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Trabalhadores que deixaram grandes cidades na pandemia enfrentam nova realidade


11/04/2023

Antes de ser demitido pela Amazon (AMZN), Jesse Lindsey estava ganhando mais dinheiro do que nunca trabalhando em casa, na cidade de Bozeman, no estado americano de Montana.

Depois de perder seu emprego, o homem e veterano da Marinha americana de 39 anos se viu empilhando caixas no supermercado local. Não era a vida que ele imaginava quando se mudou com sua família no ano passado, abrindo mão de uma vida na Marinha para aceitar um emprego totalmente remoto como recrutador técnico na cidade montanhosa.

A decisão da Amazon de eliminar dezenas de milhares de empregos – parte da onda de centenas de milhares de cortes em empresas em todos os Estados Unidos neste ano – está forçando trabalhadores remotos como Lindsey a fazer escolhas difíceis.

Sair ou ficar? Esperar outro trabalho remoto altamente remunerado, ou mudar para um emprego local com um salário mais baixo?

Essas são as questões enfrentadas pelos moradores das chamadas “cidades Zoom” – apelidadas devido à prevalência de trabalhadores remotos que passam seus dias em videochamadas. São cidades belas, mas distantes dos centros tecnológicos e financeiros tradicionais do país. Elas prosperaram durante a pandemia, oferecendo aos trabalhadores remotos os encantos de pequenas cidades e uma chance de fazer com que seus salários de cidade grande rendessem.

Agora, três anos depois que o modelo de trabalho da pandemia começou a tomar forma, novas realidades econômicas o estão desafiando, levando seus beneficiários a um território desconhecido novamente.

 

‘Cidades de consumo’

“Tendo a acreditar que o que aconteceu durante a pandemia foi o resultado de 40 anos de mudanças urbanas turbinadas”, diz Edward Glaeser, professor e presidente do departamento de economia da Universidade de Harvard e autor do livro Triumph of the City. “O Zoom significou que as pessoas poderiam literalmente escolher onde queriam viver. Então foi exatamente o que fizeram.”

Muitos se mudaram para o que Glaeser chama de “cidades de consumo”, atraídos pelo estilo de vida, e não pelo mercado de trabalho. Essas cidades tendem a ser menores, com centros vibrantes que muitas vezes estão ligados às faculdades e universidades locais.

Bloomington, no estado de Indiana, é um desses lugares. A 2.300 quilômetros do Vale do Silício e 1.200 quilômetros de Wall Street, com uma pequena população, uma grande universidade e uma cena artística em ascensão, parecia o local ideal para Charles Pearce viver com sua família.

Ele, a esposa e os dois filhos moravam em um apartamento alugado de três quartos em Austin, no Texas, onde sua esposa trabalhava na área de tecnologia e ele ganhava US$ 75 mil por ano como diretor criativo independente, trabalhando em campanhas de design para grandes marcas de consumo.

O plano era levar esse trabalho para Bloomington. Lá, por US$ 450 mil, a família comprou uma casa com quatro quartos e quatro banheiros. Eles se mudaram em junho do ano passado e rapidamente se apaixonaram por sua nova vida. Tudo parecia custar menos, desde as aulas de música para as crianças até aulas de escalada e os jantares fora. Além disso, era uma cidade legal. Talvez até mais legal que Austin.

“Quando descrevo Bloomington para as pessoas, digo que é como se o Brooklyn não estivesse cheio de gente e estivesse ligado a uma cidade tranquila”, diz Pearce, de 40 anos.

Mas, em outubro, o trabalho remoto de Pearce havia acabado pois as empresas reduziram os orçamentos para marketing e publicidade em resposta à crescente incerteza econômica. O tipo de negócios com os quais ele trabalhava em Austin não existia em Bloomington.

Então Pearce fez algo que não fazia há muito tempo: ele conseguiu um trabalho presencial na cidade. Ele fazia parte de um grupo de designers em um espaço de tecnologia e empreendedorismo chamado The Mill e entrou em contato com o chefe de marketing de lá. Em cerca de duas semanas, ele havia conseguido um emprego de especialista em marketing. Ele passou a receber US$ 50 mil a menos por ano, mas estava satisfeito por ter um trabalho. Além disso, ele gosta do que faz.

 

Benefícios locais

Embora seja difícil estimar o número de trabalhadores remotos que se mudaram para as “cidades Zoom para serem demitidos mais recentemente, a pandemia gerou um êxodo de pessoas das grandes cidades e um surto de trabalho remoto. Isso aconteceu principalmente no setor de tecnologia, um dos que agora mais está cortando o quadro de funcionários.

Empreendedorismo do interior

Isso representa uma oportunidade para setores menos glamurosos ou menos capitalizados que antes nunca poderiam ter competido com empresas como Amazon ou Google (GOOG) pelos melhores talentos.

“Muitas empresas, antes dos layoffs do setor de tecnologia, simplesmente não conseguiam contratar desenvolvedores e agora estão entrando no mercado – empresas como John Deere (DE) e Walmart (WMT)”, diz Nicholas Bloom, professor de economia de Stanford que vem estudando trabalho remoto há décadas. Isso também poderia “estimular o crescimento do empreendedorismo rural”, disse.

 

Shannon Milliman destaca as duas oportunidades

A mulher de 42 anos, mãe de cinco filhos, se mudou de Portland, no estado do Oregon, para Florence, no estado do Alabama, em 2021. Milliman tinha um emprego remoto na Amazon e ganhava US$ 120 mil por ano, incluindo bônus. Na pandemia, ela e o marido queriam uma mudança e começaram a procurar casas “em todos os lugares”. Um programa chamado “Remote Shoals”, que oferecia um subsídio em dinheiro para que as pessoas se mudassem para o noroeste do Alabama, favoreceu a mudança pra Florence.

Eles compraram uma casa três vezes maior do que a que tinham em Portland. A hipoteca era o dobro também. Mas, em Florence, com seu salário, era possível pagar. Havia um riacho atrás de sua casa, e Milliman ficou encantada com a beleza natural e a cultura de sua nova comunidade.

 

Algo menos encantador foi sua demissão no ano passado

Depois de receber ajuda de seus novos vizinhos, ela acabou conseguindo um emprego como gerente de treinamento em uma fábrica local. Ela ganha menos e sentiu algumas diferenças culturais entre sua nova cidade e Portland. Mas seus empregadores permitiram que ela trabalhasse em uma jornada de trabalho de dez horas por dia, quatro dias por semana.

“Meu orçamento ficou mais apertado”, diz ela. “Mas consigo sentir certo alívio porque eles estão respeitando outras partes das coisas que eu precisava, como minha vida pessoal.”

Esse alívio também permitiu que ela abrisse seu próprio negócio. Mais de 5 milhões de empresas foram criadas nos EUA no ano passado, um aumento de 44% em relação a 2019, um fenômeno mais acentuado nos estados do sul.

O novo negócio de Milliman se chama Remembrara e ajuda as pessoas a escrever suas histórias de vida ou as de seus entes queridos por meio de um serviço de assinatura. Ela ganhou o primeiro lugar por sua ideia em uma competição de negócios local.

Histórias como a de Milliman alinham com a opinião de Glaeser, o economista de Harvard, de que os funcionários com empregos remotos provavelmente conseguirão superar obstáculos no mercado de trabalho. Os trabalhadores remotos tendem a ser altamente qualificados, o que lhes dá a capacidade de se adaptarem.

Foi o que Lindsey fez em Bozeman. Ele gostava das pessoas que trabalhavam com ele no supermercado, mas não era o trabalho certo para ele. Ele acabou conseguindo um emprego local como especialista em sistemas de RH em uma empresa de assistência médica chamada Best Practice Medicine. Ele ganha menos do que na Amazon, mas ele gosta do trabalho presencial. A empresa fica em um edifício modernista no topo de uma colina.

Fonte: https://www.bloomberglinea.com.br/2023/04/09/trabalhadores-que-deixaram-grandes-cidades-na-pandemia-enfrentam-nova-realidade/




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