02/05/2022
Um estudo feito pela empresa de análise de dados financeiros
Economatica mostra que, dos dez bancos mais rentáveis do mundo, quatro são
brasileiros: Santander (Brasil), Itaú Unibanco, Banco do Brasil e Bradesco. Os
outros seis bancos da lista são dos Estados Unidos e do Canadá —países com
economia mais desenvolvida que a do Brasil.
Mas por que os bancos brasileiros estão entre os mais
rentáveis do mundo? Economistas afirmam que o resultado passa pela alta
concentração do mercado e pelos juros altos, que favorecem os ganhos das
instituições. Para a Febraban (Federação Brasileira de Bancos), o mercado
bancário é competitivo e a rentabilidade das instituições não está desalinhada
da realidade de outros setores da economia.
O levantamento da Economatica considerou bancos que possuem
ativos acima dos US$ 100 bilhões —na prática, as maiores instituições
financeiras do mundo. Do total de 39 bancos, quatro são brasileiros e figuram
entre os dez mais rentáveis.
O ranking foi formado com base no ROE (rentabilidade sobre o
patrimônio líquido, na sigla em inglês), uma medida do quanto uma empresa
consegue gerar de valor utilizando seus próprios recursos. Quanto maior o
percentual do ROE, mais rentável é a companhia. Veja os números, cuja
referência é o ano de 2021:
Concentração favorece rentabilidade
Especialistas afirmaram que um dos principais fatores para a
alta rentabilidade dos bancos brasileiros é a concentração do mercado no país.
A concentração bancária é um fator que explica por que temos
tanta rentabilidade. Estamos falando de um oligopólio, que consegue preservar
seu poder.
Mauro Rochlin, professor da FGV
Um oligopólio ocorre quando poucas empresas detêm a maior
parcela de determinado mercado. No Brasil, conforme dados do Banco Central
relativos a 2020, as cinco maiores instituições detinham 81,8% das operações de
crédito no segmento bancário comercial. No caso do depósito total, o percentual
chegava a 79,1%.
Entre as cinco maiores instituições está, além daquelas do
ranking da Economatica, a Caixa Econômica Federal.
Para Fernando Dal-Ri Murcia, professor e diretor da Fipecafi
Projetos em São Paulo, o setor bancário brasileiro sempre foi concentrado, o
que favorece o resultado dos grandes bancos.
“O ROE dos bancos já foi maior no passado. Hoje em dia, há
outras instituições, como Nubank, Inter e BTG, que trouxeram concorrência”,
afirma Murcia. “Os bancos maiores perderam um pouco de rentabilidade, mas ela
segue grande.”
De fato, os dados da Economatica mostram que, desde 2010, o
ROE de Bradesco, Itaú Unibanco e Banco do Brasil diminuiu. Ainda assim, estas
instituições se mantiveram entre as mais rentáveis do mundo. Já o ROE do
Santander Brasil mais do que triplicou.
ROE dos bancos brasileiros
Santander (Brasil): 6% (2010); 18,9% (2021)
Itaú Unibanco: 24% (2010); 17,3% (2021)
Banco do Brasil: 27% (2010); 15,7% (2021)
Bradesco: 22,3% (2010); 15,2% (2021)
Juros altos também favorecem bancos
O segundo fator que tem favorecido a rentabilidade dos
bancos, na visão dos analistas, são os juros altos. Historicamente, o Brasil
tem mantido a Selic —a taxa básica de juros —em patamares mais elevados que
outros países.
O economista Mauro Rochlin, professor da FGV (Fundação
Getulio Vargas) no Rio, lembra que, no auge da pandemia do novo coronavírus, a
Selic chegou a 2% ao ano no Brasil, o menor valor da série histórica. Na época,
a Selic baixa era uma das estratégias do governo para combater os efeitos
econômicos da pandemia. Com o avanço da inflação, o Banco Central iniciou o
processo de alta de juros em março do ano passado. Um ano depois, a Selic está
em 11,75% ao ano.
A Selic serve como referência para a captação de recursos
pelos bancos. Em tese, quanto maior a taxa básica, maior o custo de captação
dos bancos e, também, os juros cobrados de pessoas físicas e empresas na ponta
final, em empréstimos e financiamentos.
“Os bancos centrais de economias avançadas são muito mais
resistentes a aumentar os juros, o que não acontece no Brasil”, diz Rochlin.
“Aqui, a taxa saiu de 2% para 11,75% em um ano. E com juro mais alto, o banco
vai lucrar mais mesmo.”
O professor Ricardo Rocha, do Insper em São Paulo, explica o
mecanismo.
Quando os juros [Selic] estão muito baixos, é preciso
crescer muito o volume de empréstimos. Quando a taxa está alta, o banco
consegue ter resultado com um volume de empréstimos menor.
Ricardo Rocha, professor do Insper
Para Murcia, da Fipecafi Projetos, a taxa de juros alta
contribui para o retorno dos bancos, em um ambiente com concorrência limitada
pela alta concentração. “Não sei se os bancos são tão culpados por este
cenário, ou ‘surfaram’ no ambiente de juros altos”, acrescenta.
Rentabilidade pode ser ainda maior, diz economista
A presença de bancos brasileiros no topo do ranking da
Economatica chama a atenção porque o país, apesar de ter um sistema financeiro
desenvolvido, está longe de apresentar bons resultados na área econômica.
Um dos discursos comuns é o de que os bancos seguem com
lucros a despeito de a economia brasileira ir mal.
Para Ricardo Rocha, do Insper, os bons resultados mostram,
na verdade, que o sistema financeiro brasileiro é “extremamente sólido” há
anos. “Nós resistimos muito bem à crise [econômica global] de 2008”,
exemplifica. “Se o Brasil encontrar um caminho de crescimento nos próximos
anos, o resultado dos bancos vai aumentar ainda mais.”
O que diz a Febraban
Representante do setor, a Febraban reconhece que a atividade
bancária, que exige elevados volumes de capital, tem maior concentração, e não
apenas no Brasil. No entanto, a entidade afirma que isso não significa que a
concorrência é baixa.
“Há muita confusão entre concentração e falta de competição.
Uma coisa não guarda relação direta com a outra”, afirmou o presidente da
Febraban, Isaac Sidney.
Em entrevista, Sidney também defendeu que a rentabilidade do
setor bancário não é excepcional. “Isso é outra falácia, fruto de uma ladainha
chata que já cansou”, disse.
O executivo também ponderou que a rentabilidade dos bancos
depende dos spreads —diferença entre o custo de captação de recursos, pelos
bancos, e o que é cobrado do cliente na ponta final— e não do nível da Selic.
Fonte e Foto: UOL
UGT - União Geral dos Trabalhadores