12/02/2014
A economia já demonstra os reflexos do clima atípico, extremamente seco, em diferentes segmentos produtivos. Na região metropolitana de São Paulo, onde está concentrada grande parte da indústria, empresas intensivas no uso de água - como as de papel e celulose, abate de aves, química e petroquímica e de bebidas - começam a debater soluções imediatas e também para o restante do ano. É o caso da indústria química, que, em reunião amanhã, na sede da Associação Brasileira da Indústria de Química e de Produtos Derivados (Abiquim), irá analisar alternativas.
"A indústria depende de água, energia, logística e mão de obra. Quando um desses itens falta, é claro que há dificuldade. Hoje, há um problema de falta de estoque de água, que vai trazer impacto à indústria para julho, agosto, durante o período de seca (normalmente). O setor de bebidas deve ser um dos primeiros a sofrer. (A questão do abastecimento) poderá se refletir em diminuição da produção, menor oferta de produtos e aumento de preços, além da redução do emprego", diz José Nunes Filho, diretor titular do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp-Campinas).
Na agricultura, a estiagem atrapalha uma parcela da cultura de soja, principal cultura brasileira, mas os efeitos estão sendo sentidos, de fato, entre os produtores de milho, utilizado, principalmente, como ração na criação de porcos e aves, o que indica a possibilidade de efeito mais à frente sobre a inflação das duas carnes. Fernando Pimentel, da consultoria Agro Security, ressalta que há risco de perdas em Minas Gerais, Bahia, Goiás e São Paulo. "O problema não é só a seca. O calor excessivo gera abortamento de plantas de várias culturas. É o caso do café e da laranja", explica
No comércio, a preocupação é com o consumo inteligente, o que permitiria ao setor reduzir em até 60% o uso de água, projeta a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de São Paulo (Fecomercio-SP). A estimativa da instituição é que, hoje, sejam gastos de 6 litros a 10 litros por metro quadrado de loja a cada dia, enquanto o ideal seria alcançar volume de 2 litros a 4 litros. "Apenas no momento de pré-racionamento é que a conscientização chega. Precisamos de mudanças de hábito", destaca Jaime Vasconcellos, assessor econômico da Fecomercio-SP. Ele propõe que as próprias companhias municipais de abastecimento reutilizem água e que o comércio substitua equipamentos para retrair o consumo. Em alguns casos, em sua opinião, a solução está no racionamento de fato.
A previsão é de temporal no próximo sábado, mas com chuvas localizadas e insuficientes para encher os reservatórios de abastecimento municipais de água e de hidrelétricas, informa o Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (Ceptec). Neste ano, em janeiro, foi registrado recorde de temperatura em várias cidades do Brasil e, em algumas cidades, a umidade relativa do ar atingiu níveis baixos até mesmo para o inverno. É o caso de São José dos Campos, cidade industrial paulista, onde a umidade relativa do ar chegou a bater 10%. Na Região Metropolitana de São Paulo, atendida pelo sistema de abastecimento Cantareira, a situação também é crítica.
"Hoje, o Sistema Cantareira está com menos de 20% da capacidade, quando o normal para essa época seria de 70%. A gente sabe que vai chover, mas isso não vai resolver o problema. Tem que fazer racionamento e as empresas vão ter que buscar alternativas, como água de reúso. Mas o racionamento é inevitável", aposta Nunes Filho, do Ciesp-Campinas.
"Uma parcela da indústria possui processos produtivos antigos, ainda do período em que o uso racional da água não chegava a ser uma questão importante", diz José Carlos Mierzwa, diretor do Centro Internacional de Referência de Reúso de Água (Cerra). Ele dá o exemplo de uma fábrica de abate de aves da Região Metropolitana de São Paulo, que conseguiu ampliar a produção reduzindo o consumo de água em 35% apenas com melhorias em seu processo.
Fonte: Valor Econômico
UGT - União Geral dos Trabalhadores