15/01/2014
Mais uma vez quer se curar fratura exposta com pílula de dor de cabeça. O aumento da taxa Selic em 0,5% foi uma dose cavalar para a economia e o bolso dos trabalhadores. Com esse novo aumento, a taxa Selic vai a 10,5%, a maior desde janeiro de 2012. É assim que o Copom e seus tecnocratas vem tratando o combate à inflação brasileira: aumento da taxa de juro numa economia que precisa desesperadamente de reformas estruturais, investimento, produção, crescimento econômico, aumento da renda líquida dos trabalhadores e diminuição do endividamento e inadimplência das famílias.
Diante dos desequilíbrios macroeconômicos e gargalos reinantes na atual conjuntura (baixo crescimento do PIB, taxa de investimento estagnada, inflação alta, aumento da relação serviço da dívida/PIB, ausência de uma política industrial e de serviços, déficit crescente na balança comercial dos industrializados, aumento da vulnerabilidade externa, gargalos em logística e infraestrutura etc.), o governo aposta, além dos juros altos para frear o consumo, em medidas paliativas que não estão dando resultado, tais como as desonerações e isenções de alguns setores privilegiados, como o automobilístico.
Alguns setores chegaram até mesmo a incorporar em suas margens de lucro as isenções patrocinadas pelo governo federal, a exemplo dos que produzem os itens da cesta básica.
A elevação da taxa de juro básica, a Selic, provocará o aumento das demais taxas existentes no setor financeiras, já altíssimas para os padrões internacionais, e aumentará os encargos da dívida interna, comprometendo ainda mais as finanças públicas, já sufocadas pelos encargos e amortizações da dívida pública.
Na prática, isso só fortalecerá ainda mais a transferência de renda dos salários e do excedente produtivo para os juros cobrados pelo sistema financeiro e comprometerão investimentos produtivos e crescimento econômico.
Enquanto isso, continuam os trabalhadores pagando a conta das farras das desonerações/isenções/benefícios fiscais patrocinados pelo governo federal. Só para 2014, esses benefícios estão estimados em extraordinários R$ 323 bilhões (em 2013, ficou em R$ 274 bilhões). Nesse quadro, o trabalhador, mais uma vez, chamado para pagar a conta, é vítima do confisco que se dá através da tabela do Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF), defasada em 61,24%, e da corrosão do saldo do FGTS, que acumula, desde 1999, uma perda de 88% frente à inflação.
O Brasil precisa de reformas estruturais para livra-se definitivamente de pílulas de dores de cabeça para fraturas expostas, mas não dispõe de cirurgiões capazes de operá-lo.
A União Geral dos Trabalhadores, diante do quadro doloroso para o trabalhador a produção e os empregos, vai intensificar sua luta pela atualização da tabela do IRPF e o fim das perdas do FGTS, buscando a implantação de uma nova agenda democrática de desenvolvimento com valorização do trabalho e da produção.
Ricardo Patah, presidente nacional da União Geral dos Trabalhadores (UGT)
UGT - União Geral dos Trabalhadores