30/09/2021
Dando
continuidade ao Projeto de Formação Política para dirigentes sindicais de todo
o país, a União Geral dos Trabalhadores (UGT), em parceria com o Instituto
Solidarity Center/AFL-CIO, através da Secretaria de Organização e Formação
Político-sindical, iniciou, no dia 27/09, o Módulo II do Curso de Formação para
lideranças da Região Sul.
Tendo como tema
principal “Negociação Coletiva para o Fortalecimento dos Sindicatos”, os dois
primeiros dias desse módulo II abordou questões como “Desafios da Organização
Sindical na Atualidade e Panorama das Negociações Coletivas em 2020/2021”; “Assédio
Moral e Trabalho Decente no Contexto da Pandemia” e “Negociação Coletiva com
Cláusulas Inclusivas”, provocando um rico debate entre os participantes.
É Preciso Pensar Novas Formas de Atuação
Clemente Ganz
Lúcio, Sociólogo, Professor e Ex-diretor do DIEESE, ao falar sobre os Desafios
do Movimento Sindical na Atualidade, relata que as dificuldades ocorridas com
as perdas de direitos das trabalhadoras e trabalhadores brasileiros são históricas
e coube aos sindicatos enfrentá-las, obtendo inúmeras vitórias ao longo das
décadas, especialmente, nos últimos 40 anos. Porém, com a ampliação das
políticas neoliberais do governo Bolsonaro, do avanço tecnológico e da crise provocada
pela Pandemia do Coronavírus, essa realidade ficou ainda mais dura, provocando
graves impactos à vida da classe trabalhadora.
A situação
piorou, drasticamente, com as Reformas trabalhista e Previdenciária; com os
processos de Terceirização, com as novas formas de Contratos de Trabalho; e da
aprovação, no Congresso Nacional, de inúmeros Projetos de Leis que retiraram
direitos básicos à vida e à dignidade das pessoas, provocando uma crise social,
como há décadas não presenciávamos no país. Hoje temos mais de 15 milhões de
pessoas desempregadas, mais de 35 milhões vivendo do trabalho informal, mais de
7 milhões que desistiram de procurar emprego, além dos mais de 15 milhões de
brasileiros(as) que estão vivendo na mais absoluta insegurança alimentar, ou
seja, que não tem comida em suas casas.
Diante de tudo
isso e, principalmente, das transformações que estão ocorrendo no Mundo do
Trabalho, o sociólogo Clemente Ganz, chamou a atenção dos dirigentes para a
necessidade de debater com os trabalhadores e com todas as forças políticas atuantes
no Movimento Sindical, a urgente reestruturação política e organizativa dos
sindicatos, considerando a questão da Unidade como fator estratégico para avançar
nas lutas dos trabalhadores e da população como um todo. É preciso que os
sindicatos façam as mudanças para acompanhar as transformações que o Mundo e as
Relações do Trabalho exigem hoje. Sem essas transformações, os sindicatos não
conseguirão responder as dificuldades postas e, nem tão pouco, conseguirão
sobreviver aos ataques do governo Bolsonaro, das empresas e do neoliberalismo.
Intensificar a Luta Contra o Assédio Moral,
Sexual e a Violência
Em sua palestra
sobre “Assédio Moral e Trabalho Decente no Contexto da Pandemia”, mais uma vez,
o professor Roberto Heloani, graduado em Direito e Psicologia, Professor
Titular na UNICAMP e Professor Conveniado na Universidade de Paris, foi
brilhante e preciso ao abordar esse tema, relatando o alarmante aumento do
número de suicídios de trabalhadores(as), principalmente nos últimos períodos,
causados pelas práticas, constantes, de Assédio Moral, Sexual e pelos mais
variados tipos de preconceitos, ocorridos dentro e fora dos locais de trabalho.
Se antes essas
práticas eram sutis, hoje elas estão cada vez mais escancaradas e, pior, são
justificadas com os mais absurdos e inaceitáveis argumentos, que vão desde o
viés religioso até o desrespeito ao indivíduo, enquanto sua forma de se vestir,
do formato do seu corpo, da sua cor de pele, da sua orientação sexual, de
gênero, de opção política, entre tantos preconceitos. O mais grave é que o
Presidente do nosso país tem, desde o início do seu governo, estimulado esse
tipo de comportamento, disseminando em suas falas e ações, o ódio e a
intolerância às diferenças e pior, adotado a prática do confronto e o
desrespeito à vida.
Portanto, é
urgente que o Movimento Sindical coloque em seus Acordos e Convenções Coletivas,
Cláusulas que combatam qualquer tipo de discriminação, assédio e intolerância,
pois, tais constrangimentos tem levado inúmeros trabalhadores e trabalhadoras a
adquirirem doenças mentais, provocado grande sofrimento e levado o afastamento
ou demissões de milhares de trabalhadores(as) em todo o país. O professor alerta
que essa situação é exercida, na sua maioria, contra as mulheres,
principalmente as negras, mas tem atingido, também, os homens, os jovens e os
idosos.
Cláusulas Inclusivas nas Negociações: exigência
da atualidade
Gustavo Garcia,
Oficial de Programa do Instituto Solidarity Center, em sua palestra sobre o
tema “Negociação Coletiva com Cláusulas Inclusivas” alerta para a necessidade
de os dirigentes sindicais considerarem, nos processos das Campanhas Salariais,
as formas de Negociações Coletivas, e incluam nas Pautas de Reivindicações questões
não apenas pertinentes aos direitos trabalhistas, mas, também e principalmente,
as que tratam da vida dos trabalhadores(as) como um todo: suas condições de
moradia, transportes, acesso à educação, saúde, o preconceito, enfim, cláusulas
que garantam uma melhor qualidade de vida para todos e todas.
Existem três
tipos de Negociação Coletiva: a Negociação Coletiva Tradicional, que trata dos
interesses de todos os trabalhadores(as) da mesma maneira; A Negociação Coletiva
Solidária que, além da Negociação Tradicional, identifica grupos distintos
DENTRO do local de trabalho, e leva as suas necessidades à mesa de negociação.
E a Negociação Coletiva para o Bem Comum que, além de Negociação Tradicional,
ela identifica grupos distintos FORA do local de trabalho, frequentemente onde
os trabalhadores(as) vivem e se relacionam, e leva as necessidades e demandas
destes grupos à mesa de negociação.
Para Gustavo
Garcia, pensar no fortalecimento dos sindicatos e na ampliação de suas bases
representativas, sem considerar os ataques que os trabalhadores(as) vêm
sofrendo dentro e fora dos locais de trabalho, é impossível obter avanços. O momento exige dos sindicatos ações objetivas
de combate aos mais variados ataques que o governo Bolsonaro e as empresas têm
submetido os trabalhadores(as) do país, os quais estão sendo massacrados em
seus direitos políticos, sociais e econômicos. Lamentavelmente, a Pandemia só intensificou
as perdas dos direitos trabalhistas, a precarização do trabalho e a
insegurança. Neste sentido, as Cláusulas Inclusivas são vitais para os
trabalhadores(as) e suas famílias.
UGT - União Geral dos Trabalhadores