17/08/2022
Setor voltou ao patamar de 2007. Retração da ocupação em
2020 também foi a maior da série do IBGE
O comércio brasileiro amargou no primeiro ano de pandemia a
maior queda no número de postos de trabalho e de empresas desde 2007, início da
série histórica do IBGE. É o que apontam os dados da Pesquisa Anual de Comércio
(PAC), divulgada pelo instituto nesta quarta-feira.
O número de empresas retraiu 106,6 mil (7,8%) em 2020 em
relação a 2019. Ao todo foram registradas 1,34 milhão de companhias em 2020, o
que indica uma volta ao contingente de treze anos atrás (2007), quando o total
de empresas brasileiras no setor era de 1,33 milhão.
— Para efeitos de comparação, em 2015, ano de recessão
econômica, a queda foi de 16 mil empresas. No ano seguinte, ainda no biênio da
crise, houve retração de mais 25 mil. O que temos durante o primeiro ano da
pandemia é uma queda com efeito quatro vezes maior. Esse número de empresas no
comércio já vinha sendo reduzido por própria estratégia de algumas delas, mas a
crise econômica potencializou esse comportamento — afirma a gerente de Análise
Estrutural do IBGE, Synthia Santana.
Já a ocupação caiu 4% em 2020 em relação ao ano anterior,
totalizando 9,8 milhões de profissionais no setor naquele ano. Isso significa
que a mão de obra ocupada no comércio retornou a patamares de uma década atrás.
É o menor contingente empregado no setor desde 2011, quando a mão de obra no
comércio era de 9,6 milhões de pessoas.
Ao todo foram perdidos 404,1 mil postos no comércio. Cerca
de 90,4% desse total (ou 365,4 mil) em 2020 ocorreram no varejo, cujas vendas
destinam-se ao consumidor final. Este setor teve a maior queda de ocupação da
série histórica.
A maior retração na ocupação se deu no segmento varejista de
tecidos, vestuário e calçados. Cerca de 176,6 mil trabalhadores deixaram a
ocupação nessa atividade em 2020, uma queda de 15,3% em relação ao ano
anterior.
Segundo o IBGE, a pandemia de Covid-19 afetou a capacidade
de planejamento das famílias, empresas e governos, o que impactou o consumo e
trouxe impactos para o comércio, uma das três grandes categorias econômicas do
PIB pela ótica da oferta.
“A necessidade isolamento social para mitigar o avanço do
contágio, bem como a ausência de perspectivas sobre o fim da doença e as
sucessivas de ondas de contaminação afetaram de forma mais intensa as
atividades que exigiam mais contato com o público”.
Digitalização das empresas
Com o fechamento dos estabelecimentos considerados não
essenciais na pandemia, as varejistas mais dependentes do contato presencial
investiram na digitalização para alavancar as vendas.
Segundo o IBGE, o número de empresas que declararam realizar
vendas pela internet mais que dobrou: passou de 23,181 mil em 2019 para 56,788
mil em 2020.
Somente duas atividades do varejo tiveram um ligeiro aumento
da ocupação em 2020 em relação ao ano anterior, sendo ambas consideradas
essenciais durante a pandemia: a de hipermercados e supermercados (incremento
de 1,8 mil pessoas) e a de produtos farmacêuticos, perfumaria, cosméticos e
artigos médicos, ópticos e ortopédicos (aumento de 318 pessoas).
Setor atacadista em destaque
Na contramão do varejo, apenas o segmento atacadista
registrou aumento significativo na ocupação e no número de empresas.
A ocupação cresceu 2,2% neste segmento, enquanto o comércio
varejista e de veículos, peças e motocicletas registraram perdas de 4,8% e
8,5%, respectivamente. O resultado foi puxado pelo aumento de postos no
comércio por atacado de materiais de construção, de produtos alimentícios e
bebidas e de mercadorias em geral.
Já o número de empresas que atuam no atacado subiu 1,3%,
enquanto o comércio varejista e de veículos, peças e motocicletas amargaram
retração de 8,7% e 9,9%.
— O atacado foi um pouco mais resiliente diante do primeiro
ano de pandemia. As exportadoras, por negociarem diretamente com outras
empresas ou entidades, fazem parte do atacado. O fato de, em 2020, o comércio
internacional ter apresentado um comportamento mais expressivo também eleva o
setor atacadista a resultados que divergem um pouco do que foi exibido pelo
varejo, que teve queda no número de empresas e de pessoas ocupadas — explica a pesquisadora
Synthia Santana.
O setor atacadista foi responsável por 47,7% do total da
receita operacional líquida do comércio em 2020 (R$ 4,3 trilhões), atingindo
sua maior contribuição em termos percentuais e superando a participação
historicamente mais elevada do setor varejista.
O ganho de receita foi puxado pelos setores mais demandados
ao longo da pandemia, como o comércio por atacado de matérias-primas agrícolas
e animais vivos, de hiper e supermercados e venda no atacado de produtos
alimentícios e bebidas.
No mesmo período, a contribuição do comércio varejista para
a receita líquida ficou em 43,9%, menor participação dessa atividade desde
2014. Já a contribuição do segmento de comércio de veículos, partes e peças
para a receita foi de 8,7% em 2020, menor nível desde 2011.
— A venda de veículos é bastante influenciada pela
capacidade de renda das famílias. Em períodos de recessão, em que as famílias
possuem menor capacidade de renda, é muito mais difícil fazer uma aquisição de
um veículo onde você passa cinco anos realizando o pagamento de prestações.
Além disso, tem uma mudança de comportamento das famílias que substituíram a
compra de carros por outros meios de transporte — completa Synthia.
Fonte e Foto: O Globo
UGT - União Geral dos Trabalhadores