10/06/2022
O rendimento médio mensal domiciliar por pessoa caiu 6,9% em
2021 e passou de R$ 1.454 em 2020 para R$ 1.353. Este é o menor valor da série
histórica, iniciada em 2012, da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
(PNAD) Contínua: Rendimento de todas as fontes 2021, divulgada hoje (10) pelo
IBGE. Norte e Nordeste foram as regiões que apresentaram os menores valores (R$
871 e R$ 843, respectivamente) e também as maiores perdas entre 2020 e 2021 (de
9,8% e 12,5%, nessa ordem). Já as regiões Sul e Sudeste se mantiveram com os
maiores rendimentos (R$ 1.656 e R$ 1.645, respectivamente).
“Esse resultado é explicado pela queda do rendimento médio
do trabalho, que retraiu mesmo com o nível de ocupação começando a se
recuperar, e também pela diminuição da renda das outras fontes, exceto as do
aluguel”, explica Alessandra Scalioni, analista da pesquisa, apontando a
mudança nos critérios de concessão do auxílio-emergencial ocorridas em 2021
como uma das principais causas da queda no rendimento de outras fontes.
O percentual de pessoas com algum rendimento, de qualquer
tipo, na população do país também caiu: de 61% para 59,8%, retornando ao
percentual de 2012, o menor da série. Houve redução em todas as regiões,
principalmente no Norte. O Sul (64,8%) continua com a maior estimativa, como
aconteceu em todos os anos da série histórica. As menores são nas regiões Norte
(53,0%) e Nordeste (56,3%).
Esse percentual aumentou em “Todos os trabalhos” de 40,1%
para 41,1%, o que corrobora o aumento de ocupação no país. Em contrapartida,
houve queda no percentual das pessoas com rendimentos no conjunto das “Outras
fontes”, que saiu de 28,3% para 24,8%. A maior variação foi em “Outros
rendimentos”, que saiu de 14,3% para 10,6%.
Na divisão de participação da renda domiciliar entre os tipos
de rendimento, somente a contribuição do item “Outros rendimentos” caiu de 2020
para 2021, chegando a 4%. A renda de “Todos os trabalhos” chegou a 75,3%,
enquanto “Aposentadoria e Pensão” representou 18,2%, “Aluguel e Arrendamento”
atingiu 1,7% e “Pensão alimentícia, Doação e Mesada de não-morador” chegou a
0,9%. “Houve um aumento importante em Outros rendimentos no primeiro ano da
pandemia, 2020, por conta do incremento no item ‘Outros Programas Sociais’,
onde foi classificado o auxílio-emergencial. As alterações que ocorreram nos
critérios de concessão e nos valores do auxílio em 2021 explicam esse tipo de
renda estar perdendo importância. Há menos gente ganhando e o valor também
diminuiu”, explica a analista.
Dois dos cinco tipos de rendimento estão no nível mais baixo
da série histórica
O módulo de rendimento da PNAD Contínua divulgou, ainda, que
em 2021, dois tipos de rendimento chegaram ao menor valor médio mensal da série
histórica: Aposentadoria e Pensão (R$1.959) e outros rendimentos (R$ 512). Desta
forma, o item “Outras fontes”, que engloba, além desses, Aluguel e arrendamento
(R$ 1.814) e Pensão alimentícia, doação e mesada de não morador (R$ 667), teve
média de R$ 1.348, também atingindo o valor mais baixo da série.
Essas quedas explicam o motivo do índice global, que mede a
renda média mensal da população com rendimento considerando todas as fontes,
também ter chegado ao menor valor da série histórica: R$ 2.665
Para a analista da pesquisa, a inflação ajuda a explicar
essas quedas. “Os valores da aposentadoria acompanham o reajuste do
salário-mínimo e grande parte dos aposentados ganha o piso. Como os reajustes
não estão compensando a inflação, é natural essa perda de valor”, afirma
Scalioni. Já o item outro rendimento também é explicado com as alterações nas
concessões e nos valores do auxílio-emergencial.
Desigualdade cresce, exceto para o rendimento de todos os
trabalhos
A pesquisa também mostra a desigualdade de renda no país em
2021. Após relativa estabilidade em 2019 (0,544) e queda em 2020 (0,524), o
índice de Gini do rendimento médio mensal domiciliar por pessoa aumentou em
2021, voltando ao patamar de dois anos antes (0,544). Quanto maior o Gini,
maior a desigualdade.
Entre 2020 e 2021, a desigualdade aumentou em todas as
regiões, sobretudo no Norte e no Nordeste. Alessandra Scalioni explica: “São
regiões onde o recebimento do auxílio-emergencial atingiu maior proporção de
domicílios durante a pandemia de COVID-19 e que, por isso, podem ter sido mais
afetadas com as mudanças no programa ocorridas em 2021”. A Região Nordeste se
manteve com o maior índice de Gini em 2021 (0,556), enquanto a Região Sul
apresentou o menor (0,462).
Já no que diz respeito apenas ao rendimento médio mensal de
todos os trabalhos, o índice variou negativamente de 0,500 para 0,499. Esse
resultado demonstra que o retorno de parte da população ocupada em 2021 reduziu
a média de rendimento e não modificou o perfil da distribuição de renda do
trabalho no país.
Quando a análise é na estratificação em classes de
percentual das pessoas em ordem crescente de rendimento domiciliar por pessoa –
ou seja, de quem menos recebe para quem mais recebe, a pesquisa mostra que
aproximadamente metade da população com menores rendimentos recebeu, em média,
R$ 415, uma queda de 15,1% em relação a 2020 (R$ 489), resultado no menor valor
da série histórica.
Em 2021, a queda do rendimento mensal por pessoa foi
disseminada entre as classes, porém, foi maior entre as faixas com menor
rendimento. Entre os 5% de menor renda (R$ 39) caiu 33,9% e entre os de 5% a
10% (R$ 148) caiu 31,8%. Já entre o 1% com maior renda (R$ 15.940) caiu 6,4%.
Ou seja, em 2021, o 1% da população brasileira com renda
mais alta teve rendimento 38,4 vezes maior que a média dos 50% com as menores
remunerações.
Fonte e Foto: Agência IBGE
UGT - União Geral dos Trabalhadores