12/08/2015
AJUSTE ECONÔMICO: antes mesmo de iniciar o segundo mandato da presidente Dilma Rousseff, sabia-se que a economia deveria passar para mãos firmes e competentes. Desconfiava-se das benesses fiscais, tributárias e dos frouxos reajustes dos preços públicos, entre estes a gasolina e a energia elétrica. Conhecia-se, portanto, os rombos do orçamento público e as dificuldades esperadas para 2015. De fato, isso exigiria no Ministério da Fazenda (MF) alguém afinado com os humores do mercado e preparado para aplicar medidas antipáticas, capazes de devolver a confiança aos investidores e trazer um pouco de ordem às combalidas finanças públicas do país. Antes da escolha do nome, houve muita especulação. Joaquim Levy trouxe esperança, mas, passado o primeiro semestre de sua presença no MF, nota-se situação bastante preocupante: houve conflitos entre o Congresso Nacional e a Presidência da República e isso impediu a votação de medidas importantes, comprometendo o ajuste inicialmente proposto.
DIFICULDADES: em meados de julho, o governo recuou das metas previstas, reduziu a expectativa de superávit primário e recriou regra que permite fechar o ano com déficit. O corte do governo foi de 80% na meta anteriormente prometida, ou seja, de 1,13% (66,3 bilhões) para 0,15% (8,7 bilhões). É muito e de duas uma: ou os cálculos anteriores estavam errados ou o governo não conseguiu sensibilizar o Congresso Nacional para aprovar as medidas necessárias. Na segunda hipótese, a mais provável, estamos diante de um governo fraco, refém do Parlamento. Mais ainda, estamos diante de um Parlamento impatriótico, cujos interesses fisiológicos se sobrepõem aos interesses da Nação.
RECEITAS EM QUEDA: certamente, o tamanho da recessão e as dificuldades no Congresso pegaram o ministro Joaquim Levy de surpresa. Sobretudo as dificuldades no Congresso, depois de décadas de cooptação, são mais do que surpreendentes. Hoje, o seu próprio nome vem sendo contestado e, felizmente ainda poucos, já o vêem como incapaz de levar o ajuste adiante. No que se refere às receitas, houve flexibilização exagerada e decidiu-se que aquelas frustradas poderão ser abatidas para se chegar aos resultados previstos. Conta de chegar. Contudo, depois da contabilidade criativa de anos anteriores, nada mais surpreende. O abatimento atinge basicamente três tipos de receitas, se não realizadas: a) recuperação dos débitos em atraso; b) recebimento de ativos no exterior; e c) receitas com concessões e permissões não concretizadas. São todas receitas extraordinárias.
DISCURSO DE LEVY: apesar do evidente fracasso da economia no primeiro semestre de 2015 e toda a probabilidade de que isso se repita pelo resto do ano, ainda assim, contrariando as expectativas de especialistas, o ministro Levy tem um discurso cheio de desculpas e lotado de otimismo (talvez seja um de seus papéis). Para ele, o ajuste não é o culpado pela recessão e concordamos: a deterioração do ambiente econômico já vinha de algum tempo e foi maquiada no período eleitoral. Também afirmou que é ilusão achar que a flexibilização da meta fiscal compromete o ajuste fiscal. Para ele, não há tolerância e nem relaxamento com as metas fiscais. Contudo, seria bom ele conversar um pouco com Eduardo Cunha, presidente da Câmara Federal e o homem das "pautas bombas". Levy diz ainda que há realismo no governo. É possível, mas com a instabilidade política e os atritos com o Parlamento, tudo fica mais difícil. Não é fácil governar quando se tem de salvar o próprio mandato.
MESES ESTRATÉGICOS: os próximos meses serão estratégicos, seja para ver o avanço das medidas econômicas ou para sentir o pulso político. Num caso ou noutro, será importante o comportamento da inflação, das contas públicas e do ambiente econômico. Torcer ou rezar, conforme as suas crenças.
HIROSHIMA E NAGASAKI: faz 70 anos que duas cidades japonesas foram bombardeadas com artefatos nucleares, o primeiro e o mais fatídico passo da humanidade rumo à insensatez. Os precedentes não justificavam tamanha insanidade: Berlim caíra, a paz estava planejada na Conferência de Yalta (Roosevelt, Stalin Y Churchill). Alguns dizem que a morte de Roosevelt contribuiu para essa loucura, já que em seu lugar entrou alguém inexperiente, influenciado por uma elite militar com sede de vingança (Pearl Harbor era uma chaga não cicatrizada). Quanto ao Japão, apesar de não ter se rendido, estava batido, sua frota havia sido destruída e seus exércitos desalojados das ilhas do Pacífico, perdera suas ocupações na China, Indochina e Coréia, era um país devastado. Sob qualquer olhar, fosse o mais implacável, nada justificaria a barbárie. Mas, Hiroshima e Nagasaki receberam duas bombas atômicas, perdendo os seus habitantes, dos bebês aos velhos inválidos, na maior mortandade instantânea da história da humanidade. Lembrar o fato e condená-lo é dever de todos os que se preocupam com a paz.
UGT - União Geral dos Trabalhadores