07/07/2022
O relatório Estado da Segurança Alimentar e Nutrição no
Mundo 2022, lançado pela ONU nesta quarta-feira, aponta que o número de pessoas
afetadas pela fome em todo o mundo subiu para 828 milhões em 2021, uma alta de
cerca de 46 milhões desde 2020 e 150 milhões desde o início da pandemia de
Covid-19.
De acordo com os dados apresentados, a proporção de pessoas
afetadas pela fome vinha praticamente inalterada desde 2015, próxima de 8% da
população global. Com a crise de saúde e a guerra na Ucrânia, o número saltou
nos últimos anos e agora já afeta 9,8% das pessoas no mundo.
Estado da Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo 2022
A edição de 2022 do relatório fornece novas evidências de
que o mundo está se afastando, cada vez mais, de seu objetivo de acabar com a
fome, a insegurança alimentar e a desnutrição até 2030.
O documento foi feito em parceria pela Organização das
Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, FAO, Fundo Internacional de
Desenvolvimento Agrícola, Fida, Fundo das Nações Unidas para a Infância,
Unicef, Programa Mundial de Alimentos, PMA, e Organização Mundial da Saúde,
OMS.
Segundo a escala de insegurança alimentar, fome é definida
como “privação alimentar”. Já insegurança alimentar moderada é quando as
pessoas enfrentam incertezas sobre sua capacidade de obter alimentos e foram
forçadas a reduzir a qualidade ou quantidade de alimentos. A insegurança
alimentar severa é quando as pessoas ficam sem comida por um ou mais dias.
Principais resultados
O diretor executivo do PMA, David Beasley, afirma que existe
um perigo real de que esses números subam ainda mais nos próximos meses. Ele
avalia que os picos globais de preços de alimentos, combustíveis e
fertilizantes, agravados pela crise na Ucrânia, ameaçam levar países ao redor
do mundo à fome.
Para Beasley, o resultado será a desestabilização global,
fome e migração em massa em uma escala sem precedentes.
Além da parcela da população que sofre com a fome, outras
cerca de 2,3 bilhões de pessoas no mundo, ou 29,3% da população global, estavam
em insegurança alimentar moderada ou grave em 2021. O valor é de 350 milhões a
mais em comparação com antes do surto da pandemia de Covid-19.
Os resultados do relatório também apontam que quase 924
milhões de pessoas, ou 11,7% da população global, enfrentaram insegurança
alimentar em níveis graves, um aumento de 207 milhões em dois anos.
Preço dos alimentos
Segundo a publicação, quase 3,1 bilhões de pessoas não
podiam pagar uma dieta saudável em 2020, 112 milhões a mais que em 2019,
refletindo os efeitos da inflação nos preços dos alimentos ao consumidor
decorrentes dos impactos econômicos da pandemia de Covid-19.
A disparidade de gênero na insegurança alimentar continuou a
aumentar em 2021: 31,9% das mulheres no mundo sofrem com a insegurança
alimentar moderada ou grave, em comparação com 27,6% dos homens. A cresceu em
1% em comparação com 2020.
A estimativa apresentada no relatório é que 45 milhões de
crianças menores de cinco anos sofriam definhamento, a forma mais mortal de
desnutrição, o que aumenta o risco de morte das crianças em até 12 vezes.
Além disso, 149 milhões de crianças com menos de cinco anos
tiveram crescimento e desenvolvimento atrofiados devido à falta crônica de
nutrientes essenciais em suas dietas, enquanto 39 milhões estavam acima do
peso.
Efeito nas crianças
O relatório aponta progressos no aleitamento materno
exclusivo, com quase 44% dos bebês com menos de seis meses de idade sendo
exclusivamente amamentados em todo o mundo em 2020. A meta para 2030 é atingir
os 50%.
No entanto, duas em cada três crianças não recebem uma dieta
mínima diversificada que eles precisam para crescer e desenvolver todo o seu
potencial.
A diretora executiva do Fundo de Infância das Nações Unidas,
Catherine Russell, afirma que a escala “sem precedentes” da crise de
desnutrição exige uma resposta a altura.
Para ela, os esforços para garantir que as crianças mais
vulneráveis tenham acesso a dietas nutritivas, seguras e acessíveis devem ser
redobrados, assim como os serviços para a prevenção precoce, detecção e
tratamento da desnutrição.
Futuro e crises atuais
Olhando para o futuro, as projeções do relatório são de que
cerca de 670 milhões de pessoas, 8% da população mundial, ainda enfrentarão
fome em 2030 mesmo que uma recuperação econômica global seja levada em
consideração.
O número volta aos patamares de 2015, quando a meta de
acabar com a fome, a insegurança alimentar e a desnutrição até o final desta
década foi lançada na Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável.
A avaliação do documento é que a guerra na Ucrânia e os
efeitos dos eventos climáticos possuem potencial estão gerando um cenário
complexo e ameaçando a segurança alimentar e nutricional global.
No prefácio da publicação, assinado pelos líderes das
agências que trabalharam no estudo, destaca que a os principais fatores de
insegurança alimentar e desnutrição: conflitos, extremos climáticos e choques
econômicos, combinados com crescentes desigualdades.
Para eles, a questão não é se as adversidades continuarão a
ocorrer ou não, mas quais devem ser as medidas mais ousadas para construir
resiliência contrachoques futuros.
Fonte e Foto: ONU News
UGT - União Geral dos Trabalhadores