21/03/2022
Mesmo com um mundo de possibilidades e novas moedas,
dinheiro circulante ainda possui importância substantiva na economia brasileira
O dinheiro exerce uma função preponderante em qualquer
sociedade. Cumprindo o papel histórico de facilitar as transações, possibilita
o acesso aos bens e serviços necessários à existência humana, considerando que,
com exceção do ar, todos os demais produtos são precificados. Com a evolução
tecnológica, no entanto, o papel-moeda vem perdendo espaço nas intermediações,
dando lugar a cartões, celulares e smart watches.
Nesse sentido, o Pix é um exemplo recente que merece
destaque. Devido à fácil e rápida operacionalidade, a criação do Banco Central
do Brasil caiu nas graças das pessoas e segue evoluindo em suas modalidades —
depois do Pix Saque e Pix Troco, está previsto para este ano o lançamento do
Pix Aproximação, da possibilidade de parcelamento de compras e débito
automático. Com o uso avançando, até mesmo para transações mais simples, um dos
efeitos desse cenário é a redução do dinheiro em circulação e a economia com o
gasto de papel e tinta para a confecção das cédulas.
Nesse processo de transformação das formas de pagamento, as
criptomoedas têm exercido forte atração no Brasil e no mundo. Embora sejam
parecidas com moeda, sem querer, ameaçam o sistema controlado pelos bancos
centrais. E, mesmo que, algumas vezes, possam cumprir a função de intermediar o
consumo, é importante chamar a atenção para o fato de que não se trata de
unidades de conta ou tampouco possuem curso forçado regulamentado.
Ainda assim, à proporção que vão sendo aceitas, acabam
criando mercados paralelos em que compradores e vendedores conseguem realizar
suas transações, configurando um panorama arriscado.
No mês passado, a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE)
aprovou o projeto de lei que normatiza as criptomoedas e estabelece um órgão
fiscalizador para o setor. No entanto, o PL ainda seguirá para a Câmara dos
Deputados e, depois disso, ainda precisará da sanção presidencial. Então,
embora pareça o futuro, todo o cuidado ainda é pouco com esse tipo de
aplicação.
Principalmente porque os governos e organismos
regulamentadores mostram-se ressabiados quanto às operações e possíveis
prejuízos causados no mercado. Além disso, essas moedas digitais podem
atrapalhar a eficiência dos instrumentos de intervenção monetária, porque não
são escriturais, bancárias, nem possuem a fidúcia, que seria a garantia
oficial.
Por mais que se pense que o Pix e outras formas de transação
eletrônica possam vir a substituir o dinheiro, ao observar a série da
quantidade de cédulas e moedas até 2020, é possível identificar que o volume do
meio circulante ainda é elevado (R$ 371,153 bilhões). Em períodos de inflação
persistente e com tendência de alta, a impressão de cédulas tende a aumentar,
assim como o seu valor.
Ano passado, circularam pela economia pouco mais de 8,55
bilhões de cédulas, resultando no montante de R$ 363,825 bilhões em espécie,
que passaram pelos agentes econômicos. Moedas metálicas foram 27,861 bilhões,
perfazendo total de R$ 7,325 bilhões. Em 2021, o meio circulante cresceu
nominalmente cerca de R$ 90.600.211.085, aumento relativo perto de 32,3%, o
maior da série histórica iniciada em 2011.
No fim das contas, os dados mostram que, mesmo que um
admirável mundo de possibilidades e de novas moedas tecnológicas esteja proporcionando
às pessoas a possibilidade de modificar seus hábitos de investimento, além de
facilitar a realização de transações financeiras, o dinheiro circulante ainda
possui importância substantiva na economia brasileira.
Fonte: exame.
Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil
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