06/07/2022
A proporção de domicílios em que os moradores realizaram ao
menos uma viagem caiu de 21,8%, em 2019, para 13,9% em 2020. Um ano depois,
chegou a 12,7%. As despesas totais em viagens nacionais com pernoite somaram R$
9,8 bilhões em 2021, uma queda em relação ao total registrado no ano anterior,
quando haviam sido gastos R$ 11,0 bilhões.
Mesmo com a pandemia de Covid-19, a falta de dinheiro
continua sendo o motivo mais apontado pelos entrevistados para não ter viajado.
Em 2020, 33,3% alegaram falta de dinheiro (em 2021, esse percentual caiu para
30,5%), 19,2% disseram não ter necessidade (20,8% em 2021) e para 9,6% faltou
tempo (8,3% em 2021). Os dados são da PNAD Contínua Turismo 2020-2021,
divulgada hoje (6) pelo IBGE. A pesquisa, fruto de uma parceria com o
Ministério do Turismo, é realizada desde 2019.
“Os resultados refletem os impactos causados pela pandemia
no comportamento das pessoas em relação às atividades turísticas. As viagens
caíram 41% entre 2019 e 2021 e essa queda atingiu todas as classes de rendimento.
O ano de 2021 foi ainda pior para o turismo que o de 2020”, aponta a analista
da pesquisa, Flávia Vinhaes. Em 2019, foram realizados 20,9 milhões de viagens
e, em 2021, 12,3 milhões.
Ela ressalta que embora a falta de dinheiro ainda seja o
motivo de não viajar mais apontado pelos entrevistados, a participação dessa
resposta caiu, chegando a 30,5% em 2021, enquanto 20,9% escolheram a opção
Outro. Essa categoria inclui os motivos relacionados à pandemia, como a
impossibilidade de pegar voo, necessidade de isolamento social ou infeção pelo
vírus no período. Em 2019, em quase metade (49,2%) dos domicílios cujos
moradores não viajaram, o motivo para a ausência de viagem foi a falta de
dinheiro.
Essa escassez de recursos como motivo para não viajar cai à
medida que os rendimentos domiciliares per capita crescem. Entre aquelas
pessoas que ganham até meio salário mínimo, não ter dinheiro foi apontado por
44,4% em 2021. No ano anterior, esse percentual era ainda maior: 47,9%. Entre
os que têm rendimento de quatro salários mínimos ou mais, a falta de dinheiro
aparece na penúltima posição entre os motivos alegados para a não realização de
viagem, atrás apenas de problemas de saúde, que foram citados por 2,8% dos
entrevistados desse grupo. Em 2021, o motivo mais apontado pelas pessoas dessa
classe de rendimento foi outro, com 44,8%, seguido pela falta de necessidade
(15,0%).
“A categoria Outro ganhou relevância com as questões
relacionadas à pandemia. Os domicílios com rendimentos mais elevados mostraram
maior preocupação com a crise sanitária ser um impeditivo para a realização de
viagens. Se observarmos em 2019, o principal motivo de não viagem desse grupo
era a falta de tempo”, diz Flávia. Em 2021, a falta de tempo foi citada por
12,7% dos moradores de domicílios com maiores rendimentos e por 8,3% do total
de entrevistados.
Em cerca de um terço (33,1%) dos domicílios com renda per
capita de quatro ou mais salários mínimos, algum morador viajou em 2021. Já
entre aqueles com renda per capita abaixo de meio salário mínimo, esse
percentual foi de 7,7% no mesmo ano. Em 86,2% dos 62,4 milhões de lares cujos
moradores não fizeram nenhuma viagem, a renda era inferior a dois salários
mínimos.
A analista da pesquisa observa que em 2021 houve um aumento
no contingente de domicílios com rendimento menor que um salário mínimo,
chegando a 43,3 milhões. Em 2019, eram 40,7 milhões de domicílios com essa
faixa de rendimento.
“O que pode ser observado também pela PNAD – Rendimento de
todas as fontes é uma queda no rendimento médio mensal domiciliar per capita
entre 2019 e 2020. Então, apesar de esses domicílios comporem classes de
rendimento mais baixas do que compunham em 2019, essa ausência de viagem não
foi mais atribuída à falta de dinheiro do que havia sido naquele ano. Isso pode
ter acontecido porque, com a Covid-19, algumas pessoas passaram a atribuir a
não viagem ao afastamento social ou a dificuldade de deslocamento inerente à
pandemia”, diz Flávia.
A proporção de viagens internacionais caiu de 3,8% em 2019
para 0,7% em 2021. Dos 12,3 milhões de viagens analisadas no ano passado, 99,3%
tiveram trajeto nacional. Em 2020, as viagens dentro do país representaram
98,0% dos 13,6 milhões de viagens detalhadas pela pesquisa. De acordo com a
analista, esse dado está relacionado a outro indicador: o meio de transporte
utilizado pelos viajantes.
“Uma característica marcante nas viagens analisadas é que a
maioria delas é feita de automóvel, seja de carro pessoal ou de empresa. Em um
país de dimensões continentais como o Brasil, é bem mais raro uma pessoa sair
do país utilizando carro. Em geral, ela viaja dentro da mesma região em que
mora ou até do mesmo estado”, pontua.
Em 2021, o carro particular ou de empresa continuou sendo o
principal transporte para viajar, com 57,2%, seguido por ônibus de linha
(12,5%). Quando observada a análise por classe de renda, a participação do uso
do avião cresce quando aumenta o rendimento domiciliar. Nos domicílios com
rendimento domiciliar per capita de até meio salário mínimo, o avião foi o meio
de transporte utilizado em apenas 4,3% das viagens. Esse percentual sobe para
21,1% nos domicílios que têm rendimento per capita de quatro salários mínimos
ou mais.
Nos domicílios com menor renda, 35,1% das viagens foram para
tratamento de saúde
Em 2021, cerca de 85,4% das viagens tiveram finalidade
pessoal, enquanto 14,6% foram profissionais. Os principais motivos pessoais de
viagem são lazer (35,7%), visitas a parentes ou amigos (32,5%) e tratamento de
saúde (19,6%). Essa última categoria inclui os trajetos feitos para consultas
médicas, internações ou cirurgias e atendimento psicológico.
O lazer foi predominante como motivo de viagem entre os
domicílios com rendimento domiciliar per capita igual ou superior a um salário
mínimo. Nos lares com renda per capita de quatro ou mais salários mínimos, mais
da metade (57,5%) dessas viagens pessoais foi feita por lazer. Mas, entre as classes de rendimento abaixo de
meio salário mínimo, a prioridade é outra: 35,1% das viagens se destinaram a
tratamento de saúde. A visita a parentes ou amigos aparece em segundo lugar
para esse grupo, com 31,4%, e apenas 14,3% delas foram feitas por lazer.
“A visita a parentes ou amigos continua bastante expressiva
em todas as classes de rendimento, enquanto o lazer aparece mais nas classes de
rendimentos mais elevados. Já o tratamento de saúde, que é bem significativo
entre os motivos de viagens das classes com menores rendimentos, pode ser
explicado pela necessidade de deslocamento de pessoas que moram em cidades
pequenas, que muitas vezes não têm estrutura para realização de cirurgias,
intervenções e outros tipos de tratamento. As classes com maiores rendimentos,
por sua vez, estão concentradas em grandes centros urbanos, que costumam ter
uma estrutura relacionada à saúde mais diversificada”, diz a analista da
pesquisa. O tratamento de saúde representa a motivação de apenas 4,4% das
viagens pessoais entre os domicílios com rendimento de quatro ou mais salários
mínimos.
Enquanto, em 2020, mais da metade (55,6%) das viagens
motivadas por lazer foram em busca de destino de sol e praia, no segundo ano da
pandemia, esse número caiu para 48,7%. Outras 25,6% buscaram natureza,
ecoturismo ou aventura, percentual superior ao registrado no ano anterior
(20,5%). “Isso também pode ter sido influenciado pelas questões sanitárias da
pandemia. Muita gente pode ter buscado alternativas de lazer com menos
aglomeração, como trilhas e cachoeiras, em vez de viajar para praias, onde há
maior concentração de pessoas”, afirma Flávia. A viagem por cultura e
gastronomia, com acesso a patrimônio histórico e cultural, aparece em terceiro
lugar, com 16,0%.
Em 2021, uma em cada cinco viagens foi para o estado de São
Paulo
O principal local de hospedagem relatado pelos entrevistados
em 2021 foi a casa de amigos ou parentes, com 42,9%. Em 2019, ela já aparecia
como a opção de quase metade das viagens (47,2%). No ano passado, foi seguida pela
categoria outro (28,2%), que inclui casa de apoio, hospital, veleiro, local do
trabalho, entre outros tipos de alojamento. Já a opção hotel, resort ou flat
foi escolhida por 14,7%.
Essa categoria foi o principal tipo de hospedagem entre
aqueles que viajaram com finalidade profissional em 2019, com 45,5%. Mas, em
2021, esse percentual caiu para 28,3%, ficando atrás de outro (38,8%). “Essa
grande diminuição da hospedagem em hotel e flat em viagens realizadas por
motivos profissionais está provavelmente relacionada à crise sanitária. Essas
pessoas que antes se hospedavam em hotéis tiveram que buscar hospedagem na casa
de amigos ou parentes”, diz a pesquisadora. Em 2019, a casa de amigos ou
parentes havia sido o tipo de hospedagem de 15,5% das viagens a trabalho,
percentual que subiu para 20,7% em 2021.
A pesquisa também aponta que as regiões mais visitadas no
Brasil foram Sudeste (40,9%), Nordeste (28,2%) e Sul (17,3%). Parte expressiva
dos deslocamentos aconteceu dentro de uma mesma região e até no interior dos
estados. São Paulo aparece em primeiro lugar entre os destinos mais procurados
para as viagens nacionais, concentrando 20,6% dos viajantes do país. Esse
estado foi seguido por Minas Gerais (11,4%), Bahia (9,5%), Rio de Janeiro
(6,6%) e Rio Grande do Sul (6,5%).
De 2020 para 2021, gastos com turismo caem de R$ 11 bilhões
para R$ 9,8 bilhões
Pela primeira vez, a PNAD Turismo levantou os dados
relativos aos gastos no setor. As despesas totais em viagens nacionais com
pernoite somaram R$ 9,8 bilhões em 2021, uma queda em relação ao total
registrado no ano anterior, quando haviam sido gastos R$ 11,0 bilhões. São
Paulo respondeu por 18,2% de todo o gasto com turismo no país no ano passado,
totalizando R$ 1,8 bilhão. Esse estado foi seguido por Bahia (R$ 1,1 bilhão),
Rio de Janeiro (R$ 1,0 bilhão) e Santa Catarina (R$ 864 milhões).
“Esses indicadores são uma novidade importante porque ajudam
a dimensionar o impacto do turismo nos destinos, na hospedagem e no transporte.
Em linhas gerais, os gastos turísticos em viagens com pernoite caíram entre
esses dois anos, o que tem relação com a própria queda das viagens no período.
Mas o gasto médio diário per capita cresceu, ou seja, o valor gasto por dia
pelo viajante em um determinado destino aumentou de R$ 180 para R$ 204 em um
ano”, diz Flávia.
Os gastos per capita diários médios foram maiores no
Distrito Federal, com R$ 292, seguido por Rio de Janeiro (R$ 288), Santa
Catarina (R$ 257) e Alagoas (R$ 248). Já o gasto total médio das viagens
nacionais com pernoite foi estimado em R$ 1.331. Esses gastos são bastante
impactados pela quantidade de participantes da viagem. No caso do gasto per
capita, a média foi de R$ 799.
A hospedagem foi responsável pela maior parte dos gastos
realizados em viagem. Em média, o gasto foi de R$ 1.292, enquanto o de
alimentação foi de R$ 501 e o de transporte, R$ 442.
Sobre a pesquisa
A PNAD Turismo quantifica os fluxos de turistas nacionais
entre as diferentes regiões do país e para o exterior. Em 2020 e 2021, foram
apurados gastos e características das viagens realizadas, associados a outras
variáveis, incluindo o rendimento domiciliar per capita. O tema Turismo vem
sendo investigado na PNAD Contínua desde 2019, por meio de um convênio entre o
IBGE e o Ministério do Turismo. Os dados da pesquisa podem ser acessados pelo
Sidra.
Resumo
Em 2019, foram realizados 20,9 milhões de viagens e, em
2021, 12,3 milhões. O número de viagens caiu 41% entre 2019 e 2021.
A PNAD levantou pela primeira vez os gastos com turismo. Em
2021, os gastos totais em viagens nacionais com pernoite somaram R$ 9,8
bilhões, contra R$ 11,0 bilhões em 2020.
Em 2021, os maiores gastos foram em viagens para São Paulo
(R$ 1,8 bilhão), Bahia (R$1,1 bilhão) e Rio de Janeiro (R$1,0 bilhão).
Uma em cada cinco viagens (ou 20,6% delas) foi para o estado
de São Paulo, o destino mais procurado. Minas Gerais (11,4%) e Bahia (9,5%)
vieram a seguir.
A proporção de domicílios em que algum morador viajou caiu
de 21,8% em 2019 para 13,9% em 2020 e para 12,7% em 2021.
Em cerca de um terço (33,1%) dos domicílios com renda per
capita de quatro ou mais salários mínimos, algum morador viajou em 2021. No
extremo oposto, em apenas 7,7% dos domicílios com renda per capita abaixo de
meio salário mínimo, algum morador viajou no mesmo ano.
Nos domicílios com renda per capita abaixo de meio salário
mínimo, 35,1% das viagens pessoais foram para tratamento de saúde e apenas
14,3% para lazer. Já nos domicílios com renda per capita de quatro ou mais
salários mínimos, 57,5% das viagens foram para lazer e apenas 4,4% para
tratamento de saúde.
Cerca de 57,2% das viagens de 2021 foram em carro particular
ou de empresas, 12,5% em ônibus de linha e 10,2% de avião.
O percentual de viagens internacionais no total captado pela
PNAD caiu de 3,8% em 2019 para 0,7% em 2021.
Do total de viagens em 2021, cerca de 14,6% foram
profissionais e 85,4%, pessoais.
Fonte e Foto: Agência IBGE
UGT - União Geral dos Trabalhadores