A diretora do Sinsaúde, Vicentina da Silva Melo André, responsável pelos postos de atendimento do Sindicato em Atibaia e Bragança Paulista, é uma das homenageadas no livro comemorativo dos 150 anos da Santa Casa de Bragança Paulista, como a funcionária mais antiga da unidade hospitalar.
“Fiquei muito feliz e honrada pelo fato da Santa Casa me incluir neste documento histórico da entidade. É um orgulho e o reconhecimento de uma vida inteira de dedicação”, comemora.
Vicentina faz parte do quadro de funcionárias da Santa Casa desde 15 de janeiro de 1963 e, mesmo depois de aposentada, continua ativa.
História de trabalho
Esta história começa quando ela se muda de Joanópolis, sozinha, para morar com a irmã, Isabel, em Bragança. Tinha 16 anos e vinha atrás de oportunidade de completar os estudos, fazendo Admissão e Ginásio, como era chamado o Ensino Fundamental.
Começou a trabalhar no consultório do dentista Ivo de Freitas, cujo pai era mordomo na Santa Casa. Dele recebeu o convite para servir na unidade de saúde, onde poderia morar também, num dormitório de moças, sob supervisão da Irmã Priscila. Trabalhava como servente, mas já começara a aprender o ofício da Enfermagem, ajudando na Pediatria.
“Não tinha salário. De vez em quando as freiras davam um dinheirinho para nós. Mas ali eu pude estudar e me profissionalizar”, conta.
Mesmo sob a vigilância das freiras, inclusive de uma prima religiosa, Irmã Raquel, Vicentina dava umas fugidinhas do dormitório para frequentar os bailes dançantes e pular carnaval. Num desses bailes, conheceu o amor da vida inteira, Mauro, com quem é casada há 47 anos. “É um companheirão em tudo”.
Aos 18 anos, foi registrada na Santa Casa como atendente de Enfermagem. Morou por 15 anos na Santa Casa e só saiu de lá depois de casada.
Ela conta que certa vez os profissionais receberam curso de Atendente de Enfermagem e começaram a pedir aumento de salário. “Eu fui junto. Acho que já era a sindicalista nascendo ali”, conta aos risos. “O provedor me deu um pito dizendo que só me daria aumento quando eu apresentasse um diploma para ele. Daí fui fazer a Escola de Comércio”. Cursou contabilidade, mas nunca praticou a profissão. Seu destino estava vinculado à Enfermagem. Quando houve oportunidade, fez o curso de Técnica de Enfermagem, a primeira turma com reconhecimento do MEC. Mesmo período em que ficou grávida da filha, Andressa.
omeçou a se aproximar do Sindicato por causa da antiga diretora do Sinsaúde, Marli Runge (1948-1998), de Jundiaí, que levava as fichas para Vicentina, nesta época presidente do Grêmio da Enfermagem, para sindicalizar os trabalhadores. “A Santa Casa não gostava daquilo não, mas eu fazia”.
Em 1993, participou da primeira reunião do Sinsaúde, em Panorama, e é eleita como delegada do Sindicato. “Comecei a comer o pão que o diabo amassou na Santa Casa, depois que entrei no Sindicato. Eles me isolaram na hemodiálise, onde não tinha contato com outros trabalhadores. Eu não queria, me ameaçaram de demissão por justa causa, mas perseverei”, relata.
Depois que a hemodiálise foi terceirizada, voltou para Enfermagem na Agência Transfusional, antigo banco de sangue. “Quando o Sindicato abriu o posto de atendimento de Atibaia, eu assumi, depois veio o de Bragança, que também ficou sob minha responsabilidade. Tenho que agradecer a confiança que o presidente Édison (Laércio de Oliveira) e ao Almir que sempre confiaram em mim e me ofereceram esta oportunidade de servir à categoria”, lembra.
Os conflitos não diminuíram o amor e respeito que Vicentina sente pela Santa Casa. Ela fala com orgulho do livro do qual também é personagem. O livro 150 anos da Santa Casa de Bragança Paulista (1874-2024) – Movidos pelo bem, Inovando para o Futuro - é um material histórico sobre a fundação da entidade ainda quando a cidade se chamava apena Bragança. O Paulista só viria em 1944, para se diferenciar da Bragança, do Pará.
O documento traz um importante resumo histórico do município, da trajetória e da importância das santas casas em todo o País e para a criação do Sistema Único de Saúde, além de uma linha do tempo que apresenta detalhes sobre a evolução tecnológica e o progresso da entidade sesquicentenária, desde o pavilhão dos tuberculosos, a construção da maternidade, a mudança dos prédios, a presença das freiras, entre tantos feitos.
Vicentina conta que uma parte importante desta história é a dedicação aos trabalhadores da saúde. “A Santa Casa estava numa época muito difícil, quase para fechar. Nós, os funcionários mais velhos, trabalhávamos dia e noite para garantir o salário. Não tinha cesta básica, (por exemplo, nem outros benefícios conquistados pelo Sinsaúde). Hoje, eu vejo o tamanho da Santa Casa e fico orgulhosa de mim mesma. Eu também ajudei essa instituição a crescer”, descreve.