07/05/2015
Reino Unido vai às urnas sob a incerteza de quem governará
Os britânicos vão às urnas nesta quinta-feira (7) com a perspectiva de que nenhum partido terá maioria no Parlamento e a incerteza sobre quem será o novo primeiro-ministro após as eleições.
Pelo sistema eleitoral local, quem ganhar pode, de fato, não levar. Segundo as últimas pesquisas, o Partido Conservador, do atual premiê David Cameron, e o Trabalhista, do líder Ed Miliband, travam uma disputa acirrada entre 33% e 35%, com ligeira vantagem para o primeiro.
O Reino Unido tem 45 milhões de eleitores, mas o voto não é obrigatório.
Os conservadores devem obter o maior número de cadeiras, mas não o mínimo necessário de 326, do total de 650, para governar sozinho.
Hoje aliado na coalizão que elegeu Cameron em 2010, o Liberal-Democrata tende a perder metade dos atuais 57 lugares e não ser mais decisivo para garantir maioria -além disso, as duas legendas romperam na campanha.
Cameron precisará, diante deste cenário, ganhar tempo para negociar algum tipo de apoio. Confirmado o resultado, ele pretende celebrar a vitória do seu partido nesta sexta (8) mesmo que, em tese, ainda não tenha votos no Parlamento para tanto.
Com o gesto, quer tirar a legitimidade dos trabalhistas em discutir acordos -sobretudo com o SNP (Partido Nacional da Escócia)- que possam eleger Ed Miliband premiê, apesar da provável posição de segundo colocado.
Por outro lado, os trabalhistas vão responder que Cameron não pode reivindicar vitória sem ter a maioria. Será o ápice do "parlamento enforcado", expressão usada diante dessa situação.
Espera-se que o impasse, considerado o mais incerto desde a Segunda Guerra Mundial, tenha desfecho até 18 de maio, quando o novo Parlamento se reúne pela primeira vez, ou, no máximo, em 27 de maio, data do discurso da rainha Elizabeth 2ª que abre o ano legislativo.
A regra britânica não impede o segundo colocado de buscar alianças para indicar o premiê. Diz que, no caso de um partido não atingir maioria, assume quem for mais capaz de obter o "voto de confiança" do Parlamento.
Há um precedente no longínquo 1924. Os trabalhistas chegaram dessa maneira pela primeira vez ao poder, mas com um governo frágil e instável, que durou nove meses.
David Cameron, que tem usado os números positivos da economia como bandeira de campanha, fez apelo nesta quarta (6) pelo voto tático a favor dos conservadores.
"Um voto para o Ukip ou liberais-democratas abre as portas para um governo trabalhista", disse.
O Ukip é o partido de extrema direita que não deve conseguir mais do que três cadeiras no Parlamento, mas tem tirado votos dos conservadores em vários distritos.
Analistas afirmam que o SNP pode dar os votos necessários para eleger Miliband, mas sem integrar formalmente seu governo. Em comum, ambos criticam a austeridade fiscal dos conservadores.
O SNP deve ser a sensação das urnas. Pesquisas indicam que pode obter ao menos 50 das 59 cadeiras da Escócia em Londres (hoje tem seis).
O apoio a Miliband seria então para o chamado "governo minoritário", em que o premiê é eleito em troca de aceitar reivindicações e sem ter automaticamente a maioria do Parlamento ao seu lado -no caso, negocia a votação de cada projeto.
Parece instável politicamente, mas pode ser a única maneira de Miliband chegar ao poder. Os dois lados, por ora, descartam coalizão formal. A principal bandeira do SNP é a independência escocesa, e os trabalhistas não teriam como justificar no governo um partido que prega a divisão do território.
"Mas a cooperação com o SNP é o único jeito de os trabalhistas formarem governo. É razoável supor que discussões entre os dois partidos ocorram após as eleições", afirma o professor de ciência política Archie Brown, da Universidade de Oxford.
"Embora discordem sobre a separação escocesa, ambos têm muito em comum, sendo essencialmente sociais-democratas", diz Brown.
Fonte: Folha de S. Paulo
UGT - União Geral dos Trabalhadores