21/03/2022
Pesquisa é divulgada no Dia de Luta pela Eliminação da
Discriminação
Pesquisa do Instituto Locomotiva mostra que 72% das pessoas
dizem já ter presenciado situação de racismo em seu transporte do dia a dia e
39% foram vítimas do crime, ou seja, uma em cada três pessoas negras já sofreu
preconceito em seus deslocamentos. Entre trabalhadores negros que atuam no
setor, esse número é ainda maior: 65% dos entrevistados já enfrentaram alguma
situação de racismo durante o expediente.
O estudo ouviu 1.200 pessoas e mais de mil profissionais do
setor de transporte.
Quando questionados sobre situações de preconceito vividas,
a população negra relatou ter sido menosprezada (24%), abordada de maneira
desrespeitosa (17%), sofrido agressões verbais e ter sido alvo de expressões
racistas (14%).
“Entre profissionais negros do transporte que enfrentaram
situações de preconceito, embora as agressões verbais (47%) e o menosprezo
(46%) tenham sido mais frequentes, eles foram três vezes mais alvo de
expressões racistas e sofreram três vezes mais ameaça do que a população negra
vítima de preconceito racial em geral”, diz o levantamento.
A pesquisa, divulgada hoje (21) no Dia Internacional de Luta
pela Eliminação da Discriminação Racial, foi encomendada pela Associação
Brasileira de Mobilidade e Tecnologia (Amobitec) com o apoio da Uber, em parceria
com o Instituto Identidade Brasil (ID_BR).
"Muito embora algumas pessoas possam ter a leitura de
que ações como ‘ser menosprezada’ sejam atos imperceptíveis ou menos
importantes, as microagressões são frequentes no cotidiano da população negra e
afetam psicologicamente quem vive essa relação todos os dias. Por outro lado,
imaginar que, ainda hoje, uma em cada quatro pessoas já sofreu violência física
em consequência do racismo nos transportes públicos só reforça a noção de que a
adoção de ações de combate ao racismo se faz cada vez mais urgentes e
necessárias." Afirmou, em nota, a especialista em Diversidade e Inclusão
do ID_BR, Roberta Calixto.
O estudo mostra ainda que 71% das pessoas negras que
trabalham no trânsito sentem medo de sofrer racismo ou preconceito por sua cor.
Entre a população negra em geral, esse número cai para 41%, o que mostra que
quem está na rua por mais tempo sente mais medo de sofrer esse tipo de
discriminação.
Os números também revelam que motoristas de ônibus e
cobradores são os profissionais que mais observam casos de racismo no seu
trabalho (75%), seguidos de motoristas de aplicativo (73%) e taxistas (65%).
Segundo a pesquisa, o número de casos acaba causando impacto
no comportamento das pessoas negras ao planejar seu deslocamento: 29% dos
negros declararam que já mudaram a forma de se locomover pela cidade devido a
situações de preconceito ou discriminação. Entre mulheres negras, o número
chega a 31%. As mulheres negras também são as que mais se sentem vulneráveis
nos deslocamentos: 72% delas temem sofrer algum tipo de assédio sexual, 64%
agressão física e 47% sofrer algum tipo de racismo.
A pesquisa também incluiu duas imagens para comparar a
percepção dos profissionais de transporte sobre as diferenças entre um homem
negro e um branco: seis em cada dez profissionais acreditam que uma pessoa
negra tem mais chance de causar medo nos passageiros que uma pessoa branca. A
chance de motoristas não pararem no embarque para um passageiro negro também é
bem maior (61% contra 7%).
Para a maioria da população (69%), o racismo é comum no dia
a dia e 25% consideram que as pessoas que cometem racismo nunca são devidamente
punidas. Entre profissionais de transporte, essa crença na inadequação da
punição vai a 38%. Com isso, entre profissionais que foram vítimas de racismo,
apenas 17% já realizaram algum tipo de denúncia, seja para a empresa ou para a
polícia.
Para o presidente do Instituto Locomotiva, Renato Meirelles,
os resultados da pesquisa mostram o quanto o racismo acaba prejudicando a
mobilidade dos brasileiros pela cor da sua pele. “É como se o direito de ir e
vir fosse prejudicado de acordo com a cor da pele do passageiro. E essa
limitação faz com que as oportunidades que as pessoas têm, seja no mercado de
trabalho, no acesso à educação e no lazer, se tornem reduzidas”, disse
Meirelles.
Metodologia
A pesquisa com a população em geral foi realizada de forma
quantitativa online com 1.200 pessoas, com idade a partir de 18 anos, em todo o
Brasil. A coleta de dados foi feita em janeiro deste ano e a margem de erro é
de 2.8 pontos percentuais.
O estudo com profissionais da mobilidade também foi feito em
janeiro de forma quantitativa presencial com 1.050 pessoas, com idade a partir
de 18 anos nas dez principais regiões metropolitanas do país. A margem de erro
é de 3 pontos percentuais.
Fonte: Agência Brasil
Foto: Rovena Rosa/ Agência Brasil
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