10/02/2014
Com duas longas tranças emoldurando seu rosto de 55 anos, Steve DeAngelo é um dos mais bem-sucedidos empresários da maconha nos Estados Unidos. Ele faturou US$ 32 milhões em 2013 com a venda de 50 tipos da erva e outros 200 produtos relacionados, entre os quais alimentos e extratos que contêm cannabis, além de acessórios como cachimbos, sedas e vaporizadores, método cada vez mais popular de consumo da erva.
O resultado é um salto de 9.000% em relação aos US$ 350 mil que DeAngelo obteve com amigos e familiares para abrir o Harborside Health Center, onde diz ter 140 mil "pacientes". Como a maioria dos empreendedores do baseado, ele começou na Califórnia, o primeiro Estado a autorizar o uso medicinal da maconha, em 1996.
Hoje ele tem uma loja em Oakland, outra em San José e se prepara para abrir a terceira em Boston, na costa leste, no que é um primeiro passo para construção de uma marca nacional. A exigência de prescrição médica não é um empecilho para as vendas, já que "é muito fácil" obtê-la, disse DeAngelo.
Depois da Califórnia, 19 Estados e o Distrito de Columbia aprovaram o uso medicinal da cannabis. Desde 1.º de janeiro, o consumo "adulto" ou "recreativo" passou a ser permitido nos Estados de Colorado e Washington, primeiros a descriminalizarem totalmente a droga.
O aumento dos "territórios livres" e a crescente aceitação da opinião pública está criando um boom no setor, que deve movimentar US$ 2,6 bilhões este ano, 60% mais do que em 2013, segundo o Arcview Group, empresa de consultoria fundada por DeAngelo e Troy Dayton, que era responsável pela arrecadação de recursos para o Marijuana Policy Project, ONG que defende a legalização da droga.
A previsão é que o mercado chegue a US$ 10,2 bilhões em cinco anos, impulsionado pela expansão de legislações que descriminalizam a maconha. Dez Estados têm propostas que permitem o uso medicinal, entre os quais a Flórida, que deve decidir o assunto neste ano. Em agosto, os eleitores do Alasca vão votar uma proposta que legaliza o uso recreativo da maconha. Votação semelhante deve ocorrer na Califórnia em 2016.
O governo da Califórnia estima que arrecada de US$ 59 milhões a US$ 109 milhões ao ano com tributos sobre a venda de cannabis - o valor não é exato porque as empresas não precisam identificar o setor de atuação. Mais populoso Estado do país, com 38 milhões de habitantes, a Califórnia poderia gerar US$ 1,4 bilhão por ano em impostos estaduais e federais sobre a maconha se a droga fosse totalmente legalizada, avalia a ONG Drug Policy Alliance.
O Colorado tem o mais regulado mercado do país e permite o uso medicinal da cannabis desde 2010. Nos 12 meses encerrados em junho, registrou US$ 328,6 milhões em venda de maconha, o que gerou US$ 9,1 milhões em impostos estaduais.
Lobista. Os interesses do setor são defendidos pela National Cannabis Industry Association (Associação Nacional da Indústria da Cannabis), que realiza campanhas em favor da liberalização da maconha e oferece treinamento para criar uma indústria "sustentável e responsável", segundo a vice-diretora Taylor West. Criada no fim de 2010, a entidade experimentou o impacto do crescimento do mercado no número de associados, que passou de 150 há um ano para 430 atualmente.
A associação tem um lobista em Washington, Steve Fox, que tenta convencer parlamentares a modificar a legislação federal que proíbe a venda e o consumo de cannabis. "Nosso objetivo de longo prazo é que a maconha tenha o mesmo tratamento que o álcool na legislação federal e cada Estado decida se é legal ou ilegal", disse Fox.
Os empresários do baseado enfrentam situação ambígua: têm permissão para atuar nos termos da legislação estadual, mas continuam a praticar um crime federal. Além de trazer dificuldades operacionais, a discrepância gera insegurança. "Se quiserem, as autoridades federais podem me prender e me processar", afirmou DeAngelo.
Mas o governo federal já deixou claro que não vai interferir nos experimentos estaduais. O presidente Barack Obama, que admitiu ter fumado maconha na juventude, disse à revista New Yorker no mês passado que a droga não é mais perigosa que o álcool, o que encorajou os ativistas pró-legalização.
Alimentos, remédios e cosméticos são o foco de empresários
O ato de fumar está longe de ser o foco da nascente indústria da maconha dos EUA, que vê surgir fabricantes de medicamentos, alimentos, bebidas, óleos e cosméticos que têm cannabis na composição. A Dixie Elixirs & Edibles é a mais bem-sucedida empreitada nesse terreno e a mais avançada no processo de construção de uma marca nacional associada à maconha.
Seu fundador não é um ativista da legalização, mas um empresário que atuou no setor imobiliário e trabalhou numa das organizações mais conservadoras de Washington, a Heritage Foundation. Tripp Keber, 45, entrou no setor para ganhar dinheiro e hoje investe em outros 16 empreendimentos ligados à cannabis.
Keber fundou a empresa em 2010, quando lançou no Colorado refrigerantes que usam o princípio ativo da maconha. Hoje, ele produz chocolates, sorvetes, óleos de massagem e cápsulas com cannabis. Em outros Estados, os produtos da Dixie são fabricados por meio de contratos de licenciamento com terceiros.
Fonte: Estadão
UGT - União Geral dos Trabalhadores