08/10/2021
Dando continuidade
ao Projeto de Formação e Ampliação dos conhecimentos para dirigentes sindicais
e trabalhadores, a União Geral dos Trabalhadores (UGT), em parceria com o
Instituto Solidarity Center, através da Secretaria de Organização e Formação
Político-sindical com o apoio da Secretaria de Povos
Indígenas da UGT, realizou do dia 04 a 06/10, o Segundo Módulo do Seminário
“Aliança da UGT e Povos Indígenas”, que abordou o tema “Marco Legal:
Fortalecendo a Autonomia e o Protagonismo”.
Na abertura deste Módulo, fizeram uso da palavra Ricardo Patah, presidente da UGT Nacional; Gonzalo Martinez De Vedia, Diretor para o Brasil e Paraguai do Instituto Solidarity Center; o Diretor da Organização Internacional do Trabalho (OIT), Martin Hahn; Chiquinho Pereira, Secretário de Organização e Formação Político-sindical; o Secretário de Povos Indígenas da UGT, Idjawala Karajá e o Professor Erledes Elias da Silveira, Coordenador Executivo da Secretaria de Organização e Formação Político-sindical, onde ressaltaram que essa atividade veio reforçar o momento em que os Povos Indígenas brasileiros travam uma luta gigantesca contra as políticas neoliberais do governo Bolsonaro, que tenta destruir a autonomia e a sobrevivência dessas populações.
Inserção no Mundo do Trabalho: A Realidade dos
Povos Indígenas
Neste primeiro
Painel, o tema “Trabalho Escravo: Uma Realidade dos Indígenas Guaranis no Mato
Grosso do Sul”, o Advogado e autor da Cartilha “Contratação de Indígenas”, Dr.
Maucir Pauletti, falou que, apesar das inúmeras lutas travadas ao longo das
décadas, a exploração e o trabalho análogo a escravidão envolvendo os
trabalhadores indígenas ainda é uma realidade, e perpassa pela produção do álcool
nas usinas e pelas colheitas de frutas na região Sul e Sudeste do país, o que
exigem ações objetivas das entidades de trabalhadores(as) e do Ministério
Público do Trabalho.
José Carlos
Pacheco Terena, liderança indígena e Secretário para Assuntos Indígenas da UGT
do Mato Grosso do Sul, tem desenvolvido intervenções junto aos trabalhadores
indígenas para garantir seus direitos trabalhistas e, apesar de todos os
esforços, as empresas terceirizadas responsáveis pelo plantio da cana teimam em
contratar o trabalhador indígena sem quaisquer direitos, caracterizando o
trabalho análogo à escravidão desses cidadãos. Portanto, a necessidade da
intervenção dos sindicatos e do Ministério Público é urgente.
O tema “Aliança
dos Sindicatos e os Povos Originários na América Latina” foi exposto pela
Secretária de Políticas Sociais da Confederação Sindical das Américas (CSA), Jordânia
Urena. A Secretária fez um relato dos trabalhos desenvolvidos pela CSA junto
aos povos indígenas nas américas, apontando que essa realidade de exploração é
comum entre os países. Porém, Jordânia chama a atenção para a grave situação
dos povos indígenas no Brasil que, além das ameaças constantes às suas culturas
e territórios, sofrem com a ameaça do governo Bolsonaro que insiste em não
renovar a Convenção 169 da OIT que trata dos direitos dos Povos Indígenas e
Tribais. Aliás, o governo brasileiro tem ignorado importantes Declarações e
Orientações da Nações Unidas para os Direitos Humanos.
Mecanismos Internacionais de Proteção aos
Direitos dos Povos Indígenas.
Thais Faria,
Assessora Técnica da Organização Internacional do Trabalho (OIT), fez um
levantamento histórico sobre as Ações da OIT com relação as problemáticas que
envolvem os Povos Indígenas desde a década de 1920 até a atualidade. Em 1957, a
OIT adotou a Convenção 107 sobre Populações Indígenas e tribais, a qual serviu de
base para a Convenção 169, em 1989. Thais ressalta que inúmeras denúncias são
recebidas pela OIT envolvendo o governo e empresas brasileiras sobre o
descumprimento da Convenção 169, com quebra de direitos e a aplicação do
trabalho análogo à escravidão em nosso país. Portanto, é fundamental que as
entidades sindicais se envolvam com afinco, realizando Campanhas de
esclarecimento sobre a necessidade do Brasil Ratificar a Convenção 169, para os
próximos períodos.
Ao abordar o
tema “Os Princípios Orientadores da ONU sobre Empresas e Direitos Humanos”, a Dra.
Ângela Pires Terto, Consultora do Alto Comissariado para Direitos Humanos da Organização
das Nações Unidas (ONU), citou a frase da Alta Comissária, Michelle Bachelet, “Respeitar
os direitos humanos não é apenas a coisa correta, mas também a coisa
inteligente a fazer.”
Para Ângela
Pires, a Responsabilidade de respeitar os direitos humanos continua em vigor e,
mais que nunca, ela é indispensável. A responsabilidade das empresas é
independente da obrigação e da capacidade dos Estados de respeitar, proteger e
promover os direitos humanos. Essa responsabilidade se aplica a todas as
empresas, independentemente do tamanho, setor, contexto operacional, propriedade
e estrutura, e se aplica a todo o valor e cadeia de suprimentos. Os Estados
(governos e nações) são os principais garantidores do respeito, proteção e
cumprimento dos direitos humanos. Espera-se que, em qualquer contexto, ainda
mais no contexto de uma pandemia, o Estado e suas empresas liderem pelo
exemplo, mostrem coerência política e cumpram as obrigações legais contratadas
nos níveis nacional e internacional.
Situação dos indígenas Guaranis que Vivem no Entorno
de Itaipu Binacional.
Kretã Kaingang, liderança indígena e
Coordenador Executivo Sul da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB),
fez um relato do sofrimento dos povos Guaranis, atingidos pela construção da Hidroelétrica
Itaipu. Sem qualquer consulta, esses povos foram forçados a deixarem seus
territórios e a habitarem as terras em outros estados brasileiros, sem
quaisquer direitos ou garantias de terem uma vida digna.
Muitos
municípios, onde foram obrigados a constituir moradias, até hoje, os povos
Guaranis não conseguem ter acesso à educação, saúde, emprego e até terem uma
moradia decente. Kretã reafirma a necessidade do Estado Brasileiro de
implementar uma política de Reparação à essa População e tantas outras que
estão sendo retiradas de suas terras, sem qualquer direito, para dar lugar às
empresas ou construção de Rodovias. Ele afirma, ainda, não ser contra o
desenvolvimento, mas sim a forma desrespeitosa e desumana como são realizados esses
processos no país. Por isso, as Ações das entidades sindicais e a utilização
dos vários Mecanismos Internacionais são fundamentais nessa luta.
Educação Intercultural e Práticas de
Descolonização na América Latina
Gersem Baniwa,
Graduado em Filosofia, Mestre em Antropologia Social e Diretor-Presidente do
Centro Indígena de Estudos e Pesquisas do MEC (CINEP), em sua rica exposição, disse
interpretar a Educação como uma questão de humanidade, pois é o que nos difere
dos outros animais, e que devemos compreender a educação como um direito
humano. Para ele, a Educação é um processo de desenvolvimento da capacidade
humana.
O antropólogo lembra
a todos, que o Sistema Educacional Indígena é pré-colonial e tem
características próprias, onde todos se educam e essa educação ocorre em todos
os lugares e tempo, onde todos os espaços são educativos, e que os
conhecimentos e saberes são passados de geração a geração. Não é por um acaso
que a Educação Indígena, apesar da interferência dos “colonizadores”, existe
até hoje e é através desse Sistema que se ergue a resistência dos indígenas em manter
suas condições culturais.
Gersem Baniwa faz
uma crítica ao fato de se entender a “Ciência” pautada pela visão capitalista
moderna como única, verdadeira e universal. Ele explica que existem as ciências
e conhecimentos dos povos indígenas, dos afrodescendentes, dos povos
originários e que, portanto, elas devem ser compreendidas e construídas lado a
lado. Para ele, é inaceitável a educação ser utilizada como forma de
transformar os indígenas em “homem branco”, ignorando suas contribuições aos
processos civilizatórios, ao longo da história.
Suely Torres
UGT - União Geral dos Trabalhadores