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UGT Press 353: Uso de aviões da FAB


23/07/2013

DESFAÇATEZ: o uso de aviões da FAB (Força Aérea Brasileira) pelos dois presidentes das duas Casas do Legislativo - deputado Henrique Alves e senador Renan Calheiros-, em plena efervescência das ruas, nada mais foi do que desfaçatez, atrevimento, falta de respeito e insolência com o povo brasileiro. A comunidade política, acostumada a essas regalias, afirma que está agindo dentro das normas estabelecidas. Foi desta forma que a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República explicou a normalidade em nome do interesse público. As estatísticas, publicadas pela imprensa, desmentem a tal normalidade". Vejamos: segundo o jornal "O Estado de São Paulo" (13-07), só no primeiro semestre deste ano, foram feitas 1.664 solicitações de voo. O recordista de viagens é o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, por sinal uma área do serviço público muito contestada. Ele fez nada menos do que 110 viagens neste ano.

EXAGERO: sem dúvida, estamos diante de um notável exagero. No caso do ministro Padilha, há praticamente uma viagem a cada dia e meio. É de se perguntar, quanto tempo lhe restaria para efetivamente trabalhar. Não é à toa que a Saúde está um caos e todas as medidas anunciadas até agora parecem coisa de amador. No caso dos escândalos, que só vieram à tona em virtude do raro momento que vive o país, registrou-se o uso indevido dos aviões da FAB por três importantes autoridades - Henrique Alves, Renan Calheiros e Garibaldi Alves Filho. Dois foram assistir a jogos de futebol e um foi a um casamento. Três eventos, a rigor, particulares, mas que, pelo andar da carruagem, são corriqueiros na administração pública brasileira.

EXPLICAÇÃO PERIGOSA: entre as suas apressadas justificativas, a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República informou: "Os voos servem também para fins de treinamento de pilotos da FAB, os quais necessitam cumprir cotas periódicas de voo." Ora, quer dizer que os pilotos brasileiros estão treinando através do transporte de autoridades da República? Cremos que faltaram mais dados na simplória explicação. Algo mais importante: como os voos no mercado estão em média a quatro mil reais a hora, basta somar as horas de voo de todos os ministros para ter uma noção do estrago feito aos cofres públicos.

REINCIDÊNCIA: essas situações anômalas na administração brasileira não são novidades. No passado, algumas autoridades também foram flagradas em viagens suspeitas de contrariar o interesse público. Luciana Cardoso, filha do então presidente em exercício, Fernando Henrique Cardoso, utilizou um avião da FAB para visitar o pai em sua fazenda de Buritis. Ficou famosa também a viagem de Paes de Andrade e convidados, em 1989, feita para Mombaça, em comemoração à sua interinidade na presidência da República. Neste último caso, o avião utilizado foi o Boeing presidencial. Ou seja, está na cara que as coisas no Brasil, em termos de administração pública, sempre pioram.

TRANSPARÊNCIA: claro está que ninguém é hipócrita e se sabe que em um país de dimensões continentais como o Brasil, as viagens de avião das autoridades devem ser um item necessário para a execução rápida e eficiente dos compromissos de Estado. Certamente, o que não é necessário são 39 ministros disputando aviões para suas viagens, algumas muito longe do interesse público. Transparência é absolutamente imprescindível: quem utiliza avião e para quê. Relatórios circunstanciados e balanço anual dos gastos também são comuns em países democráticos. Sabe-se ainda que é preferível o uso de aviões oficiais ao uso de jatos particulares de empresas que prestam serviços ao governo. Se este item for apurado, naturalmente teríamos outras e impactantes novidades.

PARA A ARQUIBANCADA: os jornais deram pouca importância, mas a televisão (Globo, principalmente), anunciou no dia 15/07, segunda-feira, medidas para dar transparência às viagens das autoridades. Não seria necessário nenhum outro decreto, pois o que já existia era suficiente. Bastaria cumprir as normas existentes e não fazer dos aviões da FAB veículos disponíveis para as mais disparatadas finalidades. Utilização em serviço, ponto! Essa história de ir para o trabalho e voltar para casa, mesmo que com viagens pagas com recursos públicos, deveria ser responsabilidade dos ministros, utilizando aviões comerciais. Seria uma boa ocasião para eles sentirem na pele o que sentem os brasileiros que viajam constantemente em aviões lotados e utilizando aeroportos precários."




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