25/04/2022
Celebridades se engajam para estimular jovens a tirar título
de eleitor e a participar das campanhas. Segmento se afastou do processo
eleitoral nos últimos anos
No Brasil, onde o voto é obrigatório, jovens de 16 a 18 anos
podem se alistar para manifestarem sua vontade nas urnas. Mas de forma
facultativa; portanto um direito, mas não é um dever. Porém, em tempos de
polarização e um cenário eleitoral de disputa acirrada, a mobilização para que
essa faixa etária também vote passou a ser enfatizada.
Nos últimos 10 anos, a participação do jovem eleitor no
Brasil caiu de 4 milhões para menos de 900 mil pessoas, segundo o Tribunal
Superior Eleitoral (TSE). Para conter essa queda, o próprio órgão tem investido
em tecnologia. Por um lado, o alistamento eleitoral está mais simples e pode
ser feito de forma on-line, em um processo que leva menos de 10 minutos. Os
eleitores têm até 4 de maio para emitir, transferir ou regularizar o título de
eleitor. Essa também é a data final para que pessoas transexuais e travestis
solicitem o uso do nome social no documento.
Por outro, a comunicação também foi pensada para alcançar
diretamente a esse público. O TSE criou uma campanha chamada Bora Votar que usa
de hashtags e mobiliza diretamente em redes sociais, com uma linguagem
segmentada e fácil. Um hotsite específico está no ar com orientações a
respeito.
Para participar do processo eleitoral de 2022, é preciso
estar com o título em dia até 4 de maio. Adolescentes com 15 anos podem se
alistar, desde que tenham 16 anos completados antes do primeiro turno – marcado
para 2 de outubro.
Nas últimas semanas, artistas, influenciadores digitais e
outros formadores de opinião também passaram a incentivar a participação dos
jovens. “Vejo com bons olhos essas campanhas de mobilização e elas podem
interferir no resultado das eleições, já que os jovens são sensíveis ao apelo
dos artistas, sobretudo quando a opinião não é no sentido de ‘vote em determinado
candidato’, mas em algo mais amplo, por exemplo ‘vote contra o governo
Bolsonaro’”, avalia a cientista política Camila Rocha, autora do livro Menos
Marx, Mais Mises – O Liberalismo e a Nova Direita no Brasil.
De acordo com pesquisa Exame/Ideia divulgada na última
segunda (18), essa mobilização vem dando resultados, já que 90% dos
adolescentes ouvidos afirmaram pretender votar. Levantamentos recentes indicam
que o cenário favorece atualmente o principal candidato de oposição ao atual
presidente Jair Bolsonaro (PL), ou seja, o ex-presidente Lula da Silva (PT).
Na última pesquisa divulgada pelo instituto PoderData, a
preferência do eleitorado jovem – entre 16 e 24 anos – era de 51% para o
petista, frente a 29% para o atual presidente. “Os mais jovens tendem a
defender pautas mais progressistas, como sustentabilidade e meio ambiente,
diversidade e inclusão, além de algumas pautas sociais de forma difusa”,
analisa o cientista político Leonardo Bandarra, pesquisador do German Institute
of Global and Area Studies (Giga), em Hamburgo.
Adesão recente
Com o apelo de celebridades como a cantora Anitta e o
youtuber Felipe Neto, e a intensificação das campanhas do TSE – que chegou a
promover um tuitaço para engajar os jovens –, os números de alistados para
votar melhoraram significativamente no último mês. Apenas em março, foram 290
mil adolescentes que tiraram o título, um aumento de 45% em relação ao mês
anterior.
Rocha acredita que esse afastamento (em relação à
importância do voto) seja em virtude de uma visão que os próprios jovens têm de
si, como “pouco aptos” e “desconhecedores da política”. “Foi o que indicou uma
pesquisa que fiz no ano passado em conjunto com a professora [socióloga] Esther
Solano e outros pesquisadores latino-americanos. O próprio contexto da política
institucional afasta os jovens, que não se veem representados pela política.
Então, tudo acaba convergindo para uma diminuição do interesse”, afirma.
Para o jurista e cientista político Enrique Carlos Natalino,
pesquisador da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e professor da
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG), o desinteresse dos
jovens pelo voto é consequência também da falta de formação escolar, já que não
há no currículo nenhuma disciplina voltada à “capacitação no sentido de
entender o funcionamento da democracia e como exercer a cidadania”.
“Também acredito que esses jovens, já imersos no mundo
digital, não se identificam com o processo político formal que ainda se
organiza em partidos políticos hierarquizados e poucos abertos à
horizontalidade”, acrescenta ele.
Desinformação
Professora na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ),
a socióloga e cientista política Mayra Goulart enfatiza que há “um desgaste da
política tradicional e dos partidos políticos”. “Isso vem no bojo de um
discurso de negação da política, que vê a política como uma coisa corrupta e
condenável. Ou mesmo como um lugar de briga e de desavenças. Cada vez mais é
comum pessoas falarem ‘eu não comento sobre política’”, contextualiza ela.
A professora ressalta que no cenário polarizado vivido pela
sociedade brasileira atual, muitas vezes o jovem prefere se abster da
politização para evitar conflitos familiares. “A política vem sendo vista como
vilã. Isso é terrível, porque afasta as pessoas dessa esfera, a única esfera
que o cidadão tem para transformar os rumos do país”, acrescenta.
Fonte e Foto: Rádio Peão Brasil
UGT - União Geral dos Trabalhadores