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UGT Press 354: Dilma e a voz das ruas


30/07/2013

NO CONSELHÃO: a presença de Dilma Rousseff na reunião do CDES (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social), órgão que ela solenemente desprezou desde sua posse, foi importante. Ali, na presença majoritária de empresários e líderes sociais, ela pôde explicitar com calma suas preocupações e suas respostas à voz das ruas. Disse que as ruas não pediram a reforma do processo político, mas, era uma variante disso". O poder político nacional está com uma batata quente nas mãos, sem saber o que fazer para impedir a continuidade das manifestações, que começam a se difundir por outros setores da vida nacional. Por exemplo, os médicos, reduto de classe média alta, profissão ainda tida como nobre, saíram às ruas. Houve paralisações em rodovias, tanto de transportadores como de agricultores. Enfim, a presidente (e só ela) precisa dar algumas respostas. Parecem ter sido insuficientes as tentativas de plebiscito (embora com apoio registrado por pesquisas de opinião) e outras perfumarias, especialmente em função de algo muito evidente: a força do Parlamento.

FORÇA DO PARLAMENTO: deputados e senadores da base governista, maioria acachapante no Congresso Nacional, mostraram-se arredios e, certamente, não concordarão em cortar a própria carne. A deterioração das regras políticas, via uso escandaloso do poder econômico nas eleições e, depois pela cooptação de grandes e pequenos partidos políticos ao governo de turno, mostram claramente que a insensatez superou a prudência. Eles, simplesmente, estão encastelados em seus privilégios, têm o voto como moeda de troca e não se arredam das posições conquistadas ao longo do tempo, o que fez da política nacional um balcão de negócios. Ao ver deputados e senadores, abertamente (com a maior cara de pau), defendendo regras imorais (caso, por exemplo, de doações para campanha sem recibos ou registros) e anunciando medidas que em nada alteram o marco legal, chega-se à conclusão de que o Executivo é refém do Parlamento, ou seja, é vítima do próprio sistema que estimulou. Dilma, infelizmente, parece sem força para enfrentar o Parlamento, reforçado pelo vice-presidente da República, Michel Temer.

INÓCUO E POPULISTA: o projeto 5900/13, que tipifica a corrupção contra a administração pública como crime hediondo, foi classificado pelo jornal "O Estado de São Paulo" como "inócuo e populista". O jornal se baseou em opinião de especialistas. Aprovado no Senado e enviado à Câmara para votação, o projeto foi alvo de comentário da presidente Dilma Rousseff, que o recebeu como uma reação à "voz das ruas". No editorial (19-07), o Estadão afirma: "Segundo os criminalistas, se a corrupção se alastrou para todas as instâncias da administração pública, isso não ocorreu por falta de rigor da legislação penal vigente, mas por falta de determinação política para aplicá-la efetivamente". O jurista Lins e Silva foi mais longe: "O que combate a corrupção é a mudança de práticas, o controle adequado e políticas públicas que não transijam com a malandragem". (idem).

A IMPRENSA E OS PROTESTOS: no primeiro dia, vozes, a maioria discordante, derramaram tinta sobre os protestos, criticando-os abertamente. Depois, nos dias seguintes, com uma boa mãozinha da polícia paulista, alguns meios começaram a ver algo diferente. De repente, os protestos assumiram uma aura de maravilhosa novidade. O melhor exemplo foram dois comentários de Arnaldo Jabor (Rede Globo), contrastantes entre si. Agora, recentemente, de tanto martelarem o vandalismo, este ocupa o ponto central de todos os comentários e preocupações. Basta ver o tempo dos noticiários televisivos e as linhas dos jornais que se referem à baderna, para que desconfiemos. Há notória intimidação das pessoas, que olham assustadas para as cenas de depredação de patrimônios particulares e públicos. A polícia, perto e em bom número, faz pouco ou nada, como que dizendo "vocês não queriam isso?" Não é difícil conter os baderneiros, até porque essa prática está restrita a grupos de mascarados, pessoas que não querem ser identificadas, sabe-se lá de onde são.

SOLUÇÃO CONTRA A DESTRUIÇÃO: como os atos de vandalismo se restringem aos grupos mascarados, que assumem a dianteira dos protestos, basta a polícia agir com rigor contra esse tipo de gente. No caso, deveriam ser permitidas as balas de borracha nas pernas (e outros meios seguros), com prisões sumárias e identificação dos arruaceiros. Se isso acontecer, certamente, vamos ter muitas surpresas. O interesse no intimidamento da população está muito longe dos grupos de jovens estudantes que foram às ruas para protestar contra os preços e a qualidade dos transportes coletivos. O que se viu no Espírito Santo foi emblemático: pessoas subindo pelas janelas, nas partes internas do Palácio Anchieta, sob os olhos tolerantes da polícia. Essa postura está muito próxima do "quanto pior, melhor".

EXAUSTÃO: estamos próximos da exaustão, aquele momento em que uma enxurrada de temas é colocada para a discussão da sociedade, sem que se tenham os meios para influir no processo de debate. Queiram ou não, são as regras de nossa democracia representativa. Como os meios de comunicação, sobretudo aqueles de maior audiência ou de maior influência, provocam o debate e dissecam as variantes desses temas (plebiscito, reforma política, etc.), com a exposição exagerada dos atores políticos (Presidente e líderes dos partidos políticos), a opinião pública vai sendo moldada e dirigida. No fim, como sempre, o Brasil está diante de uma grande e intragável pizza! Para a próxima eleição, nenhuma mudança. Para as próximas, algumas perfumarias.

PERIGO À VISTA: o maior perigo, várias vezes abordado neste espaço, continua sendo o aparecimento de um messias, o "salvador da Pátria", aquele que, de maneira radical, ocupa o imaginário popular, suscitando falsas esperanças. Há exemplos à mão cheia, como diria o poeta. O Brasil já passou por isso com Jânio Quadros e Fernando Collor de Mello e, nas duas ocasiões, as soluções não vieram. Seguimos atentos."




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