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UGT Press 449: Ajuste, PIB per capita e poder de compra


02/06/2015

NECESSIDADE DE AJUSTE: a crise internacional e as trapalhadas internas na economia, na maior parte ocasionadas pelas ações de Guido Mantega, um nome estranhamente esquecido nesses tempos duros, impeliram o governo ao ajuste fiscal. A manutenção de um sistema de gastos irresponsáveis, que serviu para ganhar as eleições, mas colocou Dilma Rousseff, sucessora de si mesma, numa armadilha orçamentária, levou o Brasil à necessidade de um profundo encontro de contas. Procurar um novo ministro da Fazenda para gerenciar esse novo e dramático momento da economia brasileira foi complicado. Buscou-se um quadro importante de um dos maiores bancos privados do país. Joaquim Levy foi o indicado, mas sua vida não tem sido fácil. Pegou uma economia em pleno desaquecimento, orçamento público deficitário, balanço de pagamentos descontrolado e inflação em alta. Fora os complicadores econômicos, convive com um inédito Congresso Nacional desobediente, mais preocupado em sair de sua evidente vinculação com os escândalos de corrupção.

 

PRIMEIRO TRIMESTRE: este quadro difícil está dificultando a votação das medidas necessárias ao ajuste fiscal. Contando que Dilma Rousseff é sucessora de si mesma, o governo perdeu 120 dias no esforço de compor o ajuste fiscal. Enquanto isso, outros indicadores foram eloquentes: diminuíram os investimentos, caiu a confiança dos empresários, o desemprego subiu e os salários diminuíram (ainda que ligeiramente), as vendas no varejo caíram e o PIB, confirmando as piores expectativas, foi negativo. Essa situação tem levado o Comitê de Política Monetária a aumentar os juros e estes chegaram a absurdos 13,25%. Os trabalhadores não entendem bem essa dinâmica dos juros altos. Sabem que dificulta suas vidas, mas não chegam a vinculá-los com as taxas cobradas nas vendas a prazo do comércio, aos juros estratosféricos aplicados nas contas das pessoas físicas devedoras (cheque especial) ou nos saldos devedores dos usuários cartões de crédito. Para os trabalhadores, essas práticas são simplesmente roubo, crimes contra a economia popular.

 

CÂMBIO: a desvalorização do real chegou a ser comemorada em certos setores exportadores. Mas, a percepção geral é de que isso não é bom, a começar pela classe média brasileira, na última década frequentadora dos aeroportos internacionais. O pior no caso do câmbio será a queda do PIB per capita do brasileiro. Estudos do FMI (Fundo Monetário Internacional) mostram que o PIB per capita medido em dólares, neste ano, ficará inferior a 2014: este ano US$ 15,9 mil e em 2014 US$ 16,1 mil. Isso não acontecia desde 2009. O Brasil, segundo a maioria dos analistas internacionais, por miopia econômica e política, desprezou as oportunidades da última década, quando houve uma rara combinação do aumento de preços das commodities e o aumento do mercado interno, o que permitiu um crescimento inédito da economia. A insistência de Guido Mantega na mesma política ou mesmo esquema econômico anterior, em condições claramente modificadas, foi um grave erro.

 

COMPARAÇÕES: "Se analisarmos a decomposição da renda per capita do Brasil, o que puxou o crescimento até 2010 foi a melhora da eficiência da economia. O segundo elemento foi o fato de que o país estava aproveitando o bônus demográfico, ou seja, a proporção de pessoas economicamente ativas em relação ao total da população aumentou e, por fim, o estoque de capital também vinha crescendo" (Estadão, 03-05). A afirmação é do professor Clemens Nunes, da FGV (Fundação Getúlio Vargas) e revela o momento especial vivido pelo Brasil que, a rigor, não foi aproveitado para melhorar o seu desenvolvimento. Ao contrário, a situação extremamente boa proporcionou o aprofundamento da corrupção e das más práticas administrativas, com o aumento dos gastos públicos. Duas comparações: a) Coréia do Sul: em 1980 o PIB per capita do Brasil era de US$ 4,8 mil e o da Coréia U&$ 2,2 mil; neste ano, a Coréia atingirá US$ 36,6 mil de PIB per capita; b) a China, tradicionalmente, sempre teve um PIB per capital menor do que o do Brasil. Até o final desta década, a China ultrapassará o Brasil em termos de PIB per capita.

 

PODER DE COMPRA: os cálculos do PPC (Paridade do Poder de Compra), uma medida mais precisa para comparações, mostram que o Brasil está mal na foto. Em 2011, o Brasil chegou a 30% do PPC em relação aos Estados Unidos, país que serve como referência global. Recuou em 2014 e deve recuar mais ainda em 2015. Neste quesito, o Brasil, mesmo aqui no Cone Sul, está atrás de Chile e Uruguai. Os cálculos são do FMI, divulgados em abril e levam em conta o PIB per capita. As comparações são mais coerentes porque eliminam distorções. Medido em PPC, por exemplo, o PIB per capital brasileiro em 2014 foi de US$ 16.096, enquanto o americano foi de US$ 54.597, o que significa que o cidadão brasileiro compra apenas 29,5% do que compra um cidadão americano. Os chilenos compram 42,1% e os uruguaios 37,7%.

 

CARACTERÍSTICAS DESENVOLVIMENTISTAS: países que aumentaram o seu PIB per capita e, consequentemente, seu poder de compra, adotaram algumas medidas muito semelhantes: priorização da educação, abertura econômica, diminuição da burocracia, diminuição da influência do setor público nos negócios, reformas modernizantes, etc.. Foram os casos, por exemplo, de Polônia, Coréia do Sul, Estônia, Taiwan, Chile e outros.




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