06/09/2024
A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 66 de 2023, aprovada no Senado Federal e agora em tramitação na Câmara dos Deputados, representa um ataque frontal aos direitos dos servidores públicos, colocando em risco conquistas históricas arduamente garantidas por meio de lutas sindicais e coletivas. Disfarçada sob o pretexto de estabilização das finanças públicas e equilíbrio atuarial dos regimes próprios de previdência, a proposta, na realidade, transfere para os servidores a responsabilidade por uma crise fiscal que não lhes cabe, impondo sacrifícios desproporcionais e ameaçando o sustento daqueles que dedicam suas vidas ao serviço público.
A tentativa de uniformização das
regras dos regimes próprios de previdência dos Estados, Municípios e Distrito
Federal com as da União (Art. 40-A) é um ataque direto à autonomia dos entes
federativos e às particularidades regionais, ignorando por completo a realidade
dos servidores públicos locais. O que está em jogo aqui é a descaracterização
de conquistas alcançadas após intensa mobilização e articulação das entidades
representativas do funcionalismo público, especialmente após a aprovação da EC
103/19. O que se desenha com a PEC 66/2023 é nada menos que uma nova Reforma da
Previdência, mascarada como medida de ajuste fiscal, que ignora as diferenças
econômicas e sociais dos diversos Estados e Municípios. Impor regras uniformes
é sobrecarregar os servidores(as), especialmente aqueles que ingressaram no
serviço público sob condições diferentes das agora propostas, e que já passaram
por uma reforma da previdência a nível local, levando novamente à precarização
de seus direitos e de sua aposentadoria.
Além disso, a PEC 66/2023
estabelece limites inaceitáveis para o pagamento de precatórios, vinculando-os
a percentuais da receita corrente líquida dos municípios (Art. 100, § 23). Essa
medida é um verdadeiro desrespeito aos servidores, que há anos aguardam o
pagamento de valores reconhecidos judicialmente. O prolongamento desses prazos
não apenas aprofunda a injustiça, como também cria insegurança financeira para
aqueles que dependem desses recursos para garantir uma aposentadoria digna ou
honrar compromissos pessoais. A tentativa de justificar essa moratória sob o
argumento de "ajuste fiscal" não passa de uma estratégia para
precarizar ainda mais os direitos dos servidores, enfraquecendo garantias
constitucionais básicas, como o direito de receber precatórios em tempo hábil.
Outro ponto gravíssimo da PEC é a
desvinculação de receitas municipais até 2032 (Art. 76-B). Essa medida
compromete diretamente os recursos destinados a áreas essenciais, como a
previdência e o pagamento de pessoal. Embora o texto traga algumas exceções,
como para o magistério, a flexibilização proposta abre brechas que colocam em
risco a segurança financeira dos servidores e a qualidade dos serviços públicos
prestados à população. Essa política de desvinculação representa mais um
retrocesso no que diz respeito à garantia de direitos dos trabalhadores e
aprofunda a precariedade já enfrentada pelos servidores.
É imprescindível lembrar que são
os servidores públicos que sustentam o funcionamento da máquina estatal,
garantindo serviços fundamentais à população, como saúde, educação e segurança.
Atacá-los com medidas que retardam o pagamento de precatórios e impõem
condições previdenciárias cada vez mais restritivas é, na verdade, uma forma de
desmantelar o próprio serviço público, comprometendo a motivação e a dignidade
desses profissionais. Essas ações são um claro desrespeito aos direitos
adquiridos e representam uma violação das conquistas construídas ao longo de
décadas de luta.
Portanto, conclamamos o Congresso Nacional a rejeitar essa PEC, considerando o impacto devastador que ela trará aos servidores públicos. É preciso preservar os direitos já conquistados e buscar soluções justas para o equilíbrio das finanças públicas, sem sacrificar aqueles que dedicam suas vidas ao serviço da sociedade. A valorização dos servidores públicos é fundamental para o fortalecimento do Estado e a garantia de serviços de qualidade à população. Qualquer reforma que afete esses trabalhadores deve ser pautada pela justiça social e pela proporcionalidade, sem penalizar os que já são historicamente sobrecarregados.
UGT - União Geral dos Trabalhadores