29/08/2022
Inflação para comer em casa chega a 43% desde início da
pandemia; nos restaurantes, que sofreram com o isolamento social, reajuste foi
bem menor: 17%
Comer em casa está tão caro que até ir a restaurantes ficou
relativamente barato. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE), a inflação de alimentos no domicílio subiu 11,8% no
acumulado do ano até julho, enquanto a fora de casa avançou 4,6% – uma distância
de 7,2 pontos porcentuais. A diferença só não é maior do que a registrada em
2020, quando o distanciamento social imposto pela covid-19 esvaziou os
restaurantes e a inflação para se alimentar em casa subiu 18,15% e, em bares e
restaurantes, 4,78%.
Considerando desde o início da pandemia, a inflação
acumulada da alimentação no domicílio chega a 43%. Já a fora de casa está em
17,4%. A diferença ocorre porque os estabelecimentos comerciais não estão
conseguindo repassar o aumento de custos, afirma o presidente-executivo da
Associação Brasileira de Bares e Restaurante (Abrasel), Paulo Solmucci.
“Com a renda contraída, fica difícil repassar preços. As
pessoas estão com o bolso apertado. A gente vem subindo menos do que a metade
da inflação no domicílio”, afirma.
Segundo pesquisa da entidade, 46% dos estabelecimentos
aumentaram seus preços abaixo do índice de inflação em julho, enquanto 25% não
conseguiram nem reajustar. Outros 27% acompanharam a inflação e 3% subiram os
preços além do índice.
No caso do restaurante Colher de Pau, na zona norte de São
Paulo, o preço do quilo de comida antes da pandemia era de R$ 59,90. Hoje, está
em R$ 62,90, o que significa um aumento de 5% em um período em que o Índice de
Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 17,4% e os alimentos em geral, 35%.
O gerente do restaurante, Leonardo André Teodoro Silva,
afirma não ser possível acompanhar as variações dos preços dos produtos. “No
atacado, o preço do abacaxi hoje é R$ 4,99, mas amanhã está R$ 6,99. Sempre
aumenta. A gente, se subir assim, vai quebrar.”
Uso de reservas para manter a operação
Marcos Moretti, dono do Colher de Pau, conta que só
conseguiu sobreviver à pandemia porque tinha uma reserva que havia guardado
para reformar o restaurante. O dinheiro, porém, foi todo usado para o
estabelecimento não fechar as portas.
Ainda segundo Moretti, o restaurante não tem conseguido dar
lucro. Desde março, ao menos, tem fechado no zero a zero. A intenção, porém, é
tentar um reajuste de 3,2% em setembro. “Ainda vou precisar ver o que acontece
quando aumentar.”
O presidente da Abrasel afirma que, assim como no Colher de
Pau, os restaurantes têm tentado reverter a tendência nos últimos meses. Desde
maio, o repasse feito pelos estabelecimentos tem superado o IPCA, ainda que não
o suficiente para recuperar o que foi perdido desde o começo do ano.
“Estamos animados com o segundo semestre, porque a inflação
está desacelerando e isso libera dinheiro para a classe média. Outro ponto é o
Auxílio Brasil, que também favorece o consumo”, diz Solmucci.
Ainda de acordo com o executivo, os restaurantes que mais
têm sofrido são os frequentados por consumidores da classe média. Os que
atendem a população mais carente já têm sentido os efeitos favoráveis da
liberação do Auxílio de R$ 600, explica.
O economista Marcio Milan, da Tendências Consultoria, também
afirma que a divergência da inflação no domicílio e fora de casa deve diminuir
nos próximos meses. Segundo Milan, a alimentação no domicílio costuma ser mais
sensível a preços de commodities e do frete, por exemplo, já que o repasse
costuma ser direto.
Assim, enquanto a alta do preço dos alimentos em casa deve
desacelerar, a dos restaurantes pode ganhar tração. “Deve haver um aumento na
demanda por esse serviço até mesmo por causa do Auxílio Brasil”, afirma ele, em
referência ao programa de benefícios do governo, que estabeleceu valor mensal de
R$ 600 até dezembro.
Fonte e Foto: Estadão
UGT - União Geral dos Trabalhadores