou 3% do PIB (Produto Interno Bruto) da região (Global Financial Integrity). Essa quantia é superior à inversão estrangeira direta e 15 vezes mais do que a ajuda oficial para o desenvolvimento. Segundo a Secretaria Executiva da Cepal, as taxas de evasão do IVA (Imposto sobre Valor Agregado, semelhante ao nosso ICMS) flutuaram entre 18 e 40 por cento e do imposto de renda entre 45 e 50 por cento. O período estudado pela Cepal foi de 2006 a 2010. Isso representou uma evasão de 1% do PIB da região. A rigor, são números impressionantes. No Brasil, todos esses problemas de sonegação e evasão são estimados em 100 bilhões de reais/ano, algo próximo do que se gasta absurdamente com a dívida interna e externa.
UGT - União Geral dos Trabalhadores