10/06/2022
Enquanto juiz cita falta de viabilidade econômica do
negócio, o presidente da dona da Ricardo Eletro afirma que não houve pedido de
falência por nenhum dos 17 mil credores da companhia
A Máquina de Vendas, dona da Ricardo Eletro, teve sua
falência decretada pela 1ª Vara de Falências de São Paulo, que citou a falta de
viabilidade econômica do negócio. Segundo o atual presidente e controlador da
Máquina de Vendas, Pedro Bianchi, a decisão foi uma “surpresa muito grande”.
"O juiz tomou essa decisão sem ouvir ninguém. Nenhum credor pediu a nossa
falência e o administrador judicial não quer a nossa falência", disse
Bianchi, que assumiu o negócio depois de trabalhar em uma empresa que tentava
reverter a má situação financeira da companhia.
O Estadão conversou com um credor da companhia que afirmou
que, pelo menos por ora, não há intenção mesmo de pedir a falência da
companhia, apesar de existir dúvidas se o negócio, um dia, terá capacidade de
honrar seus compromissos. Por isso, há ações de cobrança e execução de garantias
em curso. A dívida do negócio é bilionária, e somente o Bradesco e o Santander
concentram cerca de R$ 2 bilhões em títulos da dívida (debêntures).
De acordo com Bianchi, nenhum dos 17 mil credores pediu a
falência da companhia, que segue com os planos de retomar as operações nas
próximas semanas. A Máquina de Vendas, que chegou a ter 1,2 mil lojas e a
faturar R$ 9,5 bilhões, rivalizando com gigantes como Casas Bahia, Ponto e
Magazine Luiza, hoje é um site com poucos produtos e faturamento próximo de
zero, conforme mostrou reportagem do Estadão no fim de abril. A companhia, além
da Ricardo Eletro, também concentrava bandeiras como CityLar e Insinuante.
Sem viabilidade econômica
No processo que executou a falência da varejista, o juiz
definiu que a Máquina de Vendas não tem mais viabilidade econômica e que houve
um esvaziamento patrimonial da operação, especialmente após o fechamento das
lojas durante o período de pandemia.
De acordo com Bianchi, esses argumentos não se sustentam.
"Não é o juiz que tem de definir se a empresa tem viabilidade econômica ou
não, mas os credores. E sobre o esvaziamento patrimonial, o que aconteceu foi
que, após o fechamento das lojas, fizemos uma baixa contábil do estoque que
sobrou e fomos consumindo para a operação. Mas a empresa não desviou nada, pois
foi tudo para a operação e a despesa corrente", afirma o empresário.
Segundo o empresário, a Máquina de Vendas já entrou com uma
liminar contra a decisão e espera que ela seja aceita até esta sexta-feira, 10.
Ele completa que os planos para colocar a operação online da Ricardo Eletro no
ar seguem no mesmo ritmo: o site voltou a vender cerca de R$ 30 mil por dia,
mesmo antes do relançamento dele, que deve acontecer na próxima semana.
O empresário ainda afirma que caso a liminar não seja
concedida, a Máquina de Vendas vai recorrer ao Supremo Tribunal de Justiça
(STJ). "Mas estamos com boas expectativas da liminar ser aceita e existem
credores que já vão entrar no recurso nos apoiando. O juiz causou uma surpresa
para todo mundo", diz.
História
Após atingir o faturamento de R$ 9,5 bilhões, em 2014, a
companhia entrou em um período de dificuldades que coincidiu com a recessão
econômica do Brasil. Em 2018, veio a recuperação extrajudicial – graças aos
bilhões em empréstimos tomados com bancos e fornecedores – e a promessa de que
as coisas iriam mudar. Foi nessa época que Bianchi, então sócio do fundo
Starboard, assumiu o comando da empresa.
A pandemia complicou o cenário da já combalida Máquina de
Vendas, que decidiu fechar todas as lojas. Resultado: a receita da empresa foi
minguando, de R$ 180 milhões mensais em 2019 para praticamente zero. Para
completar, por dívidas tributárias, Ricardo Nunes foi preso em 2020, acusado de
sonegação, mas ficou só um dia na cadeia. Bianchi comprou a participação de
Nunes na Máquina de Vendas, e o antigo dono partiu para a vida de “coach”.
Durante a pandemia, Bianchi decidiu largar o seu cargo na
Starboard para focar totalmente na Máquina de Vendas. Com isso, a sua principal
missão foi renegociar todas as dívidas da companhia, que chegam a R$ 4 bilhões,
além de mais R$ 1 bilhão em atrasos tributários. O resultado disso tudo foi que
a empresa precisou entrar em recuperação judicial.
Mais recentemente, com Pedro no controle total da Máquina de
Vendas, a companhia passou por uma reestruturação total. De 28 mil funcionários
no auge, reduziu a operação para 40 pessoas. Também mudou o sistema do
e-commerce para uma tecnologia da Vtex, com a esperança de que as vendas online
poderiam representar o início da retomada da empresa. A ideia é, inclusive,
retomar a operação de lojas físicas em 2023.
Para o empresário, os planos continuam mesmo com a decisão
de falência decretada pelo juiz. "Tudo continua nos planos. Aqui é
imparável", diz ele. / COLABOROU FERNANDO SCHELLER
Fonte e Foto: Estadão
UGT - União Geral dos Trabalhadores