23/08/2022
Itaú, Bradesco, Santander, Caixa e BB lucraram, juntos, R$
103,5 bi; Febraban diz que setor é aberto e competitivo
Dos R$ 132 bilhões de lucro líquido registrado no sistema
bancário em 2021, 78% ficaram com os cinco maiores bancos do país –Itaú,
Bradesco, Santander, Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil.
Segundo dados enviados pelo Banco Central a pedido da Folha,
as cinco instituições tiveram, juntas, lucro líquido de R$ 103,5 bilhões no ano
passado. O volume total do sistema está no relatório de estabilidade financeira
divulgado pela autoridade monetária no dia 9 de agosto.
O BC não detalhou os números separados de cada um dos bancos
em 2021, mas levantamento feito pela reportagem a partir das demonstrações
contábeis das instituições financeiras mostra que, entre os principais bancos
privados, o Itaú teve o maior lucro líquido contábil acumulado no último ano,
com R$ 24,9 bilhões.
O Bradesco, por sua vez, registrou R$ 21,9 bilhões de lucro
líquido contábil em 2021, e o Santander fechou o último ano com lucro líquido
societário de R$ 14,988 bilhões.
Já o Banco do Brasil reportou que, na visão societária, o
lucro líquido de 2021 totalizou R$ 19,7 bilhões; a Caixa registrou R$ 17,2
bilhões no acumulado do último ano.
O montante total de acordo com os dados dos balanços
equivale a R$ 98,8 bilhões. Os dados do BC têm ajustes feitos pela autoridade
monetária para eliminar eventos não recorrentes nos balanços das instituições
de maior porte.
FEDERAÇÃO DE BANCOS
DIZ QUE LUCRO ESTÁ VOLTANDO AO NÍVEL PRÉ-PANDEMIA
Procurados, Itaú, Bradesco, Banco do Brasil e Santander
disseram que a Febraban (Federação Brasileira de Bancos) se pronunciaria em
nome das instituições. A Caixa respondeu que não iria se manifestar.
Segundo a Febraban, o atual nível de lucro do setor bancário
está retornando ao patamar pré-pandemia. “A rentabilidade do setor bancário, em
média, está alinhada com a realidade de outros setores da economia brasileira”,
disse.
Quanto à concentração, a entidade afirmou que, no Brasil, o
setor bancário é “extremamente competitivo e aberto à entrada de novos
concorrentes, tanto locais como estrangeiros” e que não existem barreiras
regulatórias que impeçam o ingresso de novos participantes.
“Há muita confusão entre concentração e falta de competição.
A atividade bancária, como outras que exigem elevados volumes de capital, tem
maior grau de concentração, em especial no chamado varejo bancário. Mas, no
caso do mercado brasileiro, o nível de concentração é considerado moderado,
como o próprio Banco Central reconhece”, disse.
Segundo o relatório de estabilidade financeira do BC, o
sistema financeiro brasileiro tem hoje 136 instituições bancárias, sem
considerar instituições de pagamento.
A concentração bancária já foi motivo de críticas do
ministro Paulo Guedes (Economia), que, em videoconferência promovida em maio de
2020, disse que “200 milhões de trouxas” são explorados por seis bancos.
DITADURA INCENTIVOU
CONCENTRAÇÃO BANCÁRIA, DIZ ECONOMISTA
A economista Carla Beni, professora de MBAs da FGV (Fundação
Getulio Vargas), afirma que a concentração do setor tem raízes históricas no
Brasil e foi iniciada durante a ditadura militar.
“Havia um ideal de que concentrando se ganhava em escala e
isso poderia reduzir o custo para o tomador final. Essa ideia veio sendo
carregada inclusive depois da democratização”, disse.
Nas últimas décadas, contribuíram para a concentração o
Proer (Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema
Financeiro Nacional), no governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), a
liquidação de bancos estaduais e a fusão de instituições. O alto investimento
com o avanço da tecnologia também colaborou para a centralização.
“A concentração bancária em outros países acontece, mas a
concentração bancária no Brasil é um instrumental de enriquecimento
disfuncional”, afirmou Beni.
A especialista, contudo, vê um esforço de atuação do BC para
mudar o cenário com a regulamentação das fintechs, a criação do open banking e
o lançamento do open finance –sistema que propõe a ampliação do
compartilhamento de dados pessoais, bancários e financeiros entre instituições,
mediante autorização prévia do cidadão.
Olhando para um universo mais amplo no mercado financeiro, o
presidente do BC, Roberto Campos Neto, afirmou em maio que, com a ascensão das
fintechs nos últimos anos, houve redução do índice de concentração.
“Nós diminuímos a concentração bancária de 81,2% em 2018
para 77,6% em 2020. O dado de 2022 deve estar perto de 71%”, disse Campos Neto
em audiência pública na Comissão de Defesa do Consumidor, realizada na Câmara
dos Deputados.
O relatório de estabilidade financeira do BC também mostrou
que o montante de R$ 132 bilhões foi 49% superior ao lucro líquido registrado
pelos bancos em 2020, em período afetado pela pandemia, e 10% acima do
observado em 2019.
O crescimento da margem de juros (a taxa básica saltou de 2%
a 9,25% ao ano em 2021), a redução de despesas com provisões e ganho de
eficiência são os três fatores que explicam o resultado obtido pelas
instituições no ano passado, de acordo com o documento.
Para 2022, o BC aponta que os lucros dos bancos tendem a
crescer em ritmo mais lento, ainda que a rentabilidade do sistema deva se
manter resiliente.
“O cenário para 2022 é de atividade econômica mais fraca,
menor crescimento do crédito, normalização da inadimplência, e de custo de
captação e operacional mais altos. Esses elementos representam obstáculos para
a evolução da rentabilidade à frente”, afirmou.
O relatório também trouxe que, mesmo com o Pix ganhando mais
relevância no sistema financeiro ao longo do último ano, as receitas dos bancos
com serviços cresceram 10% na comparação entre 2021 e 2020, impulsionadas pela
melhora da atividade econômica.
Fonte e Foto: Contec
UGT - União Geral dos Trabalhadores