18/08/2022
7 em cada 10 mães que trabalham não conseguem manter o
aleitamento exclusivo por seis meses
A condição de trabalho das mulheres interfere diretamente na
amamentação dos bebês e a maioria delas não consegue manter o aleitamento
materno exclusivo até o sexto mês de vida, conforme recomenda da OMS
(Organização Mundial de Saúde).
A situação piora conforme a atividade exercida e a
quantidade de horas de trabalho, segundo pesquisa realizada pela Universidade
Federal do Maranhão e divulgada neste mês, em que se celebra o aleitamento
materno.
Os resultados mostram que, de cada 10 mães, só 3 conseguem
amamentar o filho exclusivamente no peito por até seis meses. O percentual
aumenta quando se trata de aleitamento materno exclusivo por quatro meses.
Neste caso, de cada 10 mães, 6 conseguem manter a amamentação.
O estudo acompanhou 5.166 mães entre 2010 e 2013.
Inicialmente, as participantes responderam questionário 24 horas após o parto
sobre as ocupações que exerciam. Depois, entre 2012 e 2013, elas foram
entrevistadas sobre a duração do aleitamento materno exclusivo quando as
crianças tinham de 24 a 36 meses.
O grupo foi dividido entre mães em ocupações
semiespecializadas, como manicures, sapateiras, auxiliares de laboratórios e
feirantes, entre outras, e mães em atividades de escritório, com jornada de
trabalho fixo. Também participaram mães que não trabalhavam.
As que estavam em ocupações manuais semiespecializadas e as
que trabalhavam oito ou mais horas por dia interromperam a amamentação antes do
previsto com mais frequência.
Segundo os resultados, quando se trata de amamentação
exclusiva até o quarto mês, o percentual é de 58,2% para as que trabalham. No
caso das que não trabalham, o índice foi de 64,6%.
No recorte de aleitamento exclusivo até seis meses, 46% das
que não trabalham mantiveram a amamentação no período. A taxa cai para 34,4%
para as mães em trabalho manual semiespecializado e 34,4% para as que exercem
funções de escritório (34,7%).
OCUPAÇÕES VERSUS AMAMENTAÇÃO
Autora do estudo, a professora Marizélia Ribeiro destaca que
a intenção era mostrar o comportamento da amamentação exclusiva em diferentes
grupos de trabalho. "Frequentemente, as pesquisas só estudam se a mulher
trabalha ou não. Queríamos ver mais: que condições de trabalho fazem a mãe
abandonar mais", diz ela.
Ficar em pé, ter de cumprir jornada e estar em atividades
informais também interferem negativamente na amamentação, destacam os
pesquisadores. Além disso, para quem tem carteira assinada, a
licença-maternidade obrigatória de até 120 dias (quatro meses) interfere no
aleitamento. Apenas algumas categorias e empresas têm licença de até 180 dias
(seis meses).
NUTRICIONISTA ENFRENTA VOLTA AO TRABALHO E QUER MANTER
ALEITAMENTO
A nutricionista autônoma Viviane Aparecida Santos Gama, 36
anos, mãe de Valentina Santos Gama, quatro meses, enfrenta a dificuldade de
conciliar amamentação e volta ao trabalho presencial. Ela visita clientes
durante a semana na capital paulista.
"Não quero de jeito nenhum dar fórmula, estou
preocupada. Estou tentando fazer de tudo para manter ela no aleitamento
exclusivo até seis meses", afirma a profissional, que conhece os
benefícios do leite materno. "É o alimento mais completo que tem. É a
melhor coisa; vai prevenir várias doenças, incluindo a obesidade, que é o mal
da atualidade", diz.
Valentina vai à creche, na zona leste de São Paulo, onde
moram, e a mãe faz a ordenha do leite para a menina onde estiver. A dificuldade
está no transporte, por isso, Viviane tomou vários cuidados com os equipamentos
que comprou para armazenar. "Comprei uma garrafa térmica e uso uma bolsa
térmica que já tenho, porque não pode ter nenhum risco", diz.
"Sou autônoma, caio nessa mesma questão de mãe
manicure, e outras mais."
O medo de que a filha de três meses não se adapte quando
voltar ao trabalho fez Jaqueline Elza Batista, 24, interromper a amamentação e
oferecer outro leite para a bebê Dafne Lavor Batista antes dos quatro meses de
vida. "Se eu não tivesse que voltar, iria tentar amamentar por mais
tempo", diz.
Jaqueline voltará às suas ocupações no final deste mês e
"treinou" Dafne para tomar mamadeira. Como o gasto também é uma
preocupação, optou por não dar fórmula láctea, que é mais cara, e já ofereceu
leite em pó comum para a bebê.
Fonte e Foto: Folha de São Paulo
UGT - União Geral dos Trabalhadores