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UGT Press 459: A crise sem solução à vista


07/08/2015

CRISES POLÍTICAS NACIONAIS: na breve história de mais de 120 anos de República, nossas crises políticas oriundas de um golpe militar contra o Imperador D. Pedro II, via de regra, solucionaram-se com jeitinhos nem sempre legais e quase nunca recomendáveis. Ainda temos elites sócias do Estado, temerosas da existência de um país sério e organizado. Em geral, a bagunça facilitou a vida dos sonegadores, de grandes grupos econômicos e de pessoas que colocam o seu rico dinheirinho em paraísos fiscais. O que tem ameaçado essa situação de descalabro de mais de cem anos é a sociedade melhor informada. Mas, nesse período o país não teve um estadista a seu serviço. Mas, verdade seja dita, não faltaram oportunidades para se organizar o país.

 

PODERES: os poderes de nossa República nunca funcionaram "independentes e harmoniosamente”. São históricos os desequilíbrios. Hoje, todos eles são suspeitos de corrupção, alguns mais, outros menos, mas todos já forneceram suficientes motivos para desconfianças. As denúncias e escândalos espocam diariamente na mídia tupiniquim. Se não funcionar o Poder Judiciário e ele não distribuir justiça, boa e na acepção de sua função primordial, os demais nadam em iniquidades. Nestes primeiros meses do ano, bastou a Câmara Federal se arvorar em independente para o caos se instalar. Antes, cooptado, era acusado de "vaquinha de presépio", hoje, a desconfiança repousa em acusações mais sérias: corrupção e impatriotismo. O Executivo brasileiro (prefeituras, estados e União) continua o mesmo de sempre, caindo cada vez mais na vala dos negócios ilícitos, sem que haja um único acima de qualquer suspeita. Enfim, não há em quem confiar e os seus chefes supremos, a acreditar nas pesquisas de opinião sobre a credibilidade das instituições, não possuem a confiança da Nação e de seu povo

 

JEITINHO NACIONAL: a solução da crise passa por restabelecer exatamente o equilíbrio entre os poderes e dar um motivo à população para recobrar a confiança nas instituições. Sempre foi assim. O Brasil sempre mudou tudo para permanecer o mesmo, esta é a regra. Não será diferente agora. As opiniões que vemos no cenário nacional, emitidas por autoridades como, por exemplo, o vice-presidente da República, passam por anulação das eleições (TSE), improbidade administrativa (TCU), impeachment (Congresso Nacional). Há até alguns poucos saudosistas das intervenções militares, o que representaria uma ruptura com a legalidade constitucional. Nem pensar nesta última e talvez as demais também não sejam o melhor caminho porque destinadas a não mudar nada. O que a elite política quer é a manutenção das sinecuras. Para que servem os tribunais de contas? Onde existem, capitais, estados e União, são cabides de empregos, ninho de privilegiados e palco de sujeição aos executivos de plantão. Enfim, este é o Brasil!

 

SEM SOLUÇÃO: a inexistência de maioria sólida para uma solução constitucional é a maior aliada de Dilma Rousseff. Nesses meses, enquanto a elite política busca uma saída, ela tem que se reforçar no cargo. Como? Aí está uma equação de difícil solução. Outro seu aliado, não partidário ou político, é seu vice-presidente Michel Temer: ele não reúne as condições de confiança necessárias para o exercício da Presidência e não tem apoio em outros partidos. Resta ainda à presidente, que o ajuste fiscal ofereça resultados positivos, mas este esforço de reacomodação das contas nacionais tem sido implodido na Câmara Federal, onde seu presidente, Eduardo Cunha, tem sido autor de "pautas bombas" que anulam qualquer progresso econômico de curto prazo. Enfim, como diz o sociólogo Brasílio Sallum Júnior, "nem governo nem oposição têm a saída" (Estadão, 07/08). A crise, todos concordam, é gravíssima e se apoia em quatro circunstâncias: crise econômica, enfraquecimento da coalização de governabilidade, enfraquecimento da autoridade presidencial e sua baixíssima popularidade. Mas, apesar dos ingredientes necessários a uma mudança no quadro político, os fatores de debilidade atingem toda a classe política. Por enquanto, sem solução, portanto.

 

MOVIMENTO DE RUA: as manifestações anteriores ficaram circunscritas à classe média alta e o povão não aderiu. Em sua maioria, partidos políticos ficaram de fora. As centrais sindicais também estão divididas quanto à melhor solução para a crise e a maioria delas apoia Dilma. Não se sabe agora, com a popularidade de Dilma em queda, se a manifestação de agosto terá maior volume e maior repercussão. É esperado que a mídia lhe dê bastante espaço. Aqui, estamos diante de uma incógnita e não sabemos ainda qual será o alcance da próxima manifestação. 

 

INCERTEZAS: a palavra chave é "incerteza". Ninguém tem certeza do que ocorrerá, mas é previsível que a classe política e a opinião pública nacional, com o tempo, possam convergir para uma das vertentes políticas, que vai desde a permanência da presidente no cargo até o seu afastamento definitivo. O que é certo, é que nada vai mudar!




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