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UGT Press 346: Energia: o Brasil fora do jogo


11/06/2013

ENERGIA: a partir do início do século, olhava-se o Brasil com grande otimismo no setor energético: a) matriz limpa, com grande parte da energia vindo de hidroelétricas
b) descobertas no pré-sal com promissoras promessas de produção
c) produção de gás e importação de gás boliviano, o que fez com que as cerâmicas convertessem suas matrizes de fabricação para gás natural
d) ousado plano para instalações de termoelétricas, equilibrando a oferta em épocas de crise ou de secas prolongadas (que já começaram e já se sabe, serem cíclicas)
e) exploração dos ventos, a chamada energia aeólica, com grande potencial no nordeste do país
f) e o nosso etanol, proveniente da cana de açúcar, tão alardeado e famoso. Não passa sequer despercebido que a sucessora de Lula foi exatamente sua ex-ministra de Minas e Energia. Certamente, não foi coincidência ou mero acaso.

DEPOIS DE 12 ANOS: nada mudou no Brasil, mas a Petrobrás vem perdendo fôlego. O gás natural, seja pelas encarecidas importações ou pela insuficiente produção nacional, está caro demais para ser utilizado pelas indústrias brasileiras, o que fez as indústrias de cerâmica parar de fabricar e buscar fora do Brasil quase 70% do porcelanato comercializado internamente. O pré-sal tem o seu futuro, mas a maturação do processo de extração e refino do petróleo tem seu período de maturação, sem dizer que está caro e com disputas políticas entre os estados prá lá de sérias. As novas usinas hidroelétricas, caras e demoradas, estão com problemas trabalhistas, ambientais e logísticos. As fontes eólicas, seja por falta de planejamento ou outros fatores, têm falta de equipamentos, instalações e redes de transmissão a tempo. As termoelétricas dependem de outras fontes de energia para funcionar e, portanto, são soluções paliativas e emergenciais. No caso do etanol, a situação é mais complicada e os investimentos se restringem em função das incertezas no que tange à propriedade da terra, o que foi alegado pela Dow/Mitusui para retardar a instalação de unidade para a instalação da fábrica de biopolímeros em Santa Vitória (MG). Há outros fatores, muitos outros, alguns nebulosos.

EM RESUMO: todas as perspectivas notáveis e frustrações à vista decorrem das circunstâncias brasileiras, sua falta de planejamento sério e falta de obstinação em perseguir objetivos. Talvez traços da cultura nacional que fizeram o Brasil, durante 500 anos, permanecer atrasado em relação ao resto do mundo, assistindo ao bonde do desenvolvimento passar. Sobram comparações e situações que envergonham a competência nacional. E já que falamos em energia, vivemos um constante apagão de inteligência. Só para ficar na Usina de Belo Monte, os custos vão subir para o dobro do previsto e a produção de energia decair para a metade do estimado.

BOMBA, BOMBA! a preocupação com a independência energética, aliada à pesquisa tecnológica nos Estados Unidos, produziram um fenômeno novo no campo da energia: os americanos começaram a produzir gás de xisto! José Goldemberg, professor emérito da Universidade de São Paulo, diz: A possibilidade técnica de usar esse gás é conhecida há muito tempo, mas o custo de exploração só a tornou viável nos últimos anos. A partir do ano 2.000 houve uma "explosão" no aumento da produção: em 2.000 o gás de xisto representava 1% do gás natural produzido nos Estados Unidos, em 2.010 eram 20% e existem previsões de que em 2.035 serão quase 50% (Estadão, 20-05)". A bomba é maior quando se verifica o custo do gás de xisto, apenas um quinto do preço do gás vendido no Brasil: aqui, para um milhão de BTU, 9 dólares, nos Estados Unidos apenas 1,82 dólares. O resultado dessa nova realidade é a reorientação dos investimentos. Empresas que têm um terço de seus custos em energia, casos de cerâmica e vidro, química e petroquímica, vão parar de produzir no Brasil e importar produtos acabados. Já anunciaram a interrupção de produção no Brasil a Cebrace, a Guardian e a AGC Vidros. O governo, que só toma medidas emergenciais e de última hora, anunciou de desoneração dos impostos para o setor químico.

POTENCIAL DE PRODUÇÃO DO GÁS DE XISTO: o Brasil, ainda sem tecnologia própria, tem reservas de xisto estimadas em 6,4 trilhões de metros cúbicos, mas está atrás de China, Estados Unidos, Argentina, México, África do Sul, Austrália, Canadá, Líbia e Argélia. Para focalizar somente países emergentes, a China possui reservas seis vezes maiores do que o Brasil, o México 3 vezes, a África do Sul duas vezes maior. Somente agora, depois que a bomba americana foi divulgada nos jornais é que a ANP (Agência Nacional de Petróleo) incluiu a exploração do xisto no próximo leilão de blocos de gás, previsto para o final de outubro. O Brasil está entrando tarde na corrida pelo gás de xisto, atrasado na produção nacional de gás e petróleo, negligente na construção de novas hidrelétricas, sem política adequada para o etanol, sem saber quando vai poder utilizar energia aeólica e, enfim, expondo o nosso apagão de inteligência. Enquanto isso, todos esperam pela conclusão dos estádios de futebol para a Copa do Mundo (atrasados, caros e mal feitos)."




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