08/04/2022
Lúcia Xavier, coordenadora geral da ONG Criola, participou
na 49ª sessão no Conselho de Direitos Humanos, em Genebra; em entrevista à ONU
News, do Rio de Janeiro, ela afirmou que 63% das mulheres negras, que sustentam
a casa, vivem com menos de US$ 87 mensais.
Uma ativista brasileira foi convidada para participar, em
março, da 49a. Sessão do Conselho de Direitos Humanos. Este é o evento mais
importante do órgão de 47 países-membros, que também ouve representantes da
sociedade civil e do setor privado.
Lúcia Xavier, coordenadora geral da ONG Criola, contou que
falou ao Conselho para reforçar as vozes que atuam contra o racismo, com
destaque para aquele sofrido pelas mulheres, além de resgatar aspectos do Plano
de Ação da Declaração de Durban, assinado em 2001.
Violência racial
Ela disse ao Conselho de Direitos Humanos que a população
negra no Brasil aind vive em condições precárias e com muitos desafios. Em seu
discurso, Lucia Xavier lembrou que o país é o segundo maior em concentração de
afrodescendentes fora do continente africano, somando 54% da população.
Ao conversar com a ONU News, do Rio de Janeiro, sobre sua
participação em Genebra, ela citou uma estatística: entre as 41 mil pessoas
assassinadas no Brasil em 2021, 77% eram afrodescendentes. Para ela, o tema merece uma reflexão
profunda.
“Não estamos sendo considerados em nenhuma fase da discussão
ou dos debates necessários na formação de políticas públicas que permita que
tenhamos algum tipo de defesa ou proteção que não se relacione aos crimes
tratados por esses órgãos. Mesmo que se relacionasse aos crimes, matar e
encarcerar não pode ser a medida pública para uma sociedade como a nossa, que
se coloca como democrática.”
Lúcia Xavier também destacou a vulnerabilidade das mulheres
negras brasileiras e os constantes desafios encontrados por elas, que são as
principais vítimas de violência, desde a física até a da falta de recursos e
serviços que permitam a mudança do estado delas na sociedade.
“Mulheres negras são aquelas que, num país como o nosso,
como mão-de-obra precária. O tipo de trabalho que elas executam não tem nenhum
tipo de suporte de serviços que as apoiam. Não tem creche suficiente,
pré-escola ou escola em tempo integral para que elas possam ir e vir do
trabalho. [...] ou mesmo a ampliação da educação de jovens, mesmo aqueles já
oferecidos pelas ONGs, mas que sejam constantes nas vidas delas. Para
completar, elas são as principais vítimas de violência intrafamiliar, no espaço
urbano, nas instituições, por isso colocamos as mulheres negras em prioridade
em tudo que fazemos.”
Segundo Lúcia Xavier, no Brasil, muitas mulheres negras
estão abaixo da linha da pobreza e correspondem a 63% das chefes de família com
renda de até US$ 87 mensais, o que soma cerca de 8 milhões de brasileiras.
Futuro
A coordenadora da ONG Criola acredita que as mulheres podem
ser fundamentais para alcançar mudanças importantes contra o racismo. Ela
afirma que a perspectiva feminina pensa no bem comum, importante elemento na
construção de “sociedades melhores e mais harmoniosas, pelas causas coletivas”.
Ao afirmar que o racismo é um problema visto em todo o
mundo, ela observa de forma positiva algumas ações que foram implementadas no
decorrer das últimas décadas para mitigar o problema.
Nas Américas, ela cita os censos, que afirma ser fundamental
para avaliar o futuro nesses lugares e prover condições de vida para esses
grupos. Segundo a brasileira, as pesquisas também permitem enxergar outros
grupos que precisam de suporte e proteção dos direitos humanos.
Cotas
Lúcia Xavier falou ainda da política de cotas no Brasil.
Para ela, as medidas fornecem mais conhecimento à população negra e “quebra
ciclos de trabalho precário”.
Mas, segundo ela, as iniciativas ainda não são suficientes
para impedir o que classificou de “processo de violência do Estado”.
Ela afirma que é necessária uma mobilização dos governos
para a erradicação da violência racial, que ela avalia ser produzida por
“práticas institucionalizadas de governos”.
“Ganhamos nessas políticas, mas perdemos na violência, na
falta de serviços e na desigualdade”, concluiu a coordenadora geral da ONG
Criola
UGT - União Geral dos Trabalhadores