17/08/2022
No primeiro ano da pandemia, o comércio brasileiro perdeu
4,0% de sua ocupação, 7,4% das empresas e 7,0% das lojas. Dos 404,1 mil
trabalhadores que saíram do setor, 90,4% (ou 365,4 mil deles) estavam
empregados no varejo. Nesse segmento, apenas duas atividades, consideradas
serviços essenciais durante a crise sanitária, tiveram incremento de pessoal: a
de hipermercados e supermercados (1,8 mil pessoas) e a de produtos
farmacêuticos, perfumaria, cosméticos e artigos médicos, ópticos e ortopédicos
(318 pessoas). Os dados são da Pesquisa Anual de Comércio (PAC) 2020, divulgada
hoje (17) pelo IBGE.
Foi a maior queda na ocupação do comércio, no intervalo de
um ano, desde o início da série histórica da pesquisa, em 2007. Também houve
queda recorde do número de trabalhadores em dois dos três grandes segmentos do
comércio: - 4,8%, no setor varejista, que emprega 73,7% dos trabalhadores do
comércio, e -8,5% no segmento de veículos, peças e motocicletas.
Entre as atividades, a maior redução foi de um setor
bastante atingido pelas medidas de distanciamento social adotadas para deter a
Covid-19. Em um ano, o segmento varejista de tecidos, vestuário, calçados e
armarinho sofreu retração de 176,6 mil trabalhadores, o que representa uma
perda de 15,3% em seu contingente de ocupados. Além disso, o número de empresas
desse setor caiu 15,6%. Isso corresponde a 32,6 mil estabelecimentos
comerciais.
“O volume expressivo da queda nesse setor chama a atenção e
representa de forma significativa aquelas lojas que tiveram suas atividades
mais afetadas pela necessidade de isolamento social, seja no comércio popular,
seja em shoppings. Todos esses estabelecimentos onde a venda presencial é muito
importante para experimentar a mercadoria sentiram os efeitos da pandemia de
forma mais acentuada nesse primeiro ano”, explica a gerente de Análise
Estrutural do IBGE, Synthia Santana.
Outras fortes retrações de ocupação ocorreram nos setores
varejistas de produtos alimentícios, bebidas e fumo (-81,5 mil trabalhadores) e
de material de construção (-59,7 mil). Nesse primeiro segmento, estão as lojas
especializadas, como os empórios, padarias e comércios de bebidas.
“Essa atividade, mesmo sendo considerada essencial na
pandemia, registrou queda na comparação com 2019. Um dos fatores que podem
explicar esse resultado é que a ida menos frequente a estabelecimentos
comerciais, por causa da necessidade de isolamento social, fez com que os
consumidores concentrassem suas compras em empresas com uma gama mais
diversificada de produtos, como é o caso de hiper e supermercados”, analisa a
pesquisadora.
Entre os três grandes segmentos investigados pela pesquisa,
apenas o atacado teve aumento nessa comparação (2,2%, ou mais 37,9 mil
trabalhadores), influenciado especialmente pelas contratações em três
atividades: madeira, ferragens, ferramentas, materiais elétricos e material de
construção (10,0%), produtos alimentícios, bebidas e fumo (4,4%) e mercadorias
em geral (6,1%).
Esse resultado tem relação com o tipo de empresa que é
considerado atacadista. Na pesquisa, para ser definida como varejista, a
empresa deve vender os seus produtos diretamente ao consumidor final, para uso
pessoal e doméstico. Já no atacado, a negociação é feita com outros
estabelecimentos ou órgãos da administração pública. Em 2020, o setor
atacadista foi impactado de forma positiva pelos resultados do comércio exterior.
“O atacado foi um pouco mais resiliente diante do primeiro
ano de pandemia. As exportadoras, por negociarem diretamente com outras
empresas ou entidades, fazem parte do atacado. O fato de, em 2020, o comércio
internacional ter apresentado um comportamento mais expressivo também eleva o
setor atacadista a resultados que divergem um pouco do que foi exibido pelo
varejo, que teve queda no número de empresas e de pessoas ocupadas”, afirma
Synthia.
Com a o recuo na ocupação, o comércio empregava 9,8 milhões
de pessoas em 2020, sendo 7,2 milhões no varejo, 1,7 milhão no atacado e 829,4
mil no comércio de veículos, peças e motocicletas. Foi a primeira vez, desde
2011, que a atividade comercial como um todo tinha um contingente menor que 10
milhões de trabalhadores.
Número de empresas
tem queda recorde
Assim como na ocupação, a retração no total de empresas
comerciais foi recorde tanto em termos percentuais quanto em números absolutos.
Com a queda de 7,4%, havia no país, em 2020, 1,3 milhão de empresas comerciais,
o segundo menor número desde o início da série histórica da pesquisa, atrás
apenas do registrado em 2007. Enquanto no varejo (-8,7%) e no comércio de
veículos, peças e motocicletas (-9,9%), muitas empresas tiveram que fechar as
portas, no atacado, o ano foi de avanço (1,3%).
“Entre 2019 e 2020, houve uma queda substancial de 106 mil
empresas no comércio do país. Para efeitos de comparação, em 2015, ano de
recessão econômica, a queda foi de 16 mil empresas. No ano seguinte, ainda no
biênio da crise, houve retração de mais 25 mil. O que temos durante o primeiro
ano da pandemia é uma queda com efeito quatro vezes maior. Esse número de
empresas no comércio já vinha sendo reduzido por própria estratégia de algumas
delas, mas a crise econômica potencializou esse comportamento”, pontua a
pesquisadora.
Synthia ainda detalha que as medidas de isolamento social
provocaram uma adaptação na forma como as empresas comercializam os produtos.
“Muitas modificaram a forma de entrega, como a retirada por drive thru e o
envio em casa. Entre as empresas em que essa mudança não foi possível, houve
uma perda significativa, como no segmento de tecidos, vestuário, calçados e
armarinho, que tem uma experiência de compra que exige mais o toque do produto
e a experimentação”, avalia.
Remunerações caem em
2020
A remuneração dos trabalhadores do setor comercial em 2020
totalizou R$ 241,6 bilhões. Já o salário médio mensal passou de 1,9 salário
mínimo (s.m.), em 2019, para 1,8 s.m, no ano seguinte. As remunerações mais
baixas foram relativas aos representantes e agentes do comércio (1,1 s.m.), ao
comércio varejista de produtos alimentícios, bebidas e fumo (1,3 s.m.) e ao
comércio varejista de tecidos, vestuário, calçados e armarinho (1,3 s.m.).
“É interessante notar que essa tendência de redução de
remuneração do comércio é puxada pelas atividades que pagavam salários mais
elevados, como é o caso de combustíveis e lubrificantes, setor que em dez anos
teve uma perda bastante significativa (- 2,3 s.m.) e de máquinas aparelhos e
equipamentos (-0,7 s.m.). São atividades que empregam bastante gente e pagavam
salários mais altos. Por isso acabam puxando essa média para baixo”, destaca a
gerente.
No atacado, a maior parte das atividades pagou salários
médios maiores do que a média do comércio. Entre elas estavam os setores de
combustíveis e lubrificantes (5,1 s.m.), de máquinas, aparelhos e equipamentos,
inclusive TI e comunicação (4,1 s.m.) e de produtos farmacêuticos, perfumaria, cosméticos
e artigos médicos, ópticos e ortopédicos (3,6 s.m.).
Setor atacadista
responde por maior parte da receita operacional líquida
Em 2020, o comércio totalizou R$ 4,7 trilhões em receita
bruta, dos quais R$ 2,3 trilhões foram gerados no comércio por atacado, R$ 2,1
trilhões no comércio varejista e R$ 394,3 bilhões no comércio de veículos,
peças e motocicletas. Sem as deduções, como impostos e abatimentos, há a
receita operacional líquida, que foi de R$4,3 trilhões. A maior parte desse
valor foi gerada no comércio por atacado (47,4%), seguido pelo comércio
varejista (43,9%) e pelo comércio de veículos, peças e motocicletas (8,7%).
Em dez anos, o setor automotivo passou de 14,7% para 8,7% de
participação na receita operacional líquida. No mesmo período, o atacado ganhou
3,6 p.p. de participação e o varejo, 2,4 p.p. Synthia Santana explica que o
declínio da participação do setor de veículos ocorreu principalmente no período
de recessão, em 2015 e 2016, e que voltou a cair de forma significativa em 2020.
“É um segmento que está em declínio em função de crises
sucessivas enfrentadas pela economia brasileira, seja por componentes internos
ou externos. No comércio, os componentes internos acabam tendo um pouco mais de
influência nesses resultados, porque afetam a capacidade das famílias de
fazerem um planejamento sobre seus orçamentos e investimentos em itens
domésticos como é o caso do automóvel, que compromete a renda por bastante
tempo. Essa falta de capacidade de previsibilidade de futuro e incerteza de
renda afetam bastante a aquisição de itens de maior valor”, diz.
Entre os grupamentos de atividades, os três com maior
participação na composição da receita operacional líquida foram o de
hipermercados e supermercados (13,6%), o de comércio por atacado de
combustíveis e lubrificantes (10,1%) e o de comércio por atacado de produtos
alimentícios, bebidas e fumo (8,5%). Em dez anos, as distribuidoras de
combustíveis e lubrificantes perderam 1,1 p.p. na receita operacional líquida,
enquanto os hipermercados e supermercados avançaram 3,0 p.p. alcançando, nesse
período, o primeiro lugar no ranking. Em 2020, o comércio por atacado de
alimentos, bebidas e fumo (8,5%) ultrapassou o comércio varejista de
combustíveis e lubrificantes (7,2%).
Margem de
comercialização foi de R$942,7 bilhões em 2020
A margem de comercialização, diferença entre a receita
líquida de revenda e o custo de mercadorias vendidas, foi de R$ 942,7 bilhões
em 2020. A maior parte dessa soma foi obtida pelo varejo (R$511,7 bilhões),
enquanto o atacado registrou R$364,5 bilhões e o comércio de veículos, peças e
motocicletas, R$ 66,5 bilhões. Esse indicador serve de parâmetro para a
rentabilidade de um determinado segmento comercial.
Em média, a taxa de margem de comercialização das empresas
foi de 28,8% em 2020
A pesquisa também aponta a taxa da margem de
comercialização, que é a divisão da margem de comercialização pelo custo das
mercadorias vendidas. Esse percentual indica a capacidade de elevação de
receita líquida de vendas acima dos custos com aquisição de mercadoria e da variação
de estoques. Quanto mais alta a taxa, maior é o poder de determinação de preços
de um segmento comercial.
Em 2020, em média, a taxa de margem de comercialização das
empresas foi de 28,8%. Essa média foi de 37,4% no varejo, 22,7% no atacado e
22,4% no comércio de veículos, peças e motocicletas. As cinco maiores taxas
foram de atividades varejistas: tecidos, vestuário, calçados e armarinho
(80,0%), artigos culturais, recreativos e esportivos (62,8%), produtos
farmacêuticos, perfumaria, cosméticos e artigos médicos, ópticos e ortopédicos
(60,7%), produtos novos e usados sem especificação (52,7%) e informática,
comunicação e artigos de uso doméstico (52,2%).
Mas, em relação a 2019, quatro desses segmentos sofreram
redução nesse indicador, com destaque para o comércio varejista de produtos
novos e usados sem especificação (-7,2 p.p.).
Por outro lado, entre as menores taxas de margem de
comercialização estão o comércio por atacado de combustíveis e lubrificantes
(6,8%), o comércio de veículos automotores (13,0%) e o comércio por atacado de
matérias-primas agrícolas e animais vivos (15,4%), setores em que os preços de
revenda são próximos dos custos de aquisição das mercadorias.
Cai participação do
Sudeste na receita bruta de revenda do país
Pela primeira vez na série histórica da pesquisa, o Sudeste
representou menos de 50% da receita bruta de revenda do país. Em 2020, essa
região respondeu por 49,4% dessa receita, 50,7% do pessoal ocupado e 47,7% das
unidades locais das empresas comerciais. Desde 2011, ela foi a região com maior
perda de participação em cada um desses componentes, com destaque para a
redução de 3,5 p.p. em sua proporção na receita. Essa queda foi acompanhada por
um aumento de participação do Centro-Oeste (9,2% para 11,0%) e Sul (de 19,4% para
20,9%).
No caso da mão de obra, com a redução da concentração no
Sudeste, a participação de todas as outras regiões cresceu: Sul (0,7 p.p.),
Centro-Oeste (0,4 p.p.), Norte (0,2 p.p.) e Nordeste (0,2 p.p.).
Embora o Nordeste reunisse 17,0% da mão de obra no comércio
do país, a participação dessa região foi de apenas 12,7% no total de salários,
retiradas e outras remunerações. Essa foi também a região que pagou a menor
remuneração média mensal (1,4 s.m.), enquanto o Sudeste pagou a maior (2,0
s.m.). Nas últimas dez edições da PAC, as duas regiões mantiveram essa
situação.
Mais sobre a pesquisa
A PAC é realizada pelo IBGE desde 1996 e retrata aspectos
estruturais do setor comercial do país. As informações divulgadas são
significativas para análise e planejamento das empresas do setor privado e dos
diferentes níveis de governo. Anualmente, a PAC apresenta os principais
resultados das empresas comerciais brasileiras, que são divididas em três
segmentos: comércio de veículos, peças e motocicletas; comércio por atacado; e
comércio varejista. Para identificar mudanças estruturais, há a comparação
entre resultados de uma série de dez anos. Os resultados podem ser consultados
para Brasil, Grandes Regiões e Unidades da Federação.
Fonte e Foto: IBGE
UGT - União Geral dos Trabalhadores