19/07/2022
Estudo da Cepal/OIT mostra: taxa de ocupação volta a crescer
na região, mas é menor que a recuperação econômica. Trabalho informal e em apps
proliferam; e salários são corroídos pela inflação. Inatividade entre mulheres
cresceu
A crise sanitária da covid-19 trouxe severas repercussões
econômicas e sociais em todos os países, como a brutal queda na atividade
produtiva e o aumento do desemprego. Na sequência, com as medidas de proteção
sanitária e, principalmente, a vacinação, passou-se a observar a recuperação
econômica e a redução do desemprego.
O estudo produzido pela CEPAL/OIT “Coyuntura Laboral en
América Latina y el Caribe & Los salarios reais durante la pandemia:
evolución y desafíos”1 apresenta os indicadores da dinâmica econômica e do
emprego para a região no período de 2019 a 2021. Observa-se que as economias da
América Latina e do Caribe tiveram uma recuperação de 6,6% do PIB médio em
2021, recolocando a economia da região no patamar pré-crise (4º trimestre de
2019), que veio seguido em menor força pela recuperação do emprego, da taxa de
participação e da queda nas taxas de desemprego.
A crise sanitária derrubou em 2020 a taxa de ocupação em
-8,2%, o pior indicador da série histórica desde 1952. Em 2021 observou-se uma
recuperação da ordem de 6,8 % no contingente de ocupados. A crise provocou
também uma brutal saída dos trabalhadores para a inatividade, refletida na
queda de 4,5 pontos porcentuais na taxa de participação em 2020, parte
recuperado em 2021, mas ainda 0,8 ponto percentual menor no quarto trimestre de
2021 (62,6%) em relação ao quarto trimestre de 2019 (63,4%). Essa diferença
esta associada principalmente ao fato de que muitas mulheres seguem
dedicando-se aos cuidados familiares e, portanto, não retornando ao mercado de
trabalho.
A desigualdade entre homens e mulheres na dinâmica da
recuperação dos empregos é clara nos dados apresentados pela CEPAL/OIT da
variação anual (2021/2020) da:
Aumento da taxa de participação: 3,0 % homens e 2,8% mulheres
Aumento da taxa de ocupação: 3,7% homens e 2,8% mulheres
Queda no desemprego: -1,3 % homens e -0,7% mulheres
A recuperação do emprego foi puxada pelas ocupações dos
trabalhadores por conta própria, que tiveram uma queda de -7,5% no emprego em
2020 e cresceram 9,9% em 2021. Já os trabalhadores assalariados tiveram uma
queda de 7,2% no emprego em 2020 e recuperaram 5,7% em 2021, ainda abaixo da
situação pré-pandemia. O trabalho doméstico teve uma queda de 20,9% no emprego
e uma recuperação parcial de 4,6%.
Quando se compara a dinâmica da economia e do emprego na
saída da crise, observa-se uma performance totalmente diferente em relação a
crises anteriores, conforme indica o estudo CEPAL/OIT. Anteriormente a
recuperação econômica levou mais tempo que a do emprego, algo que na crise
atual se inverte, o crescimento econômico segue na frente dos empregos.
Já a dinâmica das remunerações do trabalho está relacionada
à criação de postos de trabalho de menor qualidade e, adicionalmente,
fortemente impactada pela aceleração das taxas de inflação, corroendo o salário
real, o que se observa também para os valores dos salários mínimos na região.
A queda do salário real foi de -5,5% para os trabalhadores
do setor público, de -7% para os assalariados e de -9,7% para os trabalhadores
domésticos. Em termos setoriais a queda foi de -5,6% para o setor primário
(agricultura, pesca e mineração), de -8% para setor secundário (indústria,
construção e energia, gás e água) e de -6% para setor terciário (comercio,
serviços, finanças e demais serviços).
O que se observa no tecido produtivo é uma dinâmica
econômica que conduz uma regressão industrial com perda de qualidade na
estrutura das ocupações. A aceleração da digitalização dos serviços e comércio
fez surgir milhões de novos postos de trabalho mediados por aplicativos que
investem para descaracterizar a relação de trabalho. A precarização e
vulnerabilidade dos postos de trabalho segue em frente através das múltiplas
formas de terceirização, situação que afasta a proteção laboral e
previdenciária. O aumento do custo de vida promove o arrocho salarial. Tudo, ao
mesmo tempo, mantendo e ampliando os desafios que já eram enormes antes da
crise sanitária e que se tornaram ainda maiores.
Fonte e Foto: Outras Palavras
UGT - União Geral dos Trabalhadores