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UGT Press 452: Ainda a China


23/06/2015

CHINO-DEPENDÊNCIA: a visita do primeiro-ministro chinês ao Brasil, realizada no mês de maio, culminando com assinaturas em documentos importantes, certamente maturados longamente – convênios bilaterais de cooperação em várias áreas – tem levado alguns analistas a buscarem outros significados e outras explicações além daquelas explicitadas nos acordos, fruto do relacionamento entre duas nações soberanas. A mais grave dessas especulações reside na criação de uma nova dependência, gravitando em torno de interesses hegemônicos chineses e deslocando o Brasil da influência Ocidental para a Oriental. Não é um problema simples. Alguns acordos entre o Brasil e a China mudam completamente o enfoque estratégico em certas regiões. Um deles, ligado à segurança, sobre o sensoriamento remoto, telecomunicações e tecnologia da informação para a proteção e defesa da Amazônia, pode aguçar a preocupação dos vizinhos e também do gigante do norte, os Estados Unidos. Isso exigirá do Brasil grande habilidade em apaziguar as desconfianças de uns e de outros.

 

POTÊNCIAS EMERGENTES: ambos são países com futuro, de grandes populações e territórios. A China tem um território equivalente, mas menor em termos agricultáveis. O Brasil tem mais recursos naturais, maior capacidade de produção agrícola, mas tem um potencial tecnológico infinitamente menor. A indústria chinesa se desenvolveu enquanto no Brasil há algumas ilhas de excelência (Embraer, por exemplo), mas ainda falta uma política industrial consequente e verdadeiramente eficiente. A indústria brasileira vem perdendo espaço, enquanto a chinesa vem ganhando. Os países são promessas de desenvolvimento e crescimento, mas a China cresce há três décadas seguidas, enquanto o Brasil passou por crises e teve um crescimento medíocre se comparado ao chinês. Há que se dizer que são países diferentes, mas há uma grande avenida de complementação e essa capacidade de se complementarem é que torna atraente a relação China-Brasil.

 

OUTRAS DIFERENÇAS: a corrupção afeta os dois países, mas no Brasil ela atingiu um nível que compromete o desenvolvimento e debilita a fé das pessoas nas instituições. Na China, um governo forte, centralizado e leis duríssimas seguram a violência que grassa no Brasil. Considerando que a população chinesa é muitas vezes maior do que a do Brasil, nossos índices de violência são infinitamente maiores, seja quantitativa ou comparativamente falando. As reservas chinesas são exponenciais e facilitam sua política de expansão política e comercial, também facilitada por uma mão de obra qualificada e disciplinada. No Brasil, os índices de produtividade são ridículos, a rotatividade da mão-de-obra escandalosa e a legislação trabalhista anacrônica. Enfim, o Brasil só alcançará a China se fizer reformas e modernizar suas instituições. Algo difícil de ser feito em curto prazo, com sua elite legislativa incompetente e corrupta. Faltam-nos muitas das virtudes chinesas e sobram-nos muitos defeitos tropicais, alguns dos quais arraigados desde a época colonial.

 

PROMESSAS: antes da visita do primeiro-ministro Li Keqiang ao Brasil, Colômbia, Peru e Chile, o presidente da China, Xi Jinping, declarou que, nos próximos 10 anos, seu país investirá na América Latina nada menos do que 250 bilhões de dólares. Isso é mais do que o dobro investido até agora no Continente. A visita do primeiro ministro chinês aos outros três países mostra o inegável interesse em relação aos países que fazem parte da Parceria Trans-Pacífico (TPP). Aliás, quando esta parceria foi lançada pelos Estados Unidos, os chineses olharam-na com desconfiança, mas, com o tempo e análises mais acuradas, a China mudou radicalmente de posição e enxergou novas oportunidades de mercado. Essa postura é uma lição: é preferível participar dos novos desafios a esconder-se por detrás de desconfianças. Diferente agiu o Brasil em relação aos TLCs (Tratados de Livre Comércio), ficando atado aos acordos de integração regional que, via de regra, não decolam pela miopia e desconfiança dos próprios parceiros. Brasil e Argentina são exemplos de desconfianças mútuas, nocivas e contraproducentes. Naturalmente, essas limitações facilitam o jogo da China na região.

 

CENTRAIS BRASILEIRAS: as centrais brasileiras de trabalhadores devem mudar suas posições defensivas e conservadoras, partindo para uma análise mais consistente da situação nacional e, se possível, ajudar o governo a superar o nó do atraso. Faltam-nos lideranças políticas e estadistas. Está mais do que na hora de os trabalhadores assumirem novo papel.  




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