09/06/2022
A Covid-19 já representa 93,7% das síndromes gripais
atendidas nos prontos-socorros de hospitais privados de ponta, mostra pesquisa
inédita da Anahp (Associação Nacional dos Hospitais Privados) com 21 instituições
de todo o país.
Nove em cada dez hospitais consultados relatam aumento do
número de casos de Covid-19 nas últimas duas semanas. Dos atendimentos feitos
nos prontos-socorros, 4,5% têm gerado internação. Dos hospitalizados, pouco
mais de um quarto (28%) precisa de terapia intensiva.
A alta de casos tem reflexo na taxa de ocupação dos
hospitais. Em abril, segundo a pesquisa, estava em 77,5%. No fim de maio,
atingiu 84%. A Anahp reúne 135 instituições, entre elas Albert Einstein,
Sírio-Libanês e Oswaldo Cruz, todos em São Paulo.
"O momento é de atenção. Há um aumento claríssimo das
internações, e os hospitais estão tendo que ampliar a destinação de leitos para
Covid. Não há ainda uma situação preocupante de UTIs, mas, em relação às
semanas anteriores, essa foi a de maior preocupação", diz Antônio Britto,
diretor-executivo da Anahp.
O crescimento de casos tem levado os hospitais a ampliar o
número de leitos de isolamento, a remanejar procedimentos de pacientes com
testes positivos para o coronavírus e até "pisar no freio" de
cirurgias eletivas.
O Hospital Israelita Albert Einstein, por exemplo, voltou a
reservar 114 leitos para a Covid, que já estavam desocupados com queda dos
casos nos meses anteriores. "A gente aprendeu a ser flexível e ágil na reconfiguração
das unidades de internação. Transforma em Covid, depois em não Covid conforme a
necessidade", diz Miguel Cendoroglo Neto, diretor-superintendente da
instituição.
Na primeira onda, o hospital teve 186 pacientes internados
com Covid. "Parecia impossível lidar com esses 186. Na segunda onda, a
gente bateu em 305". Nesta terça (7), o Einstein tinha 72 pacientes
internados, desses 54 em apartamentos e 18 em UTIs e unidade semi-intensiva.
Segundo Cendoroglo, o saldo de leitos ainda é
"positivo", mas o hospital decidiu segurar um pouco alguns procedimentos
cirúrgicos eletivos. "[em meses anteriores]. Chegamos a ter dez pacientes
internados com Covid. Como agora passamos dos 70, é de se esperar que haja um
pouco de dificuldade de acomodação."
No Hospital Sírio-Libanês, também houve uma readequação dos
leitos que já tinham sido desativados para a Covid. Segundo o hospital, nesta
terça (7), 43 pessoas estavam hospitalizadas com a doença, seis delas na UTI.
Há duas semanas, no dia 24 de maio, eram 22 internados, quatro na UTI.
Na Rede de Hospitais São Camilo são 31 pacientes internados
com Covid-19, contra oito no dia 15 de maio.
No Hospital Alemão Oswaldo Cruz, o maior impacto até agora
tem sido no pronto-atendimento. Em quatro semanas, do início de maio até agora,
dobrou o número de pessoas com sintomas respiratórios, de 160 para 320. A taxa
de positividade dos testes para Covid passou de 30% para 60% nesse período.
Nesta quarta (8), havia 41 pacientes hospitalizados com
Covid, dos quais 11 na UTI. No dia 8 de maio, eram cinco internados no total. O
hospital tem 32 leitos de apartamento e 14 de UTI dedicados à Covid, mas pode
ampliar o número conforme a demanda, segundo José Marcelo Oliveira,
diretor-presidente do Oswaldo Cruz. A taxa média de ocupação atual é de 90%
Os pacientes imunossuprimidos e os mais velhos são os grupos
que têm apresentado um maior grau de gravidade. "Entre eles a gente sabe
que a efetividade da vacina é menor", afirma o infectologista Felipe
Piastrelli, do serviço de controle de infecção hospitalar.
O Oswaldo Cruz tem registrado adiamentos de algumas
cirurgias eletivas devido à confirmação da Covid nos pacientes. Até o início de
maio, 0,5% dos pacientes assintomáticos que faziam teste de Covid antes de
cirurgias agendadas tinham resultado positivo. Agora, a taxa pulou para 1,5%.
Para o gestor do Oswaldo Cruz, o momento é de atenção porque
a curva de casos subiu muito rápido nas últimas quatro semanas. "E não
estamos vendo platô ainda. Não sabemos em que momento da curva estamos. Ninguém
sabe."
A notícia alentadora é que, no geral, a situação dos
internados está menos grave do que nas ondas anteriores, segundo Cendoroglo, do
Einstein. "O tempo médio de permanência no hospital caiu muito. Era pouco
mais de dez dias em março de 2021, depois passou para sete dias no pico da
ômicron, em janeiro, e agora está em quatro dias. Está muito próximo dos
pacientes não Covid."
Essa constatação está levando o hospital a revisar todas as
internações e avaliar se elas realmente foram necessárias.
Metade dos pacientes internados nesta terça no Einstein
tinha acima de 60 anos. Do total, 85% se autodeclararam vacinados contra a
Covid com pelo menos uma dose, 13,9% disseram que não foram imunizados e 1,4%
não tinha há registro no prontuário. A idade média é de 52 anos, o que reforça
a necessidade da quarta dose às pessoas acima de 50 anos.
Cendoroglo diz que, em geral, pacientes não graves de Covid
são candidatos à internação quando estão muito prostrados e precisando de
hidratação. "Por isso têm alta logo, precisam muito menos de
oxigenoterapia." Inflamações e infecções de garganta têm sido sintomas
clássicos.
Segundo Vanessa Teich, superintendente de economia da saúde
do Einstein, outros dados reforçam essa diminuição da gravidade. Em março de
2021, dos 750 internados no Einstein, 52% foram para UTI ou para semi-intensiva
e quase 20% precisaram de ventilação mecânica. A taxa de mortalidade foi de
7,5%.
Em janeiro deste ano, das 720 internações, 28% foram para a
UTI ou semi e 7% precisaram de intubação. E a taxa de mortalidade foi de 5%. Em
abril e maio últimos, dos 228 internados, 28% foram para a UTI, 2% precisaram
de internação. A taxa de mortalidade está em 0,4%.
Para o infectologista Icaro Boszczowski, do Oswaldo Cruz, a
menor frequência de casos graves tem a ver com evolução natural da pandemia, à
medida que as pessoas estão vacinadas e, ao mesmo tempo, expostas à doença
natural.
"A tendência é que as próximas ondas sejam menos
intensas não do ponto de vista do número de infectados, mas do nível de
gravidade. Até que a Covid se torne uma doença endêmica, que vá ter períodos
sazonais e internações dos mais vulneráveis, mas que não estresse tanto os
sistemas de saúde."
Fonte e Foto: Fecomerciários
UGT - União Geral dos Trabalhadores