09/09/2022
Dados do Inpe apontam mais de 1.600 quilômetros quadrados
derrubados, valor que só perde para o primeiro agosto sob Bolsonaro
O desmatamento na Amazônia no último mês de agosto explodiu
em relação ao mesmo mês do ano passado. Foram derrubados 1.661 km² de floresta,
um aumento de 81% em relação aos dados de 2021. O valor é o segundo maior do
histórico recente do bioma, perdendo apenas para agosto de 2019, primeiro ano
do governo Jair Bolsonaro (PL).
A área desmatada é comparável ao tamanho da cidade de São
Paulo.
Os dados são referentes ao Deter, programa do Inpe
(Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) que tem como objetivo auxiliar
trabalhos de fiscalização ambiental através de avisos de desmatamento. O
projeto teve início em 2004 e em 2015 houve um melhoramento dos sensores de
detecção de desmatamento. Por esse motivo, o histórico recente do Deter tem
início em agosto de 2015.
Os três estados que concentraram desmatamento no mês passado
foram Pará, Mato Grosso e o Amazonas.
Os municípios que mais desmataram em agosto foram: São Félix
do Xingu, no Pará, com mais de 92 km² derrubados; Altamira, também no Pará, com
quase 89 km² de desmate; e Apuí, no Amazonas, com 66 km² de floresta no chão.
Uma investigação de 2021 do Greenpeace apontou que João
Cleber (MDB), prefeito de São Félix do Xingu, no Pará, tem desmatado, pelo
menos desde 2008, áreas de sua fazenda Bom Jardim. A propriedade fica em uma
floresta pública não destinada na Amazônia e não tinha autorização para
desmate. Esses fatores indicam ilegalidade no processo e grilagem —como é
conhecida a ocupação ilegal de terras.
Além disso, em janeiro deste ano, houve o assassinato do
ambientalista José Gomes, o Zé do Lago, junto com sua esposa e a enteada, em
São Félix. A família morava dentro de área reivindicada pelo irmão de João
Cleber, prefeito da cidade.
São Félix do Xingu é a segunda cidade que mais emite
gases-estufa no Brasil. Isso ocorre pela grande concentração de gado (que, em
seu processo de digestão, produz metano, um potente gás-estufa) e pelo desmate
constante na região. O primeiro lugar, atualmente, é ocupado por Altamira
Não foi só o desmatamento que teve um crescimento
considerável no mês passado. As queimadas também deixaram sua marca. A Amazônia
teve o mês de agosto com mais queimadas desde 2010. Nos 31 dias do mês foram
registrados 33.116 focos de queimadas, o que representa um aumento de 18% em
relação a agosto de 2021, apontam dados do Inpe.
Desmatamento e queimadas andam praticamente juntos. Os
desmatadores (em geral, grileiros e produtores rurais) derrubam a mata, deixam
que ela seque no solo e, durante o período seco no bioma (que está ocorrendo
agora), usam fogo para "limpar" a área.
A situação de fogo em setembro já se mostra mais crítica do
que foi no ano passado, segundo dados do Inpe. Os dados são atualizados
diariamente e, em oito dias, apontam mais de 20 mil focos de queimadas, um
valor que já é superior a todo o mês de setembro de 2019 e de 2021,
considerando somente o período do governo atual.
"Bolsonaro pode sair do governo, mas deixa de herança
para seu sucessor uma crise ambiental na Amazônia como não se via desde os anos
1990 e uma crise social sem precedentes. O crime organizado dominou a região, e
a liberação de armas para civis torna muito mais perigosa a tarefa de retomar a
fiscalização e o controle do desmatamento", afirma, em nota, Marcio
Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, rede que reúne dezenas
de entidades socioambientais.
"Os dados mais recentes de desmatamento e queimadas na
Amazônia infelizmente confirmam que teremos um ano com recordes trágicos para o
bioma", diz, em nota, Mariana Napolitano, gerente de ciências do
WWF-Brasil. "As pesquisas já mostram que, em algumas regiões amazônicas, a
estação seca aumentou em mais de um mês. Temos também temperaturas mais
elevadas e menor volume de chuvas."
Cristiane Mazzetti, porta-voz de Amazônia do Greenpeace
Brasil diz, em nota, que "a destruição ambiental nos últimos anos ganhou
velocidade e escala já que as porteiras foram escancaradas por um governo que
abraça e incentiva o crime ambiental através de suas ações e omissões, não se
sabe o dia de amanhã e é melhor garantir enquanto a porteira está aberta".
Astrini ainda diz que recuperar o controle do desmatamento
demanda planos concretos. "Mas até agora os candidatos à sucessão de
Bolsonaro têm falado muito pouco sobre como pretendem retomar o controle da
região", afirma o secretário-executivo do Observatório do Clima.
Fonte e Foto: Folha de São Paulo
UGT - União Geral dos Trabalhadores