18/06/2013
GOVERNO NA BERLINDA: quando se nota que há ameaça de retorno da inflação, quando se percebe que o Banco Central se reorienta em direção à alta de juros, quando se vê, claramente, que o crescimento econômico dá sinais de paralisação e atrofia, quando aparecem sinais de mudança no panorama sul-americano, com países tradicionalmente alinhados (Bolívia e Paraguai, por exemplo) buscando outros caminhos e desafiando abertamente o grande vizinho, quando a prática da desoneração dos impostos começa a parecer uma disfarçada política de controle da inflação ou um claro combate a incêndios setorizados, quando se verifica o crescimento exponencial do déficit de pagamentos, quando nos damos conta que o déficit público se torna crônico e sem controle, quando editoriais de jornais importantes, entrevistas de técnicos categorizados e artigos econômicos de gente muito lida começam a mostrar os furos no casco do navio e, finalmente, quando se desconfia que o governo está perdendo as rédeas e se encontra numa encruzilhada, sem saber o que fazer, é hora de mudança. Mudança na forma de administrar, mudança de nomes no primeiro escalão da condução econômica e mudança na política de gastos e de investimentos em obras públicas. Enfim, mudanças que possam recolocar o governo nos rumos que fizeram deste país, nos últimos 20 anos, uma promessa de desenvolvimento.
ANOTEM OS AVISOS: Com escasso benefício para a economia, mesmo em curto prazo, a bagunça tributária promovida pelo governo poderá revelar-se uma poderosa bomba de efeito retardado, especialmente se as condições da economia se agravarem, advertem funcionários da Receita Federal. Mas o aviso dificilmente será ouvido por um governo empenhado em vencer as eleições de 2014 mesmo a um preço desastroso (Estadão,02/06)". "Até aqui os problemas se acumularam... Havia assuntos urgentes: custos de produção em alta, famílias endividadas, consumo demasiado aquecido. Na ânsia de estimular o crescimento, o governo criou novos estorvos. Passou a gastar mais, incentivar o crédito, a alimentar mais a inflação. Frustradas as investidas, o governo recorreu a iniciativas fortuitas e atrabiliárias. Tentou controlar preços e lucros por meio de pressões políticas. Reduziu impostos de modo desorganizado. Distorceu estatísticas fiscais e acuou o Banco Central. Custos altos e insegurança deprimiram investimentos. (Folha de São Paulo, 02/06)". Em outros veículos e artigos assinados a mesma cantilena.
DIFERENÇAS: pinçando somente em relação às publicações de junho, análises e críticas ao governo se avolumam. Leia o que falou o economista tucano Luiz Carlos Mendonça de Barros: "Lula pegou a economia com desemprego alto, a Dilma com desemprego baixo. O Lula tinha o consumidor pouco endividado. Ela herdou o consumidor no limite do endividamento. O Lula tinha infraestrutura com espaço de crescimento, ela está com o gargalo. O Lula tinha os preços de exportação em processo acelerado de crescimento. A Dilma está vivendo um período de redução de preços. Ela não percebeu isso e continuou com a mesma política de estímulo ao consumo, no sentido de usar esses espaços ociosos para empurrar a economia para frente. Mas, ela não tem esses espaços. Ela agora precisa entender que, sem o investimento que aumenta a oferta na economia, não consegue crescer mais. Mas duvido que ela e a equipe dela tenham essa leitura". (Entrevista ao Estadão, 02/06)
ESTRATÉGIA COMERCIAL: "É fato que o Brasil errou em sua estratégia comercial ao privilegiar o multilateralismo - que não teve avanços na última década, por conta da paralisia da Rodada Doha - e negligenciar acordos regionais ou bilaterais de liberalização. Mas tais diretrizes não são excludentes. O problema principal do Brasil deriva da falta de visão estratégica e de barreiras ideológicas ao conceito de livre comércio. Na última década, o país permaneceu preso a uma visão antiquada e ineficaz de protecionismo, ainda pautada pela substituição das importações" (Folha de São Paulo, 03/06).
OBRAS PÚBLICAS E PRIVADAS: enquanto isso, as obras públicas ou privadas do Brasil continuam dando sinais de má construção e de perigo aos usuários. Os estádios de futebol são exemplos eloquentes: tanto privados quanto públicos estão apresentando defeitos. Incêndios têm ocorrido em alguns estabelecimentos. Os aeroportos têm sido criticados e a Infraero, uma empresa estatal, é vista como incompetente. O caso da transposição do rio São Francisco já foi aqui muitas vezes abordado. Em São José do Rio Preto (SP), desabou o teto de um grande supermercado. Os consumidores foram salvos por gôndolas e pilhas de material estocado. O prazo de garantia de obras civis é de cinco anos. Pouco para um país acostumado à má gestão e à irresponsabilidade. Está mais do que na hora de rever a legislação, colocando mais responsabilidade sobre os ombros de construtoras e técnicos responsáveis.
NOTA DE FALECIMENTO: faleceu na terça-feira passada (11-06), aos 90 anos, o historiador, jornalista e intelectual Jacob Gorender. Filho de imigrantes judeus russos, nasceu em Salvador, Bahia. Lá, em 1941, entrou para o curso de direito e se filiou ao PCB (Partido Comunista Brasileiro). Interrompeu os estudos para se alistar voluntariamente na FEB (Força Expedicionária Brasileira). Lutou na Itália e tinha muito orgulho de sua participação na 2ª Grande Guerra Mundial. Foi preso e torturado pela ditadura militar brasileira. Deixou importantes obras, entre as quais "O escravismo social" e "Combate nas trevas". Autoditada, chegou a ser professor do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo. Deixou uma única filha, a médica Ethel Fernandes Gorender. Ele conheceu Dilma Rousseff quando ambos estavam presos no Dops, em São Paulo. Dilma afirma ter sido ele um conselheiro importante "num momento crucial de minha vida" (nota oficial da Presidência da República)."
UGT - União Geral dos Trabalhadores