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Petrobrás capta R$ 12 bilhões, mas dívida preocupa


08/01/2014

A Petrobrás captou ontem R$ 12 bilhões em títulos de dívida (bônus) no exterior, mas chamou atenção para o endividamento recorde da companhia, agravado mês a mês com a defasagem nos preços de combustíveis. Foram 3,05 bilhões e 600 milhões de libras esterlinas, operação que a companhia não realizava desde 2012. Apesar do sucesso da captação, com demanda três vezes maior, as ações caíram 3% ontem.

 

A operação, segundo analistas, visou aproveitar melhores condições de prazo e juros oferecidas pelos mercado. Em comunicado encaminhado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a Petrobrás informou que os recursos serão utilizados para a execução do Plano de Negócios 2013-2017, que prevê a captação de US$ 61 bilhões no período. O valor arrecadado na operação de ontem equivale a 42% do total previsto para as captações a cada ano, cerca de US$ 12 bilhões.

 

Para o mercado, porém, a emissão amplia a gravidade da situação de endividamento da empresa. Entre os analistas, a percepção é de que a maior parte do montante será destinado à rolagem de dívidas. O valor arrecadado com a operação de ontem equivale a 66% de sua dívida de curto prazo, segundo o balanço do terceiro trimestre.

 

Entre 2011 e 2013, a relação entre o endividamento e o patrimônio da empresa mais que dobrou, saltando de 17% para 36%. O montante somava, no terceiro trimestre do último ano, R$ 250,8 bilhões. A situação levou a agência de risco Moody's a rebaixar o rating da empresa, saindo de "A3" para "Baa1", ainda dentro da escala considerada como "grau de investimento".

 

Ontem, a captação não foi suficiente para conter a queda dos papéis na bolsa, afetados também pelo anúncio de que a agência Standard & Poor's (S&P) pode rebaixar o rating do País. Mesmo com o sucesso da captação, as ações preferenciais (PN, sem direito a voto) caíram 2,77% e as ordinárias (ON, com voto) recuaram 3,12%.

 

"O investidor estrangeiro, mesmo ciente do conflito de interesses com o governo, atribui à Petrobrás o risco de não pagamento que é concedido ao risco Brasil", compara o analista-chefe da Ativa Corretora, Marcelo Torto. Segundo ele, o impacto da emissão externa no endividamento da companhia será pequeno. O volume representa menos de 5% da dívida total.

 

Operação. A última vez que a companhia fez uma captação em euros foi em 2012, quando arrecadou 2 bilhões. No ano passado, a empresa vendeu US$ 11 bilhões em bônus. Pouco depois, a estatal também captou mais US$ 3,4 bilhões junto a bancos comerciais. Ao todo, entre janeiro e setembro, a estatal levantou R$ 42 bilhões no exterior e R$ 17,7 bilhões no Brasil.

 

Na operação de ontem, de acordo com a Petrobrás, os 3,05 bilhões captados terão pagamento dividido em quatro etapas, com prazos que variam entre dois, sete e 11 anos. Em libras esterlinas, a captação somou 600 milhões, com prazo máximo de 20 anos para o pagamento. A taxa de retorno oferecida pela empresa aos investidores ficou entre 2,829% e 6,732%.

 

A escolha por emitir em euro e libra esterlina é justificada, de acordo com fontes de mercado, pelo prazo oferecido nesses mercados e também o custo da operação. "A Petrobrás captou a custos muito interessantes, mais baratos às vezes do que até o mercado em dólar", avaliou uma fonte do setor financeiro.

 

A demanda pelos bônus chegou a 11 bilhões - quase três vezes mais o valor captado. A grande procura sinaliza que a estatal pode voltar à captação externa ainda neste semestre, para compensar o resultado operacional negativo. A estimativa é que o fluxo de caixa livre feche 2014 com um resultado negativo de mais de R$ 50 bilhões, volume levemente inferior ao resultado esperado para 2013.

 

"A operação é, aparentemente, bem-sucedida. A companhia conseguiu reduzir o risco da necessidade de captações futuras", sintetizou o analista da Votorantim Corretora, Leonardo Alves. /COLABOROU SILVANA ROCHA

 

Fonte: Estadão


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