14/07/2022
Registrada em 11 países, BA.2.75 faz parte da linhagem da
ômicron e tem mutações não vistas em outras cepas
A subvariante BA.2.75 do coronavírus tem preocupado
especialistas e instituições de saúde pela sua alta capacidade de transmissão.
Registrada pela primeira vez em maio na Índia, ela conta com um conjunto de
mutações até então nunca visto –o que pode ser uma explicação para sua
disseminação.
Atualmente, a cepa está sendo monitorada pela OMS
(Organização Mundial da Saúde). Além da Índia, ela já foi registrada em dez
países. No Brasil, a subvariante ainda não identificada por meio de
sequenciamento.
O vírus faz parte da linhagem da ômicron, que continua sendo
a variante de preocupação dominante no mundo. A BA.2.75 é uma ramificação da
BA.2, uma variante da ômicron que teve seus primeiros casos no Brasil em
fevereiro deste ano.
"Na Índia, temos um cenário mais expressivo [para a
BA.2.75]. O que chamou atenção é que ela rapidamente se disseminou em outros
países", afirma Fernando Spilki, virologista e coordenador da Rede
Corona-ômica BR-MCTI, um projeto de laboratórios que sequencia os genomas de
amostras do Sars-CoV-2 no Brasil.
A preocupação também se dá pelo alastramento da cepa em
comparação a outras variantes. Segundo Denise Garrett, epidemiologista e
vice-presidente do Instituto Sabin (EUA), "aparentemente [a BA.2.75] está
se espalhando mais rapidamente que outras variantes circulando".
Spilki também chama atenção para esse ponto. Ele diz que a
BA.2.75 conseguiu se disseminar de forma considerável em ambientes que já
contavam com uma larga presença de outras subvariantes também altamente
transmissíveis, como a BA.4 e BA.5.
A BA.2.75 acumula uma série de mutações que ainda não tinham
sido observadas. Segundo a OMS, além daquelas já registradas na BA.2, a
subvariante tem oito novas mutações na proteína spike, que facilita a entrada
do vírus nas células. Além destas, a BA.2.75 também tem outras cinco mutações.
É por meio da proteína spike que o coronavírus invade as
células humanas. Por isso, quanto mais mutações uma variante acumular nesta
proteína, as chances de maior transmissão aumentam.
"O que se sabe até o momento é que esse conjunto de
mutações facilita a transmissão", afirma Raquel Stucchi, infectologista e
professora da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
SINAL AMARELO
Os indícios de maior transmissão da BA.2.75 acendem um
alerta para o impacto que ela pode ter na pandemia de Covid-19. No entanto,
ainda não é possível dizer com certeza que essa é a subvariante com maior
transmissibilidade já registrada.
"Ainda é muito cedo para afirmações sobre a
transmissibilidade da cepa", afirma Garrett.
A cientista-chefe da OMS, Soumya Swaminathan, explicou em um
vídeo da organização de 5 de julho que ainda existem poucos sequenciamentos da
subvariante disponíveis para análise. Dessa forma, não é possível concluir o
grau de transmissão e a gravidade dos quadros clínicos da BA.2.75.
Outro aspecto é que o comportamento do vírus pode variar nos
países, diz Spilki. Ele exemplifica o caso da variante delta na América Latina:
embora tenha causado um enorme impacto em algumas partes do mundo, como nos
Estados Unidos, essa cepa não teve um protagonismo tão grande nos países
latinos em comparação com a variante gama.
No momento, ele acredita que a tendência é o crescimento
contínuo da subvariante BA.5 em detrimento da BA.2.75. "Mas sabemos que
essa situação pode mudar rapidamente", ressalta.
O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, também
indicou em uma conferência no dia 6 que, nos continentes americano e europeu,
as subvariantes BA.4 e BA.5 estão causando novas ondas de casos. Em relação a
BA.2.75, Ghebreyesus indicou que ela está sendo acompanhada.
QUADROS GRAVES
Além da transmissão, outro aspecto que intriga é se a
BA.2.75 pode causar quadros mais graves de Covid-19.
Segundo Garrett, os quadros mais leves da doença ocorrem
principalmente porque a maior parte da população já desenvolveu algum tipo de
imunidade –seja por conta da vacina ou por infecções prévias pelo Sars-CoV-2.
"Quanto maior for o escape imune da variante, mais
possibilidade de causar quadros mais graves", afirma Garrett.
A epidemiologista também explica que, no caso da BA.4 e
BA.5, as vacinas demonstraram ter eficácia contra hospitalizações e quadros
graves. "Quanto à BA.2.75, ainda não temos informação suficiente",
completa.
A infectologista Stucchi também explica que a questão do
desenvolvimento de quadros mais graves com a BA.2.75 continua em aberto. No
entanto, ela ressalta que as vacinas, mediante a aplicação de doses adicionais,
continuam se mostrando eficazes para evitar complicações, mesmo no caso das
subvariantes.
Por isso, a infectologista diz que as novas mutações do
Sars-CoV-2 "representam uma ameaça ao Brasil" ao considerar a baixa
adesão da população na vacinação com doses de reforço.
Fonte e Foto: Folha de São Paulo
UGT - União Geral dos Trabalhadores