07/07/2022
O deputado Silvio Costa Filho (Republicanos-PE), presidente
da Comissão de Defesa do Consumidor, assumiu o compromisso de não colocar em
votação na comissão, antes do período eleitoral, o PL 1043/19, que permite a
abertura de agências bancárias aos sábados e domingos, para atendimento ao
público. O compromisso foi assumido durante audiência pública sobre o Projeto
de Lei, realizada na manhã desta quarta-feira 6, na Câmara dos Deputados.
O PL 1043/19, de autoria do deputado David Soares
(União-SP), tem como principais argumentos a democratização e a ampliação dos
serviços bancários para a população, e a geração de empregos – ambos frisados
na audiência pelo representante da Febraban (federação dos bancos) na audiência
pública realizada nesta quarta-feira 6.
Ivone Silva, presidenta do Sindicato dos Bancários de São
Paulo, lembrou que os clientes já são atendidos nos sábados e domingos, por
meio do telemarketing, cujos trabalhadores contam com acordos coletivos com o
Sindicato, que garantem pausas e fins de semana de folga. A dirigente ressaltou
que quando os bancos fazem feirões de agronegócios ou de casa própria, os
sindicatos são comunicados, e esses trabalhadores recebem hora extra.
“Nós somos contrários a abrir agências ao sábados e domingos
porque estamos indo na contramão da realidade, quando a maioria das transações
é feita por via eletrônica. E, além disso, o cliente é mal atendido nas
agências de segunda a sexta por causa da falta de funcionários. O que vai
diferenciar abrir uma agência aos sábados e domingos com pouquíssimos
funcionários? Não tem caixas nas agências, se quiser pagar conta de energia
elétrica, te mandam para uma lotérica. Os bancos não recebem as contas. Ou te
obrigam a abrir uma conta [bancária] para colocar em débito automático, ou te
mandam pagar em correspondente bancário”, ressaltou a dirigente.
Para Ivone, o que deveria ser discutido é como melhorar o
atendimento aos clientes de segunda a sexta, porque é neste período que as
pessoas procuram os serviços bancários. “Os clientes não querem ir na agência
no sábado e no domingo. Alguns bancos já abriram no sábado e, em São Paulo,
pouquíssimas pessoas procuraram as agências.”
Ivone também lembrou o grande endividamento do consumidor
com o cartão de crédito. “Além de não ter agência suficiente que atende o
cliente de segunda a sexta, não tem linha de crédito suficiente de juros baixos
para os clientes. Então o que sobrou é o cartão de crédito com juros em torno
de 350% ao ano, o que é muito alto.”
A presidenta do Sindicato lembrou que atualmente existem
pouquíssimos bancários para atendimento nas agências. E os funcionários
remanescentes atendem um número excessivo de clientes, o que tem causado
adoecimento psicológico na categoria. Ela citou pesquisa feita com a categoria,
que apontou que 77% dos bancários que responderam sentem muita fadiga e
preocupação com o emprego. E 35% usam medicamento controlado. “Por isso é muito
importante que os bancários tenham o fim de semana para descansar.”
Dados enfraquecem argumentos para abertura de agências aos
fins de semana
Durante a audiência, Nádia Vieira de Souza, do Departamento
Intersindical de Estatísticas e Estudos Sócio Econômicos (Dieese), citou uma
série de dados que enfraquecem os argumentos para a abertura de agências aos
sábados e domingos.
Grande parte do investimento do setor bancário em inovações
tecnológicas, que é de cerca de 30 bilhões por ano, segundo a Febraban, é
voltado para o desenvolvimento de canais de atendimento digital que
possibilitem a migração dos clientes de canais físicos (como as agências bancárias)
para estes canais digitais (como o celular ou o computador, por exemplo).
Com isso, vem caindo de forma intensa o volume de transações
bancárias realizadas nas agências. As transferências feitas em agências caíram
13%, a contratação de crédito caiu 15%, os depósitos caíram 28% e o pagamento
de contas caiu 47%.
Por outro lado, ainda segundo a Febraban, as transferências
por celular cresceram 60%, a contratação de crédito e o pagamento de contas por
canais digitais cresceram 44% e 51%, respectivamente.
Com isso a cada ano que passa as agências bancárias
representam uma participação menor no total de transações bancárias realizadas.
Em 2009, as agências eram responsáveis por 16% do total de transações e em 2020
passaram a representar apenas 3,2% do total de transações bancárias realizadas.
Ao mesmo tempo as transações via mobile (celular) saíram de 0% de participação
em 2009 para 51,1% em 2020. Os dados são da Febraban.
Os clientes que utilizaram mais de 80% das transações (heavy
users) em mobile, também mais que dobraram em 2020, e os clientes heavy users
do internet banking também aumentaram nesse mesmo ano; 76,3 milhões de pessoas
realizaram mais de 80% de suas transações pelo celular em 2020, segundo a
Febraban.
Ao mesmo tempo que investem pesadamente na digitalização do
atendimento, o setor bancário vem reduzindo suas estruturas físicas, tanto em
termos de agências, quanto em termos de emprego bancário. Entre 2014 e 2021 os
bancos fecharam mais de 5.246 agências bancárias no país, segundo o Banco
Central.
Entre 2013 e 2021 foram fechados mais de 77 mil postos de
trabalho, sendo mais de 57 mil desde 2016, principalmente entre os bancários de
agências (caixas, escriturários, atendentes). Os dados são do Caged (Cadastro
Geral de Empregados e Desempregados).
Por outro lado, ao mesmo tempo em que fecham agências
bancárias e postos de trabalho, os bancos investem pesadamente em parcerias com
correspondentes bancários. O número de correspondentes bancários é 13 vezes
maior do que o número de agências bancárias no país.
Para os bancários, ao invés da proposta que prevê abertura
das agências aos sábados e domingos, os bancos devem recompor o nível de
emprego no setor para melhor atender a população brasileira, além de abrirem
mais agências bancárias, principalmente naqueles municípios que não contam com
essas estruturas. Desde 2016 subiu de 36% para 43% o número de municípios que
não contam com uma agencia bancaria sequer.
Fonte e Imagem: FEEB/PR - Federação dos
Bancários do Estado do Paraná
UGT - União Geral dos Trabalhadores