02/06/2022
Alerta é feito no Dia Mundial de Ação dos Transtornos
Alimentares
O Dia Mundial de Ação dos Transtornos Alimentares,
comemorado hoje (2), tem como foco este ano o movimento Cuidando de Quem Cuida.
A data foi criada em 2015 pela Academy for Eating Disorders, e seu objetivo
principal é promover ações mundiais para conscientizar, sensibilizar e informar
a população sobre os problemas relacionados a esses distúrbios.
Em todo o mundo, estima-se que mais de 70 milhões de pessoas
sejam afetadas por alguma forma de transtorno alimentar, seja anorexia,
bulimia, transtorno de compulsão alimentar, entre outras. O coordenador da
Comissão de Transtornos Alimentares da Associação Brasileira de Psiquiatria
(ABP), José Carlos Appolinário, disse que os transtornos alimentares são
doenças mentais diferentes, “porque o limite entre a doença mental e a doença
clínica, às vezes, é muito tênue”.
Pessoas com anorexia nervosa, por exemplo, podem atingir
graus de desnutrição muito grandes, perda de proteínas, baixa de pressão
arterial e de potássio, podem até morrer em função da desnutrição. As pessoas
com bulimia nervosa, com vômitos autoinduzidos e uso de laxativos e diuréticos,
podem causar alterações hidroeletrolíticas que também podem levar à morte.
Essas alterações ocorrem quando os níveis de hidratação e de eletrólitos
corporais, como sódio, potássio, cálcio, magnésio, entre outros, estão
descompensados. “São transtornos mentais com consequências muito importantes
sobre a saúde física dos indivíduos”.
Multiprofissional
Segundo o médico psiquiatra, a ABP tem incentivado a
divulgação desta data e de todos os tópicos da campanha. Como associação de
psiquiatras e profissionais de saúde mental, a entidade tem o papel importante
de ajudar a população a ter um conhecimento maior sobre transtornos
alimentares. De acordo com ele, isso pode fazer com que as pessoas tenham um
diagnóstico precoce, porque quanto mais cedo é iniciado o tratamento, melhor é
o prognóstico. “Essa conscientização da
população em relação a transtornos alimentares é uma atividade que a ABP
desenvolve, inclusive divulgando o dia mundial e levando informação à
sociedade. Os pais e familiares vão ser muito ajudados nisso para levar mais
precocemente seus filhos, parentes e pessoas conhecidas que tenham esses
problemas a suspeitar antecipadamente da doença”, afirmou.
O tratamento para pessoas com transtornos alimentares tem
que ser multiprofissional. Deve ser conduzido por um psiquiatra, um psicólogo,
um nutricionista e um clínico. “Esses quatro profissionais têm que atuar
conjuntamente. Várias dessas condições vão necessitar de conhecimentos
específicos”, lembrou o especialista, acrescentando que a anorexia nervosa é
considerada a doença de maior mortalidade na psiquiatria.
Treinamento
A ABP realiza também treinamentos e programas de
desenvolvimento dos próprios psiquiatras, para que tenham, cada vez mais,
melhor capacitação no tratamento da doença. No Brasil, o maior número de
transtornos alimentares inclui bulimia, anorexia nervosa e compulsão alimentar.
Considerando todos os transtornos alimentares, conjuntamente, há uma
prevalência em 3% a 4% da população. José Carlos Appolinário advertiu,
entretanto, que há casos que não são ainda transtornos propriamente ditos, mas
que necessitam acompanhamento e tratamento.
“A gente chama de síndromes parciais. Você ainda não tem um
baixo peso, mas um comportamento alimentar muito restrito. Está em queda de
peso muito acentuada. Ou, então, não tem ainda uma frequência muito alta, mas
já começou a induzir vômitos depois de episódios de compulsão, ou seja, não tem
um diagnóstico completo, mas já necessitaria de acompanhamento”. De acordo com
o médico, se somarmos tudo isso, podem ser identificadas síndromes parciais.
Diante dessas doenças complexas, que alteram o comportamento
do indivíduo e, geralmente, a partir de idade muito jovem - em geral, fim da
infância ou início da adolescência - com a pessoa ainda muito ligada aos pais,
os familiares ficam perturbados com todas as modificações, disse o coordenador
da Comissão da ABP, também professor da Universidade Federal do Rio.
Relação familiar
“Isso perturba, principalmente, uma função de relação
familiar, que é a alimentação”, afirma Apolinário. A pessoa com anorexia
nervosa rejeita comida, não senta com a família para fazer as refeições. Isso
mexe com a relação familiar e provoca sobrecarga em relação à doença e ao
tratamento. Por isso, ele sugere que a família participe do tratamento desde o
início das alterações. Também reforça a importância de se tratar não só os
doentes, mas dar apoio e suporte aos familiares, amigos, companheiros (as),
pessoas que estão ajudando a cuidar de quem está com transtornos alimentares.
Muitas vezes, a pessoa com esse tipo de distúrbios não
aceita que está com a doença e que precisa buscar tratamento. Por isso, é
preciso cuidar também dos cuidadores, que vão precisar de muito apoio e
suporte. O papel do cuidador é de extrema importância no processo de
recuperação dos afetados por transtornos alimentares. A ABP destacou que para
cuidar do outro faz-se necessário o autocuidado.
A associação sugeriu algumas estratégias simples que podem
ajudar na qualidade de vida do cuidador, como dividir tarefas, dedicar um tempo
para si, cuidando da própria saúde física, e construir uma rede de apoio para
que possa pedir ajuda. Segundo a ABP, os transtornos alimentares, quando
tratados precoce e corretamente, têm importante taxa de recuperação.
Agente de transformação
Para marcar a data, a Associação Brasileira de Transtornos
Alimentares (Astral), que congrega mais de 40 grupos especializados de diversas
regiões do país, promove campanha com o tema Seja um agente de transformação!.
A campanha inclui a publicação de uma série de vídeos e
pequenos informativos para as redes sociais da entidade, produzidos em
colaboração com profissionais de saúde especializados.
A Astral defende que a prevenção dos transtornos alimentares
se faz estimulando uma alimentação saudável e adequada, livre da cultura da
dieta e da culpa, “um estilo de vida ativo, sem foco exclusivo no peso
corporal, e o incentivo à construção de uma imagem corporal positiva”.
Fonte e Foto: Agência Brasil
UGT - União Geral dos Trabalhadores