26/04/2022
Para cientistas, existe uma alta probabilidade de mutação,
que ainda aumenta com a circulação crescente do vírus da covid-19 pelo mundo
Novas variantes do coronavírus capazes de enganar o sistema
imunológico e mais transmissíveis devem surgir nos próximos meses, aponta
pesquisa feita por cientistas da Universidade de São Paulo (USP) e do Hospital
Sírio-Libanês. Publicado na revista Viruses, o estudo alerta que essa é uma
alta probabilidade e aumenta com a grande circulação do coronavírus –
propiciada pela retomada do contato social – e não é possível afirmar que a
letalidade menor apresentada pela Ômicron deve se repetir. O cenário ainda é
preocupante, com cidades enfrentando lockdowns, como Xangai, na China.
A pesquisa revisou mais de 150 artigos científicos. Foram
analisados aspectos do vírus, como seu potencial de mutação, a capacidade de
controle do sistema imune, a transmissibilidade e a eficácia das vacinas.
Quanto maior for a circulação do vírus, maior a probabilidade do surgimento de
novas variantes.
"Essa é uma questão probabilística. Novas variantes são
esperadas, o problema é diminuir as restrições (de contato social) que aumentam
a circulação do vírus", diz Cristiane Guzzo, pesquisadora do Departamento
de Microbiologia do Instituto de Ciências Biológicas da USP e uma das autoras
do artigo.
Ela explica que, por ora, estamos em uma situação
confortável, que deve durar pelos próximos meses, período em que a imunidade
criada pelas doses de reforço das vacinas e pelo alto índice de contaminação da
variante Ômicron permanecerá alta. Depois disso, novas contaminações devem
propiciar o surgimento de variantes ainda mais contagiosas, o que também deverá
diminuir a eficácia das vacinas.
"Decretar que a pandemia acabou e que o vírus foi
vencido não é verdade", diz o líder do grupo de pesquisas em
Bioinformática do Hospital Sírio-Libanês, Pedro Galante, também um dos autores
do estudo. "Temos de continuar tomando todos os cuidados e medidas
necessárias para evitar a transmissão", ressalta.
"Estamos olhando apenas para os números de casos e
mortes (em queda) para dizer se é seguro ou não. Isso não é suficiente",
afirma Cristiane. Nesta segunda-feira, o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD),
retirou a obrigatoriedade da apresentação do passaporte vacinal para
frequentadores de bares, restaurantes, teatros e cinemas. Essa era a última
restrição de circulação em vigor na capital fluminense e sua suspensão seguiu
orientação do Comitê Especial de Enfrentamento da covid-19.
Risco
Galante afirma que as mutações que podem ocorrer no vírus
ajudam a explicar por que a ideia de que o vírus se torna menos letal conforme
evolui não é uma regra. No início da pandemia, as transmissões começavam um dia
antes dos primeiros sintomas, diz a pesquisa. Com a variante Delta, esse
período aumentou para três dias de transmissão assintomática e 74% dos
contágios por aquela variante ocorreram nessa janela.
"As novas variantes evoluíram de forma a aumentar o
período assintomático. Ou seja, as pessoas transmitem sem saber que estão
contaminadas. Para o vírus o que importa é passar de uma pessoa para outra. O
que vai acontecer com a pessoa depois disso (até a letalidade) 'não importa'
para ele", afirma.
O Ministério da Saúde foi procurado, mas não se pronunciou.
Fonte e Foto: Estadão
UGT - União Geral dos Trabalhadores