30/08/2022
Os juros cobrados estão no maior patamar desde abril de
2018, e inadimplência no pico desde junho de 2020
A inadimplência e as taxas de juros cobradas por
instituições financeiras registraram elevação no primeiro semestre deste ano
refletindo as dificuldades econômicas da população frente à inflação alta e a
trajetória de subida nos juros básicos. As taxas cobradas estão no maior
patamar desde 2018, a inadimplência, no pico desde junho de 2020. Mas, mesmo
assim, a concessão de crédito segue em alta no país.
De acordo com dados do Banco Central (BC) divulgados nesta
segunda-feira, a taxa média dos juros cobrados por instituições financeiras no
geral subiu de 33,8% em dezembro para 39% em junho, maior patamar desde abril
de 2018, quando a média chegou a 40,6% ao ano.
Piter Carvalho, economista-chefe da Valor Investimentos,
explica que com juros altos e inflação em alta, as contas não estão mais
fechando dentro das empresas e das famílias, que recorrem ao crédito.
— Quando a conta não fecha você vai lá e tenta pegar mais
crédito no mercado. Isso é preocupante porque a economia sofre cada vez mais
com os juros altos que começa a fazer efeito justamente agora no segundo
semestre. É normal que a economia dê uma freada e essa freada significa
infelizmente péssimos resultados para empresa ou mesmo para as famílias —
afirmou.
As taxas de juros subiram em menor nível para as empresas.
Em dezembro do ano passado, a taxa média cobrada era de 19,7% ao ano e chegou a
22,6% em junho, o maior nível desde novembro de 2017 quando a taxa chegou a
23%.
O capital de giro, uma das principais linhas de crédito para
empresas, teve a taxa média de juros elevada de 14,9% ao ano em junho de 2021
para 23,3% em junho de 2022.
Para pessoas físicas, a elevação foi de 45% para 51,5%ao ano
no mesmo período. O maior nível antes do registro no último mês de junho foi há
dois anos. Em junho de 2019, a taxa média cobrada foi de 52,1%.
Na modalidade de crédito pessoal, os juros subiram de 32,6%
ao ano na metade do ano passado para 41,4% em junho deste ano.
O custo do empréstimo acompanha as elevações na taxa básica,
a Selic, que estão acontecendo desde março de 2021. Lá atrás, a Selic estava em
2% e chegou a 13,75%, patamar atual.
O chefe do Departamento de Estatísticas do BC, Fernando
Rocha, explicou que a razão principal para a continuidade da alta nas
concessões é o crescimento da economia. Rocha apontou, por exemplo, que o
crédito para linhas direcionadas para exportação vem aumentando. O mercado
espera crescimento de 2,1% este ano.
— A razão para o crescimento dessas concessões é que a
economia está crescendo. A economia está crescendo e se demanda mais crédito —
disse.
Todas as taxas consideram os recursos livres, ou seja,
aquelas modalidades que não têm condições estabelecidas pelo governo.
Inadimplência
A inadimplência dos recursos livres vem aumentando aos
poucos desde o início do ano passado. De 2,9% em janeiro de 2020 chegou a 3,1%
em dezembro do mesmo ano. Em 2022, veio subindo mês a mês até chegar em 3,6%. O
maior nível antes desse havia sido registrado em junho de 2020, quando a
inadimplência chegou em 3,7%.
Apesar desse movimento, o patamar ainda é inferior ao
registrado antes da pandemia, quando a taxa costumava ficar em torno de 4%.
Patrícia Pereira, estrategista-chefe da MAG Investimentos,
prevê uma estabilidade ou elevação "discreta" ao longo do ano por
conta do mercado de trabalho forte e do pagamento do Auxílio Emergencial. A
incerteza fica para 2023.
— Ano que vem vai ficar no campo da suposição referente ao
plano de governo. Quanto vai ser o auxílio, como vai ficar o mercado de
trabalho, quando a Selic vai começar a cair... — ressaltou.
Para empresas, a inadimplência ficou em 1,7% contra 1,5% no
final de 2021 e para pessoas físicas a elevação foi de 4,4% para 5,2%.
Como O GLOBO já mostrou, a inadimplência no cartão de
crédito entre as camadas mais pobres da população vem subindo. A modalidade tem
os juros mais caros do mercado quando há atraso na fatura com o rotativo
chegando a 370,4% ao ano em junho. Esse é o maior patamar desde agosto de 2017,
quando o rotativo custava 428% ao ano.
O endividamento das famílias está estável neste ano, mas em
um patamar alto. Em dezembro, estava em 52,6%, então o maior nível da série
histórica iniciada em janeiro de 2005. Em maio, chegou a 52,8%, um novo
recorde. Quando se retira o crédito habitacional, o número cai para 33,5%, mas
ainda no maior número da série histórica.
A estatística de comprometimento de renda se manteve
estável. Em maio, ficou em 27,6% contra 28% em dezembro do ano passado.
Excetuando o financiamento imobiliário, o número fica em 25,6% contra 25,7% em
dezembro de 2021.
— Podemos dizer que o comportamento do comprometimento de
renda dos últimos 2 ou 3 trimestres tem permanecido aproximadamente estável —
disse Fernando Rocha do BC.
Concessões em alta
Apesar desse cenário, as concessões de crédito continuam em
alta e subiram 27,6% na comparação entre o primeiro semestre deste ano com o
mesmo período de 2021. A estatística considera as concessões ajustadas
sazonalmente.
Por exemplo, em junho deste ano foram concedidos R$ 438,8
bilhões contra R$ 366,5 bilhões no mesmo mês do ano passado.
Carvalho, da Valor Investimentos, ainda ressalta que a base
de comparação no primeiro semestre do ano passado é mais fraca porque era um
período de muita incerteza por conta da pandemia.
— A maioria das pessoas ainda não tinha nem tomado a
primeira dose da vacina. É uma base ainda fraca quando olha o ano passado —
afirmou.
Entre pessoas físicas, o destaque vai para o uso do cartão
de crédito, que subiu para R$ 180 bilhões em junho deste ano contra R$ 131,2
bilhões em junho de 2021.
Para empresas, o desconto de duplicatas e recebíveis
registrou R$ 75 bilhões concedidos em junho contra R$ 63,6 no mesmo mês do ano
passado.
Fonte e Foto: O Globo
UGT - União Geral dos Trabalhadores