09/06/2022
Guerra na Ucrânia fez disparar preços do desjejum do
brasileiro. Café dobra, leite sobe 26% e pão francês tem alta de 14% em um ano,
aponta consultoria
Nem mesmo o pingado e pão na chapa, ou com ovo, escaparam. O
clássico café da manhã de balcão de padaria, que um dia foi menos de R$ 5,
hoje, oscila entre R$ 8 e R$ 15 das grandes capitais. Nas casas mais
sofisticadas, o expresso chega a custar R$ 9 e o combo passa facilmente dos R$
20.
A cesta básica de desjejum do brasileiro encareceu no último
ano e disparou de março para cá, um reflexo da guerra entre Rússia e Ucrânia.
Além de os dois países serem grandes produtores de trigo, o conflito prejudica
indiretamente o abastecimento global de outros grãos. A inflação está acima de
11% em 12 meses, segundo dados divulgados nesta quinta-feira.
Uma pesquisa realizada com exclusividade para O GLOBO pela
Horus Inteligência de Mercado a partir da consulta de 35 milhões de notas
fiscais no país mostra que o quilo do pãozinho francês beira R$ 15 (alta de 14%
em 12 meses) e o de forma, R$ 23. Já o leite, pelo qual o consumidor pagava uma
média de R$ 4,31 o litro há um ano, agora sai por volta de R$ 5,45, alta de
26%.
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Para a diarista Maria Celina Pereira da Silva, de 58 anos,
que gosta de começar o dia com um café com leite e pão com queijo, estes
números são percebidos a cada saída de casa.
— Tudo aumentou, até o ovo que é base. Eu pesquiso e
acompanho as promoções para as compras maiores. No dia a dia, vou comprando
aqui e ali. O pão, por exemplo, acho mais em conta na padaria.
Não é somente impressão dela. Os ovos brancos que custavam
em torno de R$ 7,85, a dúzia, estão na casa dos R$ 9,34. E o café é o item mais
caro da primeira refeição do dia: saltou de R$ 22,25 para R$ 43,34, o quilo —
quase o dobro, segundo a consultoria, que também acompanhada mensalmente os
preços de itens básicos da cesta do brasileiro, parceria com a FGV/Ibre.
Baguete mais cara que
carne
Em alguns locais na Zona Sul do Rio, o quilo do pão chega a
custar mais que o da carne. Caso de um mercado cujo preço da baguete, de R$
36,90, supera o da carne moída de Acem (R$ 32,99/kg) e o de filé de peito de
frango (25,99/kg). E em uma delicatessen, com o francesinho a R$ 23 o quilo,
cada unidade fica torno de R$ 1,30.
Se considerar percentualmente, em 12 meses, o pão subiu 13%,
o leite quase 24%, o café uns 68% e o ovo, 17,7%, segundo a inflação oficial do
país, o IPCA, calculado pelo IBGE.
Destaque para o pão, que em abril de 2022 registou variação
de preço mensal de IPCA de 4,52% — a maior em 16 anos. No acumulado do ano, não
se via aumento como o de agora (de 9,72%) desde dezembro de 2015, quando fora
de 12,05%.
Ainda que o Brasil importe a maior parte de sua farinha de
trigo da América, principalmente da Argentina, não tem como fugir do impacto
global.
Luiza Zacharias, diretora de Novos Negócios da Horus,
acrescenta que a quebra na safra de grãos como café, soja e milho agravam o
cenário já limitado pelo conflito no Leste Europeu.
— O preço do pão vem subindo fortemente nos últimos meses,
principalmente por causa do aumento do trigo, por causa da guerra. Assim que
eclodiu, o trigo subiu 30% e vai na escalada de inflação. No caso do café, a
redução da oferta no mercado internacional e valorização do dólar tornam a
exportação mais atrativa e o preço sobe internamente — resume a estatística.
Paulo Menegueli, presidente da Associação Brasileira da
Indústria de Panificação e Confeitaria (Abip), considera que a guerra agravou
fatores que já pressionavam o setor.
— Na pandemia, tivemos um aumento muito grande de embalagens
e os insumos começaram a subir desde aquela época. A energia também subiu e o
combustível dobrou de valor.
Ele continua:
— Temos orientado as entidades a repassar só o que for
necessário, mas o que estamos vendo é um desespero geral. O valor de US$ 500
(R$ 2.397) numa tonelada de trigo é histórico.
Padarias e fábricas
O aumento destes produtos reverbera por toda a cadeia e
empresários tentam equilibrar as contas. A dona da rede de padarias que leva o
seu sobrenome Patricia Cardin, por exemplo, aplicou reajuste nos pães recheados
e segurou os da minibaguete, que é seu produto mais básico, para ganhar no
volume de vendas.
O consumo nas lojas
está mais contido, sem compras por impulso, explica:
— Está difícil até de repassar para o consumidor. Fiz um
reajuste em novembro e outro em maio de 5% em cada. Não tinha mais como
segurar.
A Bimbo, detentora das marcas Pullman, Plusvita, AnaMaria e
outras, diz que está buscando melhorar processos para reduzir custo e lançar
produtos direcionados para minimizar os impactos.
— Toda nossa cadeia de suprimentos sofre impactos causados
pela inflação, e estamos de olho no perfil de consumo que pode ser afetado. A
redução no poder de compra de algumas categorias acaba pressionando ainda mais
o posicionamento da indústria — explica Afonso Argudín, diretor geral da Bimbo
Brasil.
Fonte e Foto: O Globo
UGT - União Geral dos Trabalhadores