20/01/2014
Criado durante o 1.° Encontro Nacional dos Sem Terra, aberto em Cascavel, no Paraná, no dia 20 de janeiro de 1984, o Movimento dos Sem Terra (MST)chega hoje ao aniversário de trinta anos em meio à sua maior crise de identidade.
É cada vez mais reduzida sua capacidade de mobilização para concretizar sua principal consigna: "ocupação é a única solução".
Sem força para organizar novos acampamentos de sem-terra e pressionar o governo para a criação de assentamentos, o grupo também sofre os impactos da política da presidente Dilma Rousseff, que só não desapropriou menos terras no período pós-democratização do que Fernando Collor em sua breve gestão.
Dilma também vem adotando medidas que tendem a enfraquecer a força do MST entre famílias já assentadas. Em dezembro, em meio a uma série de decretos para o setor, determinou que os recursos que o governo repassa às famílias assentadas para facilitar sua instalação nos lotes não passem mais por cooperativas. Serão entregues diretamente às famílias, o que enfraquece a capacidade de mobilização das cooperativas e, indiretamente, do MST, que controla boa parte delas.
Indicadores da redução da força do MST estão por toda parte. Um deles é o mais recente relatório da Ouvidoria Agrária Nacional, vinculada ao Ministério do Desenvolvimento Agrário. Ele mostra que número de invasões de terras em 2013 deve ser o mais baixo dos últimos dez anos.
O MST não é a única organização que organiza ocupações e acampamentos (a Ouvidoria registra a existência de quase quatro dezenas delas no País), mas é a principal. Responde por quase 60% de todo tipo de ação relacionada à reforma agrária.
Ainda de acordo com a Ouvidoria, o auge de sua capacidade mobilização ocorreu em 1999, no governo de Fernando Henrique Cardoso, do PSDB. O ponto mais baixo foi 2002 - ano que os movimentos de sem-terra fizeram um recuo para favorecer a eleição do petista Luiz Inácio Lula da Silva.
Conjuntura. Um dos líderes do MST, o economista João Pedro Stédile aponta as razões para a redução das ações atualmente. "Elas se devem a uma conjugação de diversos fatores. Do lado do latifúndio, houve uma avalanche de capital que foi para agricultura atraído pelos preços das commodities, que dão elevados lucros e aumentaram o preço das terras. E com isso bloqueia a reforma agrária. Do lado dos trabalhadores os salários aumentaram nas cidades, e isso reforçou o êxodo rural. Há um bloqueio também no Judiciário e no Congresso."
Quanto ao Executivo, diz: "O governo abandonou as desapropriações. E os trabalhadores acabam desanimando." Para Stédile, tudo isso é conjuntural, uma vez que não se teria resolvido o problema dos sem-terra: "A retomada da luta com mais força é apenas uma questão de tempo".
Raul Jungmann, que foi ministro do Desenvolvimento Agrário no governo FHC e hoje é vereador no Recife, pelo PPS, diz que a desidratação do MST ocorreu com a chegada do PT ao poder: "O grande fator de coesão do movimento e das forças que o apoiavam era a cruzada contra o grande inimigo, o chamado neoliberalismo de Fernando Henrique. Ele era o grande Satã, até mesmo dentro da visão religiosa dos padres da Teologia de Libertação que apoiavam o MST. Sem ele, houve uma grande crise. Em segundo lugar aparecem as bolsas, como as do Programa Bolsa Família, que foram se universalizando e esvaziando os estoques onde MST arregimentava pessoas. Outro fator foi a cooptação de militantes pelo governo ."
Na avaliação do professor Bernardo Mançano Fernandes, do Programa de Pós-graduação em Geografia da Unesp, as ocupações de terra não vão desaparecer. Mas dificilmente terão a mesma intensidade de anos passados. Isso deverá levar o MST a inverter suas prioridades: "O movimento é responsável por 55% das famílias assentadas no País. É um patrimônio que vai ter que cuidar daqui para a frente. Se antes investia 20% das forças nos assentamentos e 80% nas ocupações, agora terá fazer o contrário".
Fonte: Estadão
UGT - União Geral dos Trabalhadores