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Potencial da economia do mar no Brasil depende de investimentos em tecnologia e política industrial, afirmam pesquisadores


19/08/2022

País tem grande participação de setores extrativistas como óleo e gás, mas ainda patina na indústria naval

 

Seja pelo aumento na taxa de desmatamento ou pelas possibilidades que o mercado de créditos de carbono pode trazer, a Amazônia ganhou relevância em nível internacional e está na pauta das discussões econômicas do Brasil. Já a economia do mar é um assunto ainda desconhecido pela maioria da população, embora o país tenha uma costa de quase 11 mil quilômetros de extensão e um dos maiores litorais do mundo.

Mas o potencial de desenvolvimento economia do mar brasileira, ainda essencialmente extrativista, passa por mais investimentos em tecnologia e inovação, de acordo com estudo de pesquisadores da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), repassado com exclusividade ao Prática ESG.

 

A economia do mar é um assunto relevante na temática de ESG (termo em inglês para questões ambientais, sociais e de governança) pelas possibilidades que apresenta em temas como bioeconomia e desenvolvimento sustentável. No mundo, o setor deve chegar a uma movimentação de US$ 3 trilhões até 2030, segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

 

De olho no potencial econômico da exploração dos recursos vivos e não vivos, países como Estados Unidos, China e Coreia do Sul criaram estratégias para o segmento ao longo da década passada.

Já no Brasil, o tema é tão recente que não há um posicionamento estratégico e tampouco existe uma base consolidada para análise dos dados e mensuração do impacto do segmento na economia.

 

Por isso, os pesquisadores Isabela Marques, Marcelo Fernandes e Alexandre Freitas, do Centro de Estudos da Economia do Mar para o Rio de Janeiro, ligado à UFRRJ, cruzaram, de forma inédita, os dados de atividades econômicas fornecidos pelo IBGE e descobriram que, em 2018, a economia do mar movimentou R$ 415,7 bilhões, correspondentes a 5,93% do produto interno bruto (PIB) brasileiro daquele ano.

A economia do mar ainda é essencialmente extrativista no país, segundo os pesquisadores. Quase metade da movimentação econômica desse segmento (49,4%) corresponde às atividades de óleo e gás, em especial refino de petróleo e extração de óleo bruto.

 

Na comparação com países como Reino Unido, Dinamarca e Itália, o Brasil é a nação que tem a maior participação de recursos não vivos - que envolve extração de petróleo e gás natural - na economia do mar.

 

Setor manufatureiro pouco desenvolvido

A dependência da extração faz com que o país tenha um setor manufatureiro ainda muito pouco desenvolvido, desafio que a indústria naval enfrenta desde os anos 1980, quando o segmento entrou em colapso e vários estaleiros passaram por dificuldades financeiras ou pediram falência.

De acordo com o Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore (Sinaval), hoje o segmento emprega 15 mil pessoas, uma queda de 80% quando se compara com o montante de 2014, quando o setor naval gerava cerca de 82 mil empregos.

Atualmente, de acordo com os pesquisadores, a participação do setor de manufatura e construção naval na economia do mar corresponde a pouco mais de 2%, índice semelhante ao de países como Dinamarca (2,6%) e Espanha (3,2%). Já em países como França e Alemanha, a fatia de mercado sobe para 14,1% e 11,3%, respectivamente.

 

Na prática, isso significa que o Brasil extrai recursos utilizando tecnologias de ponta fabricadas em outros países. Mesmo assim, existem possibilidades de alavancagem: 71% do volume está relacionado à construção e manutenção de embarcações e quase um quinto da produção do setor é referente a máquinas para extração mineral e construção naval.

 

- A manufatura pode crescer mais se existir uma política para esse segmento. Podemos mais se investirmos em setores de maior intensidade tecnológica - afirma Alexandre Freitas.

 

Turismo: grande relevância para a economia do mar

Na direção contrária da manufatura, o setor de turismo possui grande relevância para a economia do mar, sendo responsável por 37,9% das movimentações do segmento. A principal importância do setor, segundo os acadêmicos, está na capacidade de geração de empregos. Eles defendem que o turismo também pode servir como uma alavanca para o desenvolvimento da construção naval.

 

Para a pesquisadora Isabela Marques, existe a necessidade de combinação de políticas entre atividades geradoras de emprego como o turismo, que não tem grande produtividade, mas trazem renda, e operações eficientes como o setor de óleo e gás.

 

"As escolhas de política podem ser focadas na geração de valor adicionado, emprego e renda de forma mais imediata, mas também podem visar alterações na estrutura produtiva, que seria um processo mais lento, porém vital para reduzir as disparidades existentes entre o Brasil e os países centrais"", escreveu em sua pesquisa.

 

Fonte e Foto: O Globo




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