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UGT Press 453: Viracopos e a privatização da TAP


01/07/2015

VIRACOPOS: a concessionária do aeroporto Viracopos (Aeroportos  Brasil) atrasou suas obras. Com o compromisso de entregar tudo pronto antes da Copa do Mundo de futebol, o terminal internacional só começou a funcionar precariamente em outubro de 2014. No período da Copa foi aberto somente para receber as seleções de futebol (7 países). Para dizer pouco, basta lembrar que da Aeroportos Brasil faz parte a UTC, empresa cujo presidente, Ricardo Pessoa, está detido pela Operação Lava Jato da Polícia Federal. Registra-se que a Constram, que pertence à UTC, é uma das construtoras. Ou seja, no Brasil você detém a concessão e ainda constrói o aeroporto!!! O interessante, para não dizer suspeito, é que o custo da obra, estimado em 2 bilhões de reais, já está em 3 bilhões com dinheiro do BNDES no negócio. A Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) autuou a concessionária, mas disse que o valor da multa está em estudos (?). Só no Brasil.

 

RICARDO PESSOA: UGTpress tem evitado falar sobre a Lava Jato e a Petrobras enquanto não definidas as culpas e responsabilidades. Contudo, no caso do Aeroporto de Viracopos, é visível uma salada de situações. Ligações perigosas são registradas entre concessionária, construtoras e negócios diversos, envolvendo Petrobras e BNDES. Esses negócios dão conta também da participação no aeroporto de Feira de Santana (BA), na construção da linha 6 do metrô de São Paulo e em estaleiros, além de negócios imobiliários ao derredor de Viracopos. O senhor Ricardo Pessoa está preso e não deve ser por motivos fúteis. A UTC, a rigor, é uma empresa nova e que cresceu muito nas últimas duas décadas, chegando a ter 30 mil empregados. Agora, parece, está em dificuldades. Demitiu quase 50% de sua força de trabalho. Consta que quer vender Viracopos. E aí? Será que o juiz Moro sabe disso tudo?

 

AEROPORTOS: os aeroportos são hoje verdadeiros shopping centers, por onde milhares de potenciais compradores passam dia e noite. São 24 horas de exposição permanente. Leia o que diz The Economist: “Melhor ainda, todas as pessoas que frequentam o shopping são relativamente ricas e muitas delas se deixam levar pela alegria de estar saindo de férias. Agora imagine que o número desses shopping centers especiais é rigidamente controlado, o que deixa o empreendimento numa situação de quase monopólio. Como se não bastasse, para frequentar o shopping é preciso pagar uma tarifa. Diante disso, não surpreende que esteja na “moda” comprar aeroportos” (Estadão, 09/06). Segundo a revista inglesa, os melhores negócios estão na Europa, depois Ásia, em seguida Austrália e Estados Unidos. O Brasil não está nesse mapa, mas aqui é intenção aliená-los e UGTpress nem discutirá as questões semânticas entre privatização e concessão. Tanto faz. 

 

TAP: a empresa portuguesa de aviação, a TAP (Transportes Aéreos Portugueses), foi privatizada depois de um longo processo (iniciado em 2012). Ainda há ações contrárias correndo na Justiça de Portugal (veja nota a seguir). Dois grupos interessados chegaram à reta final: German Efromovich (Avianca) e David Neeleman (Azul). Venceu Neeleman, talvez por ter tido a inteligência de associar-se ao grupo português Barraqueiro, comandado pelo empresário Humberto Pedrosa, que atua especialmente no transporte terrestre e ferroviário. Há vários outros sócios no negócio: o próprio governo português manterá, por enquanto, participação estimada em um terço das ações (o grupo controlador terá preferência de aquisição) e fundos financeiros que já são sócios da brasileira Azul. O governo português garantiu a participação dos trabalhadores da TAP em 5% do capital. 

 

AÇÕES: houve e há várias tentativas visando a obstaculização da privatização da TAP, uma empresa orgulho dos portugueses, fundada em 1945 e que fez seu primeiro voo para o Brasil no início dos anos 1960. Partidos políticos, organizações não governamentais e alguns sindicatos fizeram campanha contra e criaram o slogan "não tap os olhos", querendo dizer que o negócio era ruim para o país. Mas, havia poucas alternativas: a TAP tem um enorme passivo e o governo português, em função de acordos no interior da União Europeia, estava impedido de colocar dinheiro na empresa. A solução foi privatizar. O Consórcio Gateway, nome da aliança vencedora da disputa, ficou com a empresa.

 

FUTURO: as análises iniciais, ainda prematuras, dão conta de que o negócio pode ser bom para as empresas participantes, especialmente a própria TAP e a brasileira Azul. A maioria dos analistas aposta na complementaridade de ações, pois a TAP voa da Europa para 11 capitais brasileiras e mais Viracopos em Campinas, onde estão centralizadas as operações da Azul. No futuro, será possível comprar uma passagem em uma cidade brasileira servida pela Azul diretamente até uma cidade europeia servida pela TAP. Essa complementaridade, possivelmente, foi o principal motivo para o Consórcio Gateway oferecer quase 100 milhões de euros mais do que o concorrente para ter a TAP.

 

NEELEMAN: um empresário vencedor, envolvido em negócios milionários, sempre desperta a curiosidade. David Neeleman, 55 anos, é filho de um jornalista norte-americano e nasceu no Brasil, em São Paulo, onde viveu os primeiros cinco anos de vida. Voltou ao Brasil na juventude como missionário mórmon, reaprendendo a língua portuguesa. Sua também nacionalidade brasileira permitiu que fundasse a Azul em 2008, hoje uma empresa aérea com 11 mil funcionários, atuando em praticamente uma centena de cidades brasileiras e transportando mais de 20 milhões de passageiros por ano. Neeleman fundou também as americanas Jet Blue e Morris Air, e a canadense West Jet, todas vendidas. Sem dúvida, pode-se dizer que ele é um empresário arrojado. Contudo, o sucesso deste novo negócio é algo ainda a conferir, apesar das boas perspectivas.

 

MERCADO EM RECUPERAÇÃO: o mercado para as empresas aéreas em passado recente, embora vigoroso em termos de passageiros, não representava grandes lucros, sobretudo em função do preço dos combustíveis. A queda no preço do petróleo reanimou o setor que, neste ano, poderá apresentar lucros. Infelizmente, isso não acontecerá com as empresas brasileiras. Elas têm dívidas em dólar e a alta da moeda americana em relação ao real praticamente anulou as vantagens que podiam ser oferecidas pela queda no preço do petróleo. A TAM está praticamente absorvida pela LAN e a Gol está operando em acordo com a Delta americana. O futuro das empresas aéreas brasileiras, com exceção da Azul, agora com novas perspectivas, ainda é incerto. O mercado aéreo está muito vinculado aos sucessos econômicos de um país. No caso do Brasil, a crise deverá tirar aproximadamente 30% dos viajantes ao exterior. 




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