22/03/2022
Dados são
divulgados no Dia Mundial da Água, comemorado hoje
Levantamento da
organização não governamental (ONG) SOS Mata Atlântica revelou que somente 6,8%
dos rios da Mata Atlântica do país apresentam água de boa qualidade. A pesquisa
não identificou corpos d’água com qualidade ótima. Mais de 20% dos pontos de
rios analisados apresentam qualidade de água ruim ou péssima, ou seja, sem
condições para usos na agricultura, na indústria ou para abastecimento humano,
enquanto em 72,6% dos casos as amostras podem ser consideradas regulares.
Os dados
constam da nova edição da pesquisa O Retrato da Qualidade da Água nas Bacias
Hidrográficas da Mata Atlântica, realizada pelo programa Observando os Rios da
SOS Mata Atlântica. A entidade avalia que o Brasil ainda está distante de
atingir o ideal de água em quantidade e qualidade para os diversos usos. O
levantamento é divulgado no Dia Mundial da Água, comemorado nesta terça-feira
(22).
“Os resultados
de 2021 nos mostram que a gente continua numa situação de alerta em relação à
água, aos nossos rios, já que menos da metade da população brasileira tem
acesso ao serviço de esgotamento sanitário. E os rios vão nos contar o que está
acontecendo”, disse o coordenador do programa Observando os Rios, Gustavo
Veronesi.
Ele explicou
que o retrato da qualidade da água nas bacias da Mata Atlântica é um alerta
para a condição ambiental da maioria dos rios nos estados do bioma. A
inadequação da água para usos múltiplos e essenciais pode ser, segundo a
entidade, consequência de fatores como a poluição, a degradação dos solos e das
matas nativas, além das precárias condições de saneamento.
Veronesi
acrescentou que as populações mais pobres são as mais afetadas pelas
deficiências de estrutura de atendimento ao fundamental, que são água,
esgotamento sanitário, manejo de resíduos e manejo de águas de chuva, pilares
do saneamento básico.
Os indicadores
foram obtidos entre janeiro e dezembro de 2021 por 106 grupos voluntários de
monitoramento da qualidade da água. Foram realizadas 615 análises em 146 pontos
de coleta de 90 rios e corpos d’água de 65 municípios em 16 estados do bioma
Mata Atlântica. Esses estados são Alagoas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Mato
Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro,
Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Sergipe.
De acordo com a
SOS Mata Atlântica, houve pouca alteração em relação aos resultados do período
anterior de monitoramento, no ano passado, com alguns casos localizados. As
análises comparativas dos anos de 2020 e 2021 consideram os indicadores
aferidos em 116 pontos fixos de monitoramento. Em 2021, foram nove pontos com
qualidade boa (em 2020 eram 12); 84 com qualidade regular (80 em 2020); 22,
ruins (21 no ano anterior) e apenas uma péssima, enquanto em 2020 foram três.
Sobre o fato de
não haver grandes avanços de um ano para outro, Veronesi ressaltou que o
processo de recuperação é muito mais lento que a ocorrência da poluição. “Um
serviço de saneamento é muito demorado para dar resultado, vide o projeto de
despoluição do Rio Tietê, são 30 anos para a gente conseguir aferir melhoras em
alguns pontos, em alguns rios das bacias do Alto e Médio Tietê".
"Sujar um
rio é questão de segundos, é fácil. Agora limpar, despoluir, é muito mais
demorado, porque depende do tempo de a natureza também se autodepurar e a gente
parar também, a nossa natureza humana parar de sujar. O Rio não é sujo, quem
suja somos nós. Somos os responsáveis pela sujeira e também pela limpeza, então
é um esforço de toda a sociedade e, óbvio, o poder público tem papel
central".
Como exemplo
positivo, a entidade destacou o Lago do Ibirapuera, localizado na capital
paulista, onde a água passou de regular para boa, com relatos de aparecimento
de peixes em sua foz. Outra evolução ocorreu no Tietê, em Santana do Parnaíba,
saída da Grande São Paulo, que sempre recebeu muita carga de esgoto e lixo da
região metropolitana e sempre vinha com qualidade péssima ou ruim ao longo do
tempo. No entanto, este ano melhorou para qualidade regular, o que significa,
segundo Veronesi, que as obras de saneamento estão fazendo efeito.
Por outro lado,
uma situação que chamou a atenção da entidade foi a piora na qualidade dos rios
em Mato Grosso do Sul, na região de Bonito. “Quando a gente fala dessa
localidade, as pessoas logo pensam nas águas cristalinas que existem lá,
principalmente o Rio Bonito. Houve piora em todos os pontos de monitoramento
daquele estado. Os quatro pontos em que a gente podia fazer comparação em
relação ao período anterior tiveram piora na média da qualidade”.
Segundo ele,
este resultado mostra que a qualidade da água pode ser relacionada ao
desmatamento, “porque também o Atlas da Mata Atlântica vem notando que essa é
uma região que sofre bastante com desmatamento ilegal - isso vem acontecendo -
e, quando você muda, tira a floresta, que é um filtro para a água e muda o uso
do solo, isso causa impacto. O rio nos conta tudo, nos diz o que está
acontecendo em uma bacia hidrográfica”, disse.
Para Veronesi,
uma das soluções passa por conter o desmatamento ilegal. “Isso é uma questão
que deveria ser de primeira ordem, de primeira necessidade, até por questões de
emergência climática, e a Mata Atlântica é um dos biomas mais importantes para
a gente conter o aquecimento global”, disse. Ele citou a necessidade de
políticas públicas mais efetivas relacionadas ao reflorestamento, à preservação
das áreas de proteção permanente e à restrição do uso de agrotóxicos.
Fonte: Agência
Brasil
Foto: Mario Oliveira/ MTUR
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