20/06/2013
QUEM ESTÁ PROTESTANDO? apesar de o primeiro ato ter sido convocado pelo Movimento Passe Livre (MPL), integrado por militantes de partidos da esquerda radical, os protestos não têm voz, não têm lideranças, não têm interlocutores. Não têm também agenda. Os protestos começaram pelo aumento do preço nas passagens de ônibus em São Paulo, mas incorporam outros temas como a defesa do poder de investigação do Ministério Público, combate à corrupção e críticas aos gastos com a Copa do Mundo. Está claro que é um sentimento difuso, represado, que vem à tona pela oportunidade e pelo uso das redes sociais. As convocações são espontâneas, mas, não há dúvidas, vão sobressair algumas lideranças que aparecerão no devido tempo, desde que os protestos avancem e perdurem.
ALGUNS DADOS PRIMÁRIOS: pesquisas, principalmente do Datafolha, mostraram que 84% dos manifestantes não pertencem a nenhum partido político. Realmente, nota-se que os manifestantes estão condenando a participação de pessoas com bandeiras identificadoras de partidos. Também já se sabe que a maioria possui nível superior de educação (77%) e são menores de 25 anos (53%). A população é quase totalmente a favor dos protestos (77%). Metade da população acha a polícia mais violenta do que deveria (51%). Certamente, a continuidade dos protestos levará à adesão dos estudantes de segundo grau e pode-se prever a participação de cidades menores do interior do Brasil. Algumas já fizeram suas manifestações e passeatas. Novos dados e novos fatos poderão determinar os rumos do movimento. As centrais sindicais já emitiram nota de apoio e prometem estudar a possibilidade de uma greve geral para o dia 1º de julho.
EXPLICAÇÕES: são muitas as explicações para a situação. UGTpress optou por um parágrafo da fala do professor Aldo Fornazieri, publicado em 14-06 (portanto, antes da generalização das manifestações) na coluna do jornalista Luis Nassif: O protesto contra o aumento das passagens, ademais, pode ser inscrito como um elemento dos novos movimentos sociais que surgem no século XXI. Dentre outros, trata-se de um movimento ligado às questões urbanas. A natureza essencial deste movimento não pode ser vista nos 20 centavos de aumento, mas na tragédia da vida urbana, no caos da mobilidade e no sacrifício que as grandes metrópoles impõem ao viver humano. Não é por acaso que os grandes protestos da Turquia surgiram a partir do projeto de demolição do Parque Taksim Gezi, envolvendo um problema ambiental urbano. Movimentos ambientais, por moradia, por serviços eficientes, por espaços urbanos de convívio e de lazer, por transparência, serão típicos do presente e do futuro próximo e terão cada vez mais impactos sobre a política e o Estado".
OUTRA EXPLICAÇÃO: extraído do artigo "Cidade Jovem" (Caderno de Cinema), de Antonio Risério: "Pouco importa que o ponto de partida seja a passagem de ônibus? Não. É significativo. É por onde a população se move. Claro que a barra ainda é mais pesada do que se pensa: segundo o IBGE, 37,3% dos habitantes do Brasil andam a pé, por não terem dinheiro para andar de ônibus, trem ou metrô. É um índice altíssimo. Anda mais gente a pé, no Brasil, do que em transporte coletivo (29,1%) ou carro individual (30,4%). Querem maior atestado de exclusão? E essa luta é antiga. Há quase uma tradição, no país, da população protestando contra aumentos no preço das passagens. É que isso aqui é um país de gente muito pobre, ao contrário do que dizem tantas propagandas públicas e privadas". São dados realmente assustadores.
TRIUNFO DO CRIME E DA MARGINALIDADE: há cerca de três décadas, o Brasil convive cada vez mais com diversas formas de crime. Há uma verdadeira e grande economia subterrânea, que vai do narcotráfico ao roubo de cargas. Grandes empresas são receptadoras de produtos roubados, o que faz desse tipo de crime um grande negócio. Não se tira a cópia de um processo, sem que se pague a mais nos cartórios do país. Seguros são seguidamente fraudados. Pessoas condenadas tomam posse nos principais cargos políticos do país e condenados voltam facilmente ao mundo do crime. Até mesmo membros do Poder Judiciário estão sob suspeita. A segurança privada se tornou um grande negócio no país, exatamente em função do crescimento do crime e da marginalidade. O Brasil chegou ao absurdo de os legisladores tentarem retirar prerrogativas e impedirem o Ministério Público de investigar. E parece que os governantes nada têm com isso...
FATORES INCONTROLÁVEIS: um movimento como esse, majoritariamente pacífico, sempre corre o risco de sofrer indesejadas infiltrações. Grupos oportunistas aproveitam para depredar e saquear. Isso é quase inevitável, mas pode ser minimizado. Uma solução possível seria o diálogo entre forças policiais e lideranças, combinando com antecipação as regras, os locais e os itinerários das manifestações. Contudo, aqueles que lidam com esses distúrbios sabem que toda multidão comporta uma minoria violenta e desregrada. Manifestantes não são vândalos, assim como policiais não são santos. Prudência e comedimento são importantes para as duas partes.
FALÊNCIA DA SOCIEDADE: as explicações abundam,, algumas realmente criativas. Nas redes sociais, o Brasil tem várias concordatas e falências em andamento. Vejamos: a) falência administrativa: do município à União não há competência e sobram desacertos
b) falência da oposição: os partidos, em sua maioria, estão cooptados e não há inteligência e nem coragem na oposição
c) falência de projetos estratégicos: não se pensa no futuro e não há um único projeto ou estratégia consequente
saúde e educação abandonadas: d) falência da universidade: longe dos problemas principais, elitista, superada e de baixa qualidade
e) falência da ética e da moral: do pequeno servidor ao mais alto mandatário, sobram atos de corrupção
nem mesmo uma reles certidão é retirada da repartição sem propina
f) falência das elites: oportunista, a elite só pensa em vantagens imediatas
no Brasil as elites são sócias do Estado
g) falência das Forças Armadas: dóceis e sem preparo, assistem ao malogro da Nação
h) falência do Poder Judiciário: grassam a morosidade e a impunidade
i) falência da economia: inflação, déficit público, déficit na balança de pagamentos e falta de crescimento, o pior dos mundos em andamento
j) falência da infraestrutura: aeroportos, portos, estradas e ferrovias em estado de abandono
k) falência da democracia: predomínio do poder econômico, falta de legislação política e eleitoral estável
l) falência das obras públicas e privadas: caras, mal feitas e perigosas, com apenas cinco anos de garantia
m) falência da imprensa: parte cooptada, parte defensora do poder econômico e a maioria ideologicamente comprometida
n) falências diversas: se você pensar um pouco, encontrará inúmeras outras falências. Como diz a propaganda, isso não tem preço e, portanto, não são os 20 centavos."
UGT - União Geral dos Trabalhadores